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Qual a relevância do estudo britânico?
É um estudo importante, mas não é inovador. Ele corrobora com uma coisa que a gente já sabia: não há uma correlação entre níveis de serotonina e estar ou não deprimido. Como é que a gente já sabia disso? Porque quando a gente prescreve o antidepressivo não dosamos a serotonina antes. O crivo de indicar ou não é baseado no diagnóstico clínico. A gente também sabe que, quando você trata pacientes com depressão, 30% não respondem aos antidepressivos. Ainda que se busque nas pesquisas científicas o marcador biológico para depressão, esse marcador ainda não existe. Isso quer dizer que a doença mental tem uma origem provavelmente multifatorial e complexa. Enxergar a falta de serotonina como causa da depressão é um reducionismo.
Por que a serotonina acabou no centro das atenções quando se fala em depressão?
As primeiras medicações que se percebeu, pela observação, que tinham efeito antidepressivo eram medicações que se ligavam a receptores da serotonina, noradrenalina e dopamina. E muitos pacientes melhoravam (com essas primeiras medicações). Então, não adianta também demonizar a teoria do desbalanço bioquímico simplesmente porque a serotonina não estabeleceu correlação de causa e efeito.
Uma das sugestões do estudo é que profissionais não mais informem a pacientes que a depressão está relacionada a baixas concentrações de serotonina. Como o senhor analisa a questão?
Essa informação nunca deveria ter sido dada porque é uma simplificação equivocada. Eu nunca informei um paciente meu que a depressão dele era causada por níveis baixos de serotonina. Ainda que eu saiba que muita gente faz isso. A informação correta é que a gente não sabe qual é a origem da depressão e temos algumas teorias, dentre elas essa, mas que provavelmente não explicam tudo nem todos os casos.
Devemos parar de prescrever antidepressivos?
De forma nenhuma. A gente precisa conhecer melhor o mecanismo de ação dos antidepressivos, isso depende de investimento em pesquisa. Precisamos de estudos de longo prazo para avaliar principalmente a eficácia de antidepressivos, porque, na medicina, normalmente temos estudos só de curto prazo. A introdução dos antidepressivos e dos psicofármacos no tratamento das doenças mentais é um divisor de águas na saúde mental da população. Só conseguimos desinstitucionalizar casos graves e fechar os manicômios na reforma psiquiátrica por causa de antidepressivos e eletroconvulsoterapia. Se começarmos a demonizar os antidepressivos, vamos ter uma piora da atenção à saúde mental.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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