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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Joe Biden desembarcou nesta sexta (20) na Coreia do Sul em sua primeira viagem à Ásia como presidente dos EUA. O principal objetivo é reforçar os vínculos na área de segurança com aliados regionais, em oposição à China e em meio a um contexto de preocupação com um possível teste nuclear norte-coreano.
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Em uma de suas primeiras declarações após desembarcar, o americano disse que o futuro será escrito no Indo-Pacífico e que agora é hora de EUA e parceiros com ideias semelhantes investirem uns nos outros.
O Indo-Pacífico é um conceito geopolítico que passou a ser mais utilizado recentemente, especialmente por Washington e por seus aliados, mas que não é reconhecido por potências que fazem oposição ao Ocidente, como China e Rússia. O termo designa uma região situada entre a costa do oceano Pacífico e a do Índico, abrangendo países como Japão, Austrália, Indonésia e os próprios EUA.
Após aterrissar na base aérea de Osan, Biden foi à maior fábrica de semicondutores do mundo, da Samsung, empresa sul-coreana com quase 20 mil funcionários nos EUA. Na indústria, em Pyeongtaek, foi recebido por Yoon Suk-yeol, novo presidente da Coreia do Sul, que tem postura pró-Washington.
O americano, no entanto, cometeu uma gafe durante seu discurso ao trocar o nome do homólogo sul-coreano pelo de seu antecessor, Moon Jae-in, que deixou a Presidência no início do mês. "Muito obrigado a todos. E ao presidente Moon...Yoon, obrigado por tudo que você fez até agora", disse Biden.
Chips usados em celulares, tecnologia 5G, computação de alto desempenho e inteligência artificial tornaram-se pontos cruciais da competição entre EUA e China e viraram alvo de preocupações devido a interrupções provocadas pela pandemia de coronavírus na cadeia de suprimentos global.
Durante a visita, Biden disse que as ondas de choque econômicas da Guerra da Ucrânia reforçaram a necessidade de garantir cadeias de suprimentos essenciais, para que a economia e a segurança nacional dos EUA não dependam de países "que não compartilham dos nossos valores". Para alcançar essa autonomia, disse que Washington vai trabalhar "com parceiros próximos" e citou a Coreia do Sul.
Yoon, por sua vez, instou Biden a fornecer incentivos para empresas sul-coreanas investirem nos EUA e vice-versa. "Com a visita de hoje, espero que as relações Coreia-EUA renasçam como uma aliança econômica e de segurança baseada na cooperação de alta tecnologia e na cadeia de suprimentos", afirmou o sul-coreano, lembrando que seu país fabrica quase 70% dos chips utilizados no mundo.
Pelo cronograma, Biden seguirá para Seul nesta sexta e, na segunda (23), irá a Tóquio. A previsão é a de que ele volte a Washington na terça. Além das conversas com os líderes de Coreia do Sul e Japão, ele participará na capital nipônica de uma cúpula do Quad, que inclui Austrália, Índia, Japão e EUA.
Dois membros da equipe de segurança do presidente foram enviados de volta para casa depois que um deles foi detido pela polícia de Seul sob acusação de agredir, bêbado, um cidadão sul-coreano do lado de fora do hotel no qual o presidente americano ficará hospedado. "Os indivíduos serão imediatamente devolvidos a seus postos de trabalho e colocados em licença administrativa. Não houve impacto na viagem", disse o porta-voz do Serviço Secreto, Anthony Guglielmi.
EUA X CHINACombater a influência da China sobre os países asiáticos é um tema-chave para Biden, mas o governo sul-coreano provavelmente adotará um tom cauteloso em público sobre o assunto, já que Pequim é o principal parceiro comercial de Seul. O país que recebe o presidente americano estará entre os membros inaugurais do Quadro Econômico Indo-Pacífico (IPEF, na sigla em inglês), iniciativa que estabelece padrões sobre trabalho, ambiente e cadeias de suprimentos e será anunciada pelo democrata na viagem.
Questionado sobre a oposição de Pequim ao IPEF, Yoon disse que o programa não precisa entrar em conflito com os laços econômicos que mantém com a China. Os EUA, por sua vez, foram mais incisivos: querem, nas palavras do conselheiro para a Segurança Nacional, Jake Sullivan "afirmar a imagem do que poderia ser o mundo se as democracias e as sociedades abertas se unissem para ditar as regras do jogo" ao redor da liderança americana. "Acreditamos que a mensagem será ouvida em Pequim. Mas não é uma mensagem negativa e não está direcionada contra nenhum país."
A relação com Taiwan, porém, está entre os pontos mais delicados do embate entre EUA e China. No início do mês, o diretor da CIA, William Burns, disse que Pequim observa "com atenção" a invasão da Ucrânia, para aprender as lições dos "custos e consequências" de uma eventual tomada da ilha pela força.
Mais recentemente, a China acusou os EUA de "manipulação política" após o Departamento de Estado americano editar o verbete sobre relações com Taiwan em seu site. A pasta removeu um trecho em que mencionava não apoiar a independência da ilha e reconhecer a posição chinesa sobre o território ser parte do país. Taipé é considerada por Pequim uma província rebelde e espaço inviolável da China.
COREIA DO NORTENesta primeira etapa da ida à Ásia, Biden visitará tropas americanas e sul-coreanas, mas não fará a tradicional viagem à fronteira fortificada entre Coreia do Sul e Coreia do Norte, informou a Casa Branca.
O governo dos EUA considera que há uma "real possibilidade" de que Pyongyang anuncie "um novo lançamento de míssil ou um teste nuclear" durante a viagem, "como uma provocação", disse Sullivan.
Segundo o conselheiro, isso poderia significar "novos testes de mísseis, ensaios de míssil de longo alcance ou um teste nuclear". Sullivan negou que um evento do tipo seria visto como um revés diplomático para o presidente e afirmou que a colaboração com os aliados asiáticos só se fortaleceria caso houvesse esse tipo de movimento. "Isto ressaltaria uma das principais mensagens que enviamos durante a viagem, a de que os Estados Unidos estão presentes para seus parceiros e sócios", afirmou.
Ainda de acordo com Sullivan, a mensagem aos aliados dos EUA e à China é que tal provocação durante a visita de Biden "causaria ajustes na maneira como militares americanos estão posicionados na região".A questão da Coreia do Norte deve estar no topo da agenda de Biden com o presidente sul-coreano. Yoon já sinalizou que adotará uma linha mais dura com Pyongyang do que seu antecessor -ele alertou que pode efetuar um ataque preventivo se houver sinal de ação do Norte- e deve pedir a ajuda dos EUA.
O governo americano declarou várias vezes, em vão, estar disposto a dialogar com a Coreia do Norte, apesar de o país ter realizado diversos testes de mísseis desde o início do ano.