© iStock
CAMPO GRANDE, MS (FOLHAPRESS) - Um investigador da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, de 41 anos, foi preso por suspeita de estuprar e ameaçar uma mulher de 28 anos que estava detida no mesmo prédio onde funciona a delegacia da cidade de Sidrolândia.
PUB
Segundo a Corregedoria da Polícia Civil, a vítima disse que em dois dias, em abril, foi retirada da cela e levada para a sala lilás, criada para prestar atendimento de vítimas de violência, e então estuprada.
O corregedor-geral da Polícia Civil do estado, Márcio Rogério Faria Custódio, disse que o investigador nega as acusações e que não poderia dar mais detalhes, pois a apuração tramita em segredo de Justiça.
O advogado do policial, Márcio Sandim, disse à reportagem que não poderia falar sobre o caso pelo mesmo motivo.
O investigador assumiu a função na Polícia Civil de Mato Grosso do Sul em 2014. Atualmente, está detido em cela da 3ª Delegacia de Polícia de Campo Grande. Além da denúncia criminal, enfrenta processo administrativo e foi afastado do cargo por decisão da corregedoria.
O caso foi descoberto depois que outros presos perceberam o que estava acontecendo e relataram os abusos ao delegado, ainda conforme a corregedoria. A defesa do policial disse que não poderia se manifestar porque o caso corre sob segredo de Justiça.
A denúncia foi oferecida pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul à Justiça de Sidrolândia no dia 25 de abril e aceita pela juíza em substituição legal, Silvia Eliane Tedardi da Silva, no dia 27.
O policial está sendo acusado de estupro, importunação sexual e violência psicológica contra mulher em crimes previstos no Código Penal, e tortura, com base na lei 9455/77.
Em entrevista por telefone, a mulher disse que está tentando se reerguer e que relembra do que aconteceu sempre que fecha os olhos. Ela foi solta dia 12 de abril e, dois dias depois, voltou para a cidade natal, no Nordeste, onde mora.
Na denúncia, consta que os estupros aconteceram de 4 a 11 de abril, período em que a mulher ficou detida em cela da Polícia Civil de Sidrolândia.
Ela havia sido flagrada em uma van, com destino a São Paulo, em que foram encontrados pacotes com pasta base e maconha. Na delegacia, ela foi colocada em cela separada dos homens.
No dia 4, ainda segundo a corregedoria, a denúncia é que o investigador estava de plantão e, por volta das 19h, retirou a mulher da cela e a levou para a sala lilás, onde aconteceu o primeiro estupro.
Em seguida, ela foi levada para o quarto usado como alojamento dos servidores e obrigada a fazer sexo oral nele. O policial, ainda conforme a denúncia, mandou que tomasse um banho e a ameaçou, dizendo que a buscaria onde quer que fosse para matá-la e "que iria atrás dela até o inferno".
Também dizia que ela era "sozinha neste estado" e "ninguém sentiria falta se sumisse", ainda conforme relato da vítima à corregedoria.
Enquanto esteve sozinha na cela, era obrigada a se aproximar da grade para que ele a apalpasse. No dia 11, já havia companheira na cela. Novamente foi retirada do local e levada para a sala lilás. Os quatro homens detidos na delegacia e a outra presa estranharam o fato de ela voltar chorando e muito nervosa. Questionada, acabou contando o que se passava aos detentos.
Os presos, então, questionaram o policial, que resolveu comprar o silêncio deles com um aparelho celular, que foi entregue na cela no fim da tarde, ainda segundo trecho da denúncia. Mas, no dia seguinte, os detidos solicitaram a presença do delegado e denunciaram o investigador.
Após o caso ter chegado à corregedoria, câmeras do circuito interno foram examinadas e os policiais encontraram as imagens com os momentos em que a mulher era retirada da cela e até quando o investigador entregou o celular para os presos. No dia 12, ele foi preso.
A mulher foi retirada da delegacia e levada para um hotel em Sidrolândia. No dia seguinte, foi liberada pela Justiça, pegou ônibus e enfrentou viagem de quatro dias até chegar a sua casa. Agora, vai responder ao inquérito e futura denúncia de tráfico de drogas em liberdade, mas teme caso seja condenada.
Ela nega a acusação de tráfico e se diz nervosa.
A advogada da vítima, Isabella Caroline Cavalheiro de Lima, havia questionado a Polícia Civil sobre o motivo de a mulher ter sido mantida na delegacia, mesmo depois da audiência de custódia, quando se define se o preso será liberado ou transferido para um presídio.
No caso da mulher, ela aguardava traslado para estabelecimento penal. O corregedor-geral da Polícia Civil do estado, Márcio Rogério Faria Custódio, disse que o prazo de sete dias é normal para que se encontrem vagas nos presídios.