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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a chamar o manifesto pela democracia lido nesta quinta-feira (11) de "cartinha" e retomou os ataques ao ex-presidente Lula (PT) e aos demais signatários do texto.
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O mandatário disse que a carta não servirá de "passaporte de bom moço" e criticou artistas que assinaram o manifesto.
A estratégia do entorno do presidente para fazer frente às adesões aos textos pró-democracia é dobrar a aposta nos atos bolsonaristas previstos para o 7 de Setembro.
A expectativa é conseguir no Dia da Independência uma forte adesão de apoiadores nas ruas e, dessa forma, mostrar força por parte do mandatário. Bolsonaro e aliados intensificaram na última semana as convocações para as manifestações do feriado.
"A Carta da Democracia é a Constituição. Qualquer outra é redundante", disse o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) ao jornal Folha de S.Paulo.
Aliados do presidente sabem que o saldo do dia é negativo para o mandatário, mas a avaliação é a de que os eventos desta quinta não têm efeito eleitoral. Eles dizem que os atos dialogam em boa parte com um público que já não votaria em Bolsonaro e que deve apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Dão como exemplo a presença de movimentos sociais e entidades sindicais nas manifestações desta quinta. Um dos principais argumentos para tachar a carta pró-democracia de movimento de esquerda é o fato de o próprio Lula ter assinado o documento.
Ele não foi o único presidenciável ou ex-presidente a assinar. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) e Ciro Gomes (PDT) também endossaram o texto.
Em sua live semanal nas redes sociais, Bolsonaro lembrou que a CUT (Central Única dos Trabalhadores), aliada do PT subscreveu o texto. O presidente disse que a entidade "está com saudade" do imposto sindical obrigatório. Sobre o apoio de artistas ao ato, afirmou eles estão interessados no retorno da Lei Rouanet como funcionava antes de seu governo.
"Não tenho prova disso, mas com toda certeza acertaram com o cara deles a volta Lei Rouanet da forma que sempre existiu. No nosso governo, botamos freio nisso. Até 2018 esses figurões que viviam elogiando o governo da época podiam pegar até R$ 10 milhões por ano."
Com um exemplar da Constituição na mão, o mandatário afirmou ser contraditório os petistas subscreverem a carta deste ano enquanto se negaram a assinar a Carta de 1988, que até hoje baliza as leis do país e consolidou a democracia no Brasil.
"Já que o símbolo máximo do PT assinou a carta juntamente com sua jovem esposa, eu pergunto: o PT assinou a Carta de 88? O PT assinou a Constituição de 88? E o pessoal faz onda agora sobre carta à democracia para tentar atingir a mim", declarou.
A afirmação de Bolsonaro, porém, é distorcida. Na Assembleia Nacional Constituinte, o PT votou contra a redação final da Constituição, mas, depois de aprovada, foi um dos signatários da promulgação do texto.
Bolsonaro também questionou onde estavam os autores da carta pela democracia deste ano na época da pandemia da Covid-19 e disse que decretos de governadores e prefeitos feriram diversos dispositivos constitucionais.
Esta é uma declaração recorrente do presidente. No entanto, ele ignorou o fato de que o consenso científico do mundo todo afirmava na época que a redução de circulação de pessoas nas ruas era a única solução para conter o avanço do novo coronavírus, que já matou mais de 680 mil brasileiros.
Na live transmitida nas redes sociais, o chefe do Executivo também afirmou que o que interessa é o respeito à Constituição, e não assinar carta pela democracia.
"Alguém discorda que essa daqui é a melhor carta à democracia, alguém tem dúvida? Acha que outro pedaço de papel qualquer substitui isso aqui?", disse.
Ele criticou a carta ao povo brasileiro publicada por Lula em 2002, quando o petista era candidato a presidente e divulgou um texto com o objetivo de reduzir a rejeição junto ao empresariado."Foi uma carta à corrupção brasileira, foi o que PT fez quando assumiu. Vão fazer cartinha, servir de passaporte que é bom moço, não funciona, tem que dar exemplo aqui", afirmou.
A elaboração da carta pela democracia lida nesta quinta surgiu após Bolsonaro fazer seu maior ataque ao sistema eletrônico de votação e à Justiça Eleitoral, ao ter convidado embaixadores do mundo todo para fazer uma apresentação com acusações infundadas de fraude nas urnas eletrônicas.
Diversos artistas, intelectuais, atores do setor econômico e da sociedade em geral assinaram o manifesto, que já tem mais de 990 mil signatários.
Nesta quinta, o manifesto foi lido em um evento na Faculdade de Direito da USP, com discursos contra o autoritarismo e ameaças do mandatário às instituições.
Além da carta organizada por integrantes da USP, também teve repercussão a manifestação em defesa da democracia assinada por entidades como a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Diante do isolamento pelo movimento que envolveu diversos atores da sociedade civil, Bolsonaro se convidou para ir à Febraban nesta semana.
Pelo menos três interlocutores de Bolsonaro, das áreas econômica e política do governo, procuraram dirigentes da alta cúpula da federação para marcar um encontro dele com os banqueiros. A ida do mandatário à entidade ocorreu na última segunda-feira (8).
Na ocasião, apesar de ter criticado o sistema eleitoral, não ofendeu nem agrediu os convidados, e dispensou o uso de adjetivos como "mamíferos".
Em publicação nas redes sociais após a live, o presidente chamou o ato na USP de "micareta do PT".
Além disso, fez referência à relação do partido com ditaduras da América do Sul e disse que "assinar uma carta pela democracia enquanto apoia regimes que a desprezam e atacam os seus pilares tem a mesma relevância que uma carta contra as drogas assinada pelo Zé Pequeno [personagem do filme "Cidade de Deus"], ou um manifesto em defesa das mulheres assinado pelo Maníaco do Parque".
Na mesma publicação, o mandatário afirmou que, "para efeitos legais", o manifesto "vale menos que papel higiênico"."Das duas uma, ou a esquerda repentinamente se arrependeu de suas ameaças crônicas à nossa democracia, como os esquemas de corrupção, os ataques à propriedade privada e a promoção de atos violentos, ou trata-se de uma jogada eleitoral desesperada. O golpe tá aí, cai quem quer", escreveu.