© Divulgação / SE Palmeiras
Felipão, agora sem o bigode que o caracterizou desde os tempos de zagueiro do Caxias, chorou ao lembrar daquela conquista, de alguns momentos que ficaram em sua melhora nessas últimas duas décadas, como a gratidão aos profissionais que recuperaram Ronaldo e Rivaldo, machucados, antes mesmo de a competição começar, das dúvidas sobre o time, da escalação de Juninho, das broncas, dos momentos mais delicados da caminhada e, principalmente, dos atletas que compraram sua ideia nas sete partidas vencidas no torneio, duas delas contra a Turquia.
Nunca uma seleção ganhou a Copa do Mundo vencendo sete jogos. Em 1970, no México, o time liderado por Pelé venceu seis partidas. Felipão disse que faria tudo de novo, que nunca pensou, lá atrás no início de sua carreira, que um dia pudesse comandar a seleção brasileira e, mais do que isso, que entraria para a história do futebol como um dos cinco técnico campeões do mundo. Na conversa 20 anos depois, em dois tempos, Felipão sabia o nome de todos os repórteres selecionados.
O único que participou da entrevista e não estava na Copa de 2002 foi Paulo Vinícius Coelho, o PVC, comentarista da SporTV, que escreveu um livro lançado nesta semana sobre a conquista brasileira. 5 Estrelas, a conquista do penta faz uma referência à quantidade de estrelas na camisa do Brasil, mas também aos cinco jogadores de maior destaque daquele time: Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Cafu e Roberto Carlos. "Montei o time com três zagueiros para dar liberdade a Cafu e Roberto Carlos", disse;
O treinador contou que a equipe ganhou cara e corpo na Copa América disputada na Colômbia, um país que estava em convulsão por causa das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), e que alguns jogadores brasileiros se recusaram a embarcar com a delegação por medo. Romário não foi. Nem Mauro Silva. "O Marcos não queria ir também. No aeroporto, disse que não iria. O Carlos Pracidelli, que era o preparados de goleiros do Palmeiras e da seleção, disse para o Marcos que ele era um bundão se não fosse. Que a gente confiava nele. O Marcos repensou e decidiu ir. Ali a seleção nasceu", acredita Felipão.
Depois de 20 anos, Felipão lembra como se fosse ontem cada episódio dos 60 dias que todos passaram juntos, da fase de preparação da seleção antes de chegar à Ásia, passando pelos jogos um em cada cidade, em dois países diferentes, até chegar em Yokohama contra os alemães, que anos mais tarde, em 2014, na Copa no Brasil, dariam o troco eliminando a seleção do mesmo Felipão e ganhando depois na final da Argentina no Maracanã. Aos 73 anos, o treinador esbanja saúde, mas disse que seus dias à beira do gramado estão chegando ao fim. Ele vai mudar o foco da carreira e virar uma espécie de maneger no clube paranaense.
Nessa nova função, terá de administrar muito mais problemas, mas isso não o assusta. Em 2002, ele lembra de um problema dos grandes antes da final: como lidar com Ronaldo, que quatro anos antes, em 1998, na França, teve uma convulsão horas no dia de Brasil x França. A seleção perdeu aquele Mundial para o time de Zidane. "Perguntei para os médicos o que deveria fazer para não correr riscos com Ronaldo no dia da decisão. Eles me disseram que não deveria tocar no assunto, agir como se nada tivesse acontecido, deixar o Ronaldo leve e sem pressão. Foi o que fiz", disse.
A Copa do Mundo de 2002 foi a última que o Brasil ganhou. De lá para cá, só seleções da Europa ficaram com a taça. Em 2006 foi a Itália. Em 2010 deu Espanha. A Alemanha ganhou em 2014. E na última edição, em 2018, os franceses celebraram com champanhe. Vinte anos depois, todos os jogadores daquele Copa, já estão aposentados, curtem em vida o que fizeram para a história.
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