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Mas, se a desistência em concorrer ao Palácio do Planalto facilita a estratégia de Garcia de se descolar de Doria, também dá munição a Fernando Haddad (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Márcio França (PSB) em suas tentativas de chegar ao Palácio dos Bandeirantes. Apesar de disputarem contra Garcia, é na figura de Doria que os três centralizam suas críticas.
Parte da explicação está nas pesquisas, segundo o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP. A última, divulgada nesta semana pelo Ipespe, com Doria ainda como candidato ao Planalto, mostrou que seu índice de rejeição chegava a 53%. No mês passado, outro levantamento, feito pelo Datafolha, apontou que o tucano deixou o governo com 23% de aprovação e 36% de reprovação.
"Essa rejeição se tornou um obstáculo à sua ação político-eleitoral", disse Teixeira. "Em 2020, Bruno Covas também o evitou na campanha e agora Garcia elogia a senadora Simone Tebet." Ao Estadão, Garcia afirmou, antes da desistência do ex-governador, que Simone pode representar a terceira via em outubro e se disse diferente do antecessor. "Fui vice do Doria. Um é diferente do outro."
Líder das pesquisas de intenção de voto para o governo estadual, Haddad tem trabalhado para nacionalizar o debate, atribuindo a Doria e Bolsonaro os efeitos da crise no bolso do paulista. "O governo estadual e o governo federal passaram quatro anos brigando e quem pagou o pato foram os paulistas, com mais inflação, desemprego e pobreza", escreveu o petista nas redes sociais.
Outra estratégia da campanha de Haddad é não deixar cair no esquecimento a expressão "Bolsodoria", cunhada pelo próprio tucano. O petista cita dados econômicos para ressaltar que ambos eram aliados nas eleições de 2018.
"Com o mesmo valor que se comprava carne há cinco anos, hoje a gente só leva cenoura. O paulista está pagando o pedágio do Doria e a gasolina do Bolsonaro embutidos na comida", repete Haddad em eventos públicos.
Lealdade
Derrotado pelo tucano em 2018, Márcio França usou as redes sociais para tripudiar sobre a desistência do adversário. "Tenho pena, porque não desejo mal a ninguém. Mas esse é o fim inevitável, com muita solidão e melancolia, de todos os traidores: a traição e o esquecimento", disse o ex-governador, que defende a chapa Lula-Alckmin.
Assim como fez há quatro anos, França foca sua pré-campanha em alguns pilares que diz seguir na vida pública, como a lealdade e a capacidade de dialogar. Ambas características que afirma não enxergar em Doria desde que o tucano passou de aliado a adversário - até 2018, ambos eram do mesmo grupo em São Paulo. A parceria se desfez quando Doria renunciou ao cargo de prefeito para disputar com França o governo sem o aval de Geraldo Alckmin, hoje filiado ao PSB.
Representante do bolsonarismo em São Paulo, o ex-ministro Tarcísio de Freitas é mais discreto nas críticas pessoais, mas não deixa passar oportunidade de relacionar os problemas do Estado à gestão Doria, especialmente na área econômica. Ele repete as críticas de Bolsonaro relacionadas às políticas adotadas pelo tucano na pandemia, por exemplo, e chega a zombar de uma das vitrines tucanas, o Poupatempo.
"Reindustrializar o Estado a partir da inovação e da tecnologia, transformando a crise deixada pela pandemia em oportunidade. O resultado será emprego e desenvolvimento para um povo que não aguenta mais ver o governo celebrar inauguração de Poupatempo. São Paulo merece muito mais", escreveu nas redes.
Com a mesma estratégia usada por Haddad de nacionalizar a campanha e se vincular a Lula, Tarcísio toma para si o que chama de realizações do governo federal - como o novo Marco do Saneamento e a autonomia do Banco Central -, e, em vez de esconder, escancara sua relação com o bolsonarismo. Em entrevista recente ao jornal O Globo, diz que Garcia não faz o mesmo porque Doria foi um "desastre".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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