Vendas do Brasil a vizinhos na América do Sul disparam na retomada pós-pandemia

O saldo comercial do Brasil com os países vizinhos na América do Sul saltou 64,7% em 2021, para US$ 7,3 bilhões, e deverá ter nova alta este ano.

©  Marcos Santos/USP Imagens

Economia Comércio 01/08/22 POR Estadao Conteudo

Com a recuperação da economia global após ser atingida pela covid-19, o saldo comercial do Brasil com os países vizinhos na América do Sul saltou 64,7% em 2021, para US$ 7,3 bilhões, e deverá ter nova alta este ano.

No primeiro semestre, a balança com os vizinhos sul-americanos teve superávit de US$ 6,2 bilhões, próximo do valor de todo o ano passado, mostra levantamento da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) com base nos dados do governo federal. A expectativa é de alta do superávit este ano.

No ano passado, o Brasil exportou US$ 33,9 bilhões para os países sul-americanos, e a AEB projeta que as vendas poderão chegar a US$ 41 bilhões em 2022. Se confirmado o valor, representará crescimento de 21% ante 2021. No primeiro semestre, foram US$ 20,3 bilhões.

O presidente executivo da AEB, José Augusto de Castro, vê o crescimento do superávit comercial com os vizinhos como uma oportunidade para a indústria nacional. Essa questão será um dos temas de debate da 41.ª edição do Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), organizado pela entidade e marcado para novembro, em formato virtual.

"O Brasil importa 85% da indústria de transformação. Ao contrário, nas exportações, o principal produto são 'commodities', mas o mercado da América do Sul comporta outros produtos", afirma Castro.

As exportações para a América do Sul são formadas, principalmente, por manufaturados - automóveis, máquinas e equipamentos e alimentos. As importações se concentram nas matérias-primas - trigo da Argentina, cobre do Chile, eletricidade do Paraguai (por causa da usina hidrelétrica binacional de Itaipu) e gás natural da Bolívia.

Recessão global

Conforme Castro, o superávit tende a ser maior do que em 2021 porque é provável que haja alguma estabilidade nas importações, diante da esperada acomodação, ou até redução, nos preços das matérias-primas, como trigo e cobre, por causa da expectativa de recessão global.

Até agora, a conjuntura da economia global em meio aos desequilíbrios provocados pela pandemia e reforçados pela guerra na Ucrânia foi favorável para as trocas comerciais com a América do Sul. Assim como o Brasil, os países vizinhos são, primordialmente, exportadores de matérias-primas, cujos preços saltaram desde meados de 2020, apesar da volatilidade. Com mais divisas por causa dos bons preços de exportação, esses países vizinhos puderam comprar mais manufaturados exportados pelo Brasil.

Ao mesmo tempo, os gargalos logísticos do comércio internacional elevaram os custos de frete em todo mundo. Com isso, a proximidade geográfica ofereceu competitividade à indústria brasileira como fornecedora de manufaturados para os mercados sul-americanos. "Pela proximidade geográfica, pela logística ser mais barata, pelo fato de termos disponibilidade de exportar via rodoviária e, em alguns casos, ferroviária, para alguns países, o Brasil pode estar mais presente na América do Sul", diz Castro.

A conjuntura favorável não pode ser vista como garantida, pondera o presidente da AEB. "Não podemos nos esquecer de que os outros países continuam se movimentando", afirma Castro. "A China já ultrapassou o Brasil como principal fornecedor para a Argentina. No Chile, a mesma coisa. A China está muito mais presente no Chile do que o Brasil, e esse sempre foi um mercado cativo do Brasil", afirma.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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