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GUILHERME GENESTRETISÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dos mais aguerridos nomes da esquerda no mundo da cultura, Paulo Betti diz que assinou a "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de direito" assim que topou com o documento, compartilhado entre o grupo de artistas do qual faz parte.
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"Foi logo de cara, foi imediatamente", afirma. "Acho oportuno, porque vai coincidir com as manifestações de rua."O ator, historicamente ligado ao PT, diz que tem simpatia pela "grande costura" que representa o manifesto, iniciativa que partiu de um grupo de ex-alunos da Faculdade de Direito da USP e que reúne um amplo espectro de ideologias. "Gosto dessa possibilidade de um grande consenso, dessa perspectiva de todo mundo estar atento para defender a nossa democracia."
Atenção que, no caso de Betti, se dirige a um aspecto que ele diz ser pouco mencionado por aí, "para além dessas falas absurdas" do presidente Jair Bolsonaro e do armamento da população, "que acontece sem qualquer controle".
"Não estão dando a devida proporção a essas motociatas, que, para mim, são uma preparação para um golpe. Em questão de minutos, com poucos disparos de WhatsApp, esses malucos conseguem ser articulados no Brasil inteiro. E se cada um carregar outro maluco armado na garupa, imagina a confusão. Havendo um caos, isso pode ser pretexto para eles defenderem a intervenção militar."
Paulo Betti não costuma ser alheio a discutir política. "O [ator e diretor] Antônio Abujamra costumava dizer para nunca duvidarem da capacidade de união dos artistas. E não é só porque estamos sendo atacados por uma perseguição ideológica, é por termos mesmo um pensamento consensual de que arte, de que cultura são importantes. É tradicional da nossa categoria se manifestar."
O que não significa que todas as suas manifestações, em particular, tenham sido bem digeridas. Como em 2006, quando o ex-presidente Lula disputava a reeleição em meio a denúncias de corrupção afloradas pelo escândalo do mensalão. Naquele ano, o ator defendeu o Partido dos Trabalhadores e disse que não era possível fazer política "sem pôr a mão na merda".
"Aquilo foi um deslize verbal e foi descontextualizado. Foi um mal-entendido", diz hoje, 16 anos depois. "Eu estava me referindo à obra 'As Mãos Sujas', de Sartre", completa, citando a peça teatral que debate o dilema entre a utopia e o pragmatismo político. Ou, em outras palavras, "entre a morte pela fome e o pedágio". "Se o preço para se tirar o Brasil da miséria era pagar uma mesada, eu conseguia deglutir a ideia da mesada."
Betti recebeu uma torrente de críticas, mas diz que houve quem o compreendesse. O escritor Raduan Nassar e a intelectual feminista Rose Marie Muraro, afirma, foram alguns deles e elogiaram o texto que ele publicou nesta Folha comentando a própria fala. "Talvez se eu fosse mais neutro, eu teria chances de fazer mais publis", brinca hoje. "Mas não tem jeito."
É justamente por esse pragmatismo que o ator afirma que "é ótimo" que Lula conte com Geraldo Alckmin como candidato a vice em sua chapa -naquele mesmo 2006, vale dizer, o ex-governador paulista foi o grande opositor do petista no pleito e martelou o escândalo do mensalão na campanha.
"Não podemos dar moleza. Não sou filiado ao PT, mas fui um dos primeiros a dizer que era ótimo contar com o Alckmin, que é um cara civilizado, tranquilo, bom de conversa. Achei uma sacada de mestre do Lula, mostra um conhecimento profundo que ele tem de política."Política que, por sinal, não dá descanso. O ator agora se prepara para o lançamento do próximo filme que protagoniza, "O Debate", estreia na direção do ator Caio Blat a partir de um roteiro de Guel Arraes e Jorge Furtado, marcado para chegar aos cinemas no próximo dia 25.
No enredo, Paulo Betti e Débora Bloch vivem um ex-casal de jornalistas que precisam juntos editar o debate televisivo entre dois candidatos a presidente em 2022.
Ainda não está claro se a trama menciona os nomes de Lula e Bolsonaro, e o ator tampouco desfaz o mistério. "Melhor falarmos sobre o filme futuramente."