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LUIZ PAULO SOUZARIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Um estudo sueco publicado no último mês mostrou que 33,8% dos indivíduos entrevistados estavam insatisfeitos com a aparência genital. Uma melhor autopercepção estaria relacionada a um maior tamanho do pênis e a um menor tamanhos dos lábios menores vaginais.
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A pesquisa também mostrou que 11,3% dos homens e 13,7% das mulheres consideravam fazer algum tipo de cirurgia estética na região genital. Segundo Tatiana Turini, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o número desses procedimentos vem aumentando nos últimos anos.
A pesquisa, que contou com a participação de 3.503 homens e mulheres suecos, foi feita através de um questionário online e publicada na revista científica The Journal of Sexual Medicine.
Para Christiane Ribeiro, médica psiquiatra e membro da SBP (Sociedade Brasileira de Psiquiatria), esse aumento de cirurgias estéticas reflete uma maior insatisfação da população com o próprio corpo e a uma menor autoestima. Ela acredita que esse processo está diretamente relacionado a um aumento da pressão popular por um corpo perfeito e a um maior uso de redes sociais.
Entre as mulheres, a cirurgia de redução dos lábios menores é a mais buscada. Segundo a cirurgiã, o desconforto com a aparência da vulva é a principal queixa, mas algumas pacientes desejam fazer o procedimento porque sentem dor ao usar algumas roupas e ao fazer exercícios físicos.
Dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética apontam que, durante o ano de 2020, mais de 142 mil pessoas passaram pelo procedimento -20 mil apenas no Brasil. Entre as mulheres que já falaram abertamente sobre ter feito a cirurgia estão a advogada Deolane Bezerra, a influenciadora digital Geisy Arruda e a ex-BBB Letícia Santiago.
Outros procedimentos como clareamento, redução de gordura na região púbica e aplicação de botox nos lábios maiores também são comuns. De acordo com a médica, o desconforto estético, mesmo que não associado a uma disfunção anatômica, faz com que essas mulheres não se sintam confortáveis com seus parceiros e parceiras, o que pode dificultar o prazer e tornar a experiencia sexual dolorosa.
Segundo a psiquiatra, os insatisfeitos com a aparência das suas genitálias geralmente não reclamam com seus parceiros, mas supervalorizam uma característica física que consideram negativa -o que, segundo a especialista, pode ser um sinal de Transtorno Dismórfico Corporal, condição em que o paciente sente-se altamente insatisfeito com próprio corpo.
Essa dificuldade de aceitação pode dificultar a vida social e levar a uma indisponibilidade para relacionamentos afetivos e atividades sexuais.
É o caso de Daniel (nome fictício, a pedido), 23. Ele disse se sentir muito insatisfeito com o tamanho do seu pênis e relata que isso faz com que ele evite relacionamentos. Segundo ele, essa insatisfação também causa muita insegurança em encontros sexuais, principalmente com mulheres -ele é bissexual.
De acordo com Daniel, o tamanho do seu pênis nunca foi um incômodo para seus parceiros e parceiras, e isso nunca atrapalhou o sexo, mas, mesmo assim, ele sempre se questiona se os parceiros ficaram mesmo satisfeitos com a experiência.
Essa insegurança começou aos 13 anos, quando ele começou a ter acesso a pornografia. Segundo o estudo sueco, 93,6% dos homens e 57,5% das mulheres consumiam material com sexo explícito, mas, nessa população, esse consumo não foi associado a uma pior autoimagem genital.
Ainda de acordo com o estudo, uma maior insatisfação com a aparência estava relacionada a uma menor atividade sexual e exposição do corpo -como utilizar banheiros públicos e roupas que possam marcar a genitália.
Daniel disse que, por causa da sua insegurança, já sentiu muito desconforto para usar roupas como sungas, mas que depois que começou a fazer psicoterapia essa preocupação diminuiu bastante.Apesar de a insegurança ter melhorado nos últimos anos, Daniel conta que, às vezes, ainda pensa em fazer procedimentos que possam aumentar o tamanho do pênis.
A Sociedade Brasileira de Urologia afirma que contraindica esta prática e reforça que não há estudos ou dados científicos que confiram credibilidade, eficácia ou segurança de qualquer técnica de aumento das dimensões penianas.
Para Darlane Andrade, psicóloga e professora do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo da UFBA (Universidade Federal da Bahia), as intervenções estéticas podem mesmo melhorar a aceitação do próprio corpo.
Entretanto, ela considera que a psicoterapia é essencial para que o indivíduo, em especial as mulheres, entenda o impacto das pressões sociais sobre a maneira como ele se enxerga, e possa tomar a decisão sobre fazer ou não a intervenção de maneira mais consciente.Os organizadores do estudo concordam que a psicoterapia pode ser uma alternativa aos procedimentos estéticos para melhorar a autoimagem.