Indígena guarani-kaiowá morre em confronto com polícia em MS

O embate que terminou na morte de Vito Fernandes, 42, aconteceu em área reivindicada pela comunidade como pertencente à aldeia.

© Reprodução/Agência Brasil

Justiça Mato Grosso do Sul 25/06/22 POR Folhapress

SILVIA FRIASCAMPO GRANDE, MS (FOLHAPRESS) - Um indígena da etnia guarani-kaiowá morreu a tiros e pelo menos outros sete indígenas ficaram feridos na madrugada de sexta-feira (24), em confronto com policiais do Batalhão de Policiamento de Choque em Amambai, em Mato Grosso do Sul, na região de fronteira com Paraguai.

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O embate que terminou na morte de Vito Fernandes, 42, aconteceu em área reivindicada pela comunidade como pertencente à aldeia.

Os indígenas que estão na área relataram ao Conselho Indigenista Missionário que outro jovem morreu no local do conflito, atingido por tiros, e que há mais feridos.

O governo estadual afirmou que três policiais também ficaram feridos e nega que tenha enviado a tropa especial da Polícia Militar para fazer reintegração de posse, já que isso seria competência da Polícia Federal.Segundo informações da liderança indígena João Guato, da Aldeia Amambai, cerca de 30 guarani-kaiowá entraram na noite de quinta-feira na Fazenda Borda da Mata, reivindicada por eles como sendo parte da aldeia Amambai, no território denominado Guapoy.

O produtor rural acionou a PM e, no dia seguinte, a tropa especial foi enviada até o local.

O diretor do Hospital Regional de Amambai, Paulo Catto, disse que dez pessoas foram levadas à unidade com ferimentos de arma letal: sete indígenas, sendo duas adolescentes de 14 e 15 anos, uma mulher e quatro homens.

Três policiais foram feridos com tiros nas pernas e nos pés, sem gravidade. Dos feridos, dois indígenas foram levados para hospital em Ponta Porã.

No fim da noite, o indígena foi levado para o hospital, mas já chegou sem vida, de acordo com Catto.

O assessor jurídico do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Anderson dos Santos, recebeu fotos e informações de outro morto no confronto, também jovem guarani-kaiowá. O relato é que teriam mais vítimas do conflito. Santos diz que aguarda informações sobre a chegada da Polícia Federal na área para tratar do envio de equipe ao local.

Santos questionou a presença da Polícia Militar em ação de retomada de área, sendo que isso é atribuição exclusiva da PF em se tratando de ação envolvendo indígenas.

A área em questão, de acordo com advogado, é reivindicada pelos guarani-kaiowá por ser parte dos 3.220 hectares atribuídos na criação da Aldeia Amambai, ainda na década de 1920. Segundo Santos, a terra foi sendo apropriada no decorrer dos anos.Hoje, cerca de 8.000 indígenas moram no município e estão em área de pouco mais de 2,5 mil hectares.

O missionário Matias Rempel diz que os indígenas resolveram entrar na área depois da morte de Alex Recarte Vasques Lopes, no dia 21 de maio, em Coronel Sapucaia, em Mato Grosso do Sul, na região de fronteira entre Brasil e Paraguai.

O corpo do indígena foi encontrado na estrada e indígenas dizem que ele teria sido morto a tiros por pistoleiros de fazenda próxima.A Comissão Pastoral da Terra incluiu a morte dele no relatório preliminar de assassinatos decorrentes de conflitos no campo. "Era situação semelhante da subtração da reserva existente em Amambai, e houve clamor após o assassinato".

A situação é considerada tensa na área e o governo estadual manteve policiamento especial e intensificado na área após o conflito. Em entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira, o secretário Estadual de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, negou que o Batalhão de Choque estivesse realizando reintegração.

"Não foi uma reintegração, a PM foi acionada para atender ocorrência de crimes graves contra patrimônio e contra a vida, e atendeu, a exemplo do que fazemos em qualquer local", disse Videira. Segundo ele, a área em questão tem titularidade de um produtor rural.

Segundo o secretário, havia informação de que o gerente da propriedade rural havia sido expulso de casa. "O relato que nós temos é que muitos gritavam, espalhavam, criavam clima de terror e depois praticavam roubos". Além disso, justificou que há denúncia de que indígenas paraguaios estariam em conflito com os brasileiros pelo domínio da área para cooptar pessoas para o trabalho no tráfico de drogas.

Nesses casos de danos e crimes contra a vida, conforme Videira, quem atua é a polícia local. "Por ser próxima de aldeia, exige atenção especial e nós optamos em levar a Tropa de Choque". Videira diz que os policiais "foram recebidos a tiros".

Em nota, a PF informou que compete a eles "garantir a integridade de "comunidades indígenas", quando estas se encontrarem em risco".A nota relata ainda que a informação recebida é que a PM teria sido chamada para evitar a invasão de uma fazenda por indígenas. Equipes da delegacia da PF de Ponta Porã estão na região para avaliar a situação.

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