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(FOLHAPRESS) - Com dificuldade, considerável auxílio do goleiro adversário e três gols de Benzema em 17 minutos, o Real Madrid escapou da eliminação nas oitavas de final da Liga dos Campeões. Era março, e as atuações não inspiravam confiança na possibilidade de brigar de fato pelo título.
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Na semana seguinte, no mesmo Santiago Bernabéu em que fora salvo por seu artilheiro francês, o time branco levou 4 a 0 do rival Barcelona. Então, o presidente Florentino Pérez chamou o técnico Carlo Ancelotti para uma conversa em sua sala.
"Fique tranquilo, presidente. Vamos ganhar LaLiga e a Champions", afirmou o técnico de 62 anos, incluindo em sua promessa a conquista do Campeonato Espanhol.
Em LaLiga, como é chamado o torneio nacional da Espanha, o triunfo foi fácil, com quatro rodadas de antecedência e 13 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o próprio Barcelona. Na Liga dos Campeões, o caminho foi bem acidentado.
Quase eliminado pelo PSG, o Madrid esteve ainda mais perto do adeus contra Chelsea e Manchester City. No confronto decisivo com o Liverpool, precisou de excepcionais defesas de Courtois para vencer por 1 a 0, com uma finalização em 90 minutos.Mas venceu.
Cumprida a promessa, Carlo Ancelotti se tornou o treinador com mais títulos da Liga dos Campeões no currículo: quatro. Campeão com o Milan em 2003 e 2007 e com o Real em 2014 e 2022, deixou para trás Bob Paisley, tri pelo Liverpool em 1977, 1978 e 1981, e Zinédine Zidane, tri no Real em 2016, 2017 e 2018.
Com o título nacional, o italiano já havia obtido uma marca importante, tornando-se o primeiro técnico a triunfar nas cinco principais ligas europeias. Foi campeão italiano (Milan, 2004), inglês (Chelsea, 2010), francês (PSG, 2013), alemão (Bayern, 2017) e espanhol (Real Madrid, 2022).
Em todas essas conquistas, Ancelotti procurou conduzir o grupo à sua maneira tranquila. A gestão do elenco é apontada como uma de suas grandes qualidades por aqueles que já foram por ele comandados. Kaká, seu atleta no Milan, reputa-o como o melhor com quem trabalhou.
A relação criada com os jogadores foi um dos trunfos no caminho para mais uma conquista da Europa. De acordo com o treinador, o clima criado no clube acabou sendo decisivo na campanha de superação, com jogadores como o brasileiro Rodrygo saindo do banco para resolver jogos.
"Temos um ambiente espetacular. Já são muitos anos de carreira, e posso dizer que é difícil criar esse tipo de ambiente, porque às vezes existe ego no vestiário, às vezes não aguentam a pressão", disse.
Não foi o caso. Os atletas do Real Madrid suportaram momentos em que desistir parecia aceitável e mostraram aos rivais que cruzaram o caminho o peso da camisa branca.
"É mais fácil ganhar com o Real do que com qualquer outro time", afirmou Ancelotti, que, claro, teve méritos que vão além de gerir de maneira satisfatória o grupo e contar com uma camisa pesada.
Ex-meio-campista (bicampeão europeu pelo Milan), o italiano soube fazer ajustes táticos e teve apostas certeiras nas viradas improváveis da campanha. Outra aposta certeira foi dar espaço a Vinicius Junior, que jogava bem menos sob comando de Zidane e desabrochou neste ano.
"Dei a confiança de que ele precisava", declarou o técnico, que ganhou em troca 22 gols do jovem brasileiro na temporada. Com o último deles, pôde cumprir a promessa feita a Florentino Pérez.