Com surto de varíola dos macacos, Saúde recomenda a grávidas uso de máscaras

O ministério aponta que as gestantes estão no grupo de risco para varíola dos macacos, assim como imunossuprimidos e crianças menores de oito anos.

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Brasil SAÚDE-VARIOLA 02/08/22 POR Folhapress

(FOLHAPRESS) - Uma nota técnica elaborada pelo Ministério da Saúde recomenda que grávidas, puérperas e lactantes mantenham o uso de máscaras devido ao surto de varíola dos macacos, se afastem de pessoas com sintomas da doença e usem preservativo em todas as relações sexuais.

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O documento ressalta "o rápido aumento do número de casos de MPX [monkeypox, nome em inglês da doença] no Brasil e no mundo" associado "à transmissão por contato direto e, eventualmente, por via aérea".

"As gestantes apresentam quadro clínico com características semelhantes às não gestantes, mas podem apresentar gravidade maior, sendo consideradas grupo de risco para evolução desfavorável", diz a nota técnica.

O ministério aponta que as gestantes estão no grupo de risco para varíola dos macacos, assim como imunossuprimidos e crianças menores de oito anos. Por isso, segundo o documento, os laboratórios devem priorizar o diagnóstico dessas pessoas, "visto que complicações oculares, encefalite e óbito são mais frequentes".

O Ministério da Saúde também orienta que as gestantes com quadro moderado ou grave de varíola dos macacos sejam hospitalizadas, "levando em consideração maior risco".

Já as grávidas que estão com sinais da doença, mas tiveram o diagnóstico para monkeypox descartado, devem ficar em isolamento domiciliar por 21 dias, sem visitas, e refazer o exame, caso os sintomas não desapareçam.

A nota técnica é assinada pelo secretário de Atenção Primária à Saúde, Raphael Câmara, e pela diretora do Departamento de Saúde Materno Infantil, Lana de Lourdes Aguiar Lima.

O Ministério da Saúde chegou a convocar a imprensa nesta segunda-feira (1º) para apresentar as recomendações, mas voltou atrás pouco depois, sem explicar os motivos. A nota técnica ainda não foi divulgada pela pasta.

A reportagem apurou que o documento não foi discutido no comitê de emergência instalado na última sexta (29) -formado por representantes do ministério, das secretarias estaduais e municipais de saúde, da Opas, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas.

A infectologista Raquel Stucchi, professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma que as chances de infecção de varíola dos macacos por vias respiratórias são baixas comparadas a outras doenças, como é o caso da Covid-19. Mesmo assim, ela diz que ainda faltam informações para mensurar o impacto que essa forma de transmissão representa nos casos do surto atual.

Segundo Stucchi, mulheres grávidas -juntamente com imunossuprimidos e crianças- fazem parte dos grupos de maior risco para o desenvolvimento de quadros graves da doença. "Portanto, nas pessoas que têm risco de adoecimento mais grave, os cuidados em relação a bloquear a transmissão devem ser intensificados nesse momento."

Uma dessas medidas é justamente a utilização de máscaras. "O uso de máscaras, pensando no potencial papel respiratória, passa a ser interessante. Não só para gestante, mas para crianças e imunossuprimidos também", afirma. Ela cita que ambientes fechados, aglomerados e com contato mais próximo entre as pessoas são aqueles com maior risco para esse grupo.

A nota do Ministério da Saúde afirma ainda que "não existem dados suficientes sobre o uso do imunizante em grávidas ou em mulheres amamentando" e, portanto, nenhuma vacina contra a monkeypox está aprovada para uso na gravidez. Também não há, segundo o ministério, "protocolo de tratamento específico com antivirais no ciclo gravídico-puerperal".

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tentou evitar o assunto em um evento sobre aleitamento materno, também nesta segunda, e disse que as mães não estão preocupadas com a doença.

"O tema [do evento] é aleitamento materno. As mães brasileiras não estão muito preocupadas com monkeypox. Estão preocupadas em alimentar os seus filhos. Então vamos falar sobre aleitamento materno. Pena que alguns assuntos não interessam as pessoas", disse.

Mais cedo, o ministro anunciou pelas redes sociais que o Brasil vai receber o antiviral tecovirimat para casos graves de varíola dos macacos da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde). À reportagem, Queiroga afirmou que, em um primeiro momento, a doação será suficiente para apenas 50 pacientes.

No evento desta segunda, o ministro afirmou que, assim como outros países, o Brasil enfrenta dificuldades para comprar antivirais e vacinas contra a varíola dos macacos e disse que gostaria de levar "uma palavra de tranquilidade para a população brasileira".

Na sexta-feira , o Ministério da Saúde anunciou a compra de 50 mil doses de vacina contra a doença. A previsão é de que cerca de 20 mil doses cheguem ao país em setembro e o restante em outubro. A importação também será feita via Opas.

"A questão da vacina: há carência de vacina no mundo inteiro. Os EUA conseguiram 800 mil doses. Os EUA são o país mais rico do mundo. País que tem recursos, tem toda a estrutura. A Europa, 100 mil. E aqui, para a região da América Latina, 100 mil. E essas vacinas serão adquiridas via o mecanismo rotatório da Opas", disse.

"Outros medicamentos antivirais cujo uso é off label, eles [Opas] também não têm disponibilidade grande. Ontem eu conversei com a Socorro [Gross, representante da Opas no Brasil]. Nós vamos conseguir uma quantidade inicial. E, posteriormente, o departamento de assistência farmacêutica vai buscar medicamentos para atender aquelas situações mas graves."

O anúncio do antiviral vem três dias após a confirmação da primeira morte pela doença no Brasil -também a primeira fora do continente africano no surto atual. Segundo o boletim divulgado neste domingo (31), o Brasil tem 1.369 casos confirmados de varíola dos macacos em 16 estados e no Distrito Federal.

O ministério afirma que o objetivo é vacinar os profissionais de saúde que lidam diretamente com amostras biológicas -como aqueles que trabalham em laboratórios- além de pessoas que tiveram contato com os infectados.

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