© Agência Brasil / Valter Campanato
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Uma funcionária da Caixa Econômica Federal diz em depoimento à reportagem que foi assediada por Pedro Guimarães, presidente da instituição. Ela afirma ter sido puxada pelo pescoço e ter ficado em choque após o episódio.
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Com receio de sofrer retaliação do comando do banco, a mulher pediu para ter sua identidade preservada -será chamada pelo nome fictício de Roberta neste texto.
Segundo ela, os assédios de Pedro Guimarães aconteciam diante de todos, dentro e fora da instituição. O caso foi revelado pelo portal Metrópoles na terça-feira (28), que relata a existência de uma investigação no Ministério Público Federal.O caso narrado por Roberta ainda não chegou às autoridades. "Não falei antes com medo e vergonha, e agora me sinto culpada porque penso que se tivesse falado antes, outras mulheres não teriam passado pelo que passei, nem por situações piores", afirma.
Roberta conta que, em uma ocasião, estava a sós com o presidente do banco, quando ele perguntou se ela "estava com ele". A funcionária entendeu, à época, que a pergunta era em relação ao governo. Ela teria, então, respondido que sim.
"Aí quando fui sair, ele me puxou pelo pescoço e disse: 'Estou com muita vontade de você'. Saí da sala, em choque e chorando", afirma ela. "Depois, em outro momento, ele já passou a mão pela minha cintura e foi abaixando, mas saí antes que piorasse."Segundo a funcionária, Guimarães também tem hábito de dar "beliscões" em mulheres.
"As pessoas aceitam o abuso com medo da retaliação, do poder dele, isso é, perder a função. Ele te tira de uma posição de destaque, que você estudou e tem qualificação para estar lá, para te colocar numa função muito abaixo. Isso da noite para o dia, sem nenhum aviso", disse.
Guimarães, além de presidente da Caixa, é próximo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Nos bastidores do governo, assessores afirmam que já chegou a pleitear a vaga de vice na chapa do chefe do Executivo.
Com a divulgação das acusações de assédio, integrantes do Palácio do Planalto dizem que sua permanência no governo se tornou insustentável. Aliados do presidente afirmam que o próprio Guimarães deve tomar uma atitude sobre o cargo. Apesar disso, minimizam o impacto que as denúncias têm sobre o projeto de reeleição.
Bolsonaro escolheu Daniella Marques, braço direito do ministro Paulo Guedes (Economia), para presidir a Caixa Econômica Federal no lugar de Pedro Guimarães.
Além de desgaste para o governo, traz danos à campanha de reeleição do presidente. Bolsonaro busca melhorar seu desempenho especialmente entre as mulheres, fatia do eleitorado em que tem alta rejeição.
Nesta terça-feira, diante da repercussão do caso, a Caixa cancelou evento que aconteceria na manhã desta quarta (29) com pronunciamento de Guimarães e uma coletiva de imprensa sobre o Ano Safra 2022/2023. A cerimônia foi realizada nesta quarta, mas apenas com funcionários do banco. Guimarães levou a esposa ao evento fechado e, em seu discurso, mencionou casamento, filhos e ética.
"Agradeço a minha esposa, de uma maneira muito clara. São 20 anos juntos, dois filhos, e uma vida inteira pautada pela ética", afirmou.
De acordo com o portal Metrópoles ao menos cinco funcionárias da Caixa acusam Guimarães de assédio sexual. Em um dos relatos, uma delas diz que uma pessoa ligada ao presidente do banco perguntou o que fariam "se o presidente" quisesse "transar com você?".
Segundo a denunciante, ele estava na piscina e "parecia um boto se exibindo". Além disso, funcionárias recebiam chamados para ir ao quarto de Guimarães, entre outros relatos.
Procurado pela reportagem para comentar as denúncias, o presidente da Caixa não respondeu. Ao Metrópoles, o banco informou desconhecimento acerca das acusações.