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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - As Nações Unidas indicaram o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz para chefiar uma missão internacional que investigará uma explosão no centro de detenção de Olenivka, no sudeste da Ucrânia, que matou dezenas de prisioneiros de guerra.
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O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez o anúncio nesta quinta-feira (18) em uma conversa com jornalistas em Lviv, no oeste do país. O diplomata viajou à Ucrânia, onde se encontrou com o presidente Volodimir Zelenski e com o líder da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.
A missão chefiada por Santos Cruz será instalada a pedido dos governos da Rússia e da Ucrânia. Desde o ataque, no final de julho, os dois países vêm trocando acusações mútuas sobre quem ordenou e realizou a operação.
À reportagem o general disse que aceitou o convite de Guterres. "É uma honra ser convidado para uma tarefa tão sensível e complexa." Ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro (PL), Santos Cruz é conhecido na ONU por ter atuado em duas missões de paz lideradas pela organização: no Haiti, entre 2007 e 2009, e na República Democrática do Congo, entre 2013 e 2015.
Depois que deixou a gestão federal, ele adotou um tom crítico ao presidente. No final do ano passado se filiou ao Podemos e chegou a ser cogitado como candidato à Presidência -o que acabou não se concretizando.
De acordo com comunicado reproduzido pela agência de notícias das Nações Unidas, Guterres destacou em seu anúncio em Lviv que o militar brasileiro é "um oficial respeitado com mais de 40 anos de experiência em segurança pública e militar, incluindo o comando de missões de paz".
Olenivka é uma cidade controlada por separatistas pró-russos na província de Donetsk, na região do Donbass, no leste ucraniano, um dos principais focos dos combates hoje. O centro de detenção de prisioneiros de guerra, onde permaneciam prisioneiros ucranianos, foi alvo de ataques em 29 de julho.
O Ministério da Defesa russo afirmou que uma operação de Kiev com sistemas Himars, fabricados nos EUA, atingiram o local, matando ao menos 40 prisioneiros e deixando outros 75 feridos durante a madrugada. A pasta alega que a prisão abrigava, entre outros, membros do Batalhão Azov, grupo neonazista incorporado ao Exército da Ucrânia.
"Trata-se de uma provocação que visa a assustar os soldados e a dissuadi-los de se render", disse o órgão, em nota, na ocasião. Canais estatais russos divulgaram imagens de edifícios incendiados, mas a informação não pôde ser confirmada de maneira independente.
Kiev negou a ação e culpou os russos pelo bombardeio, dizendo que forças de Moscou atacaram a prisão em uma tentativa de acusar a Ucrânia de cometer crimes de guerra e esconder a tortura e as execuções de prisioneiros de guerra que teria praticado.
O chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, usou o episódio para pedir ajuda internacional. "Apelo a todos para que condenem essa brutal violação do direito internacional humanitário e reconheçam a Rússia como um Estado terrorista", escreveu no Twitter.
A missão de Santos Cruz, que ainda não tem data para começar, deve apurar o que realmente aconteceu e terá os termos de funcionamento e a composição da equipe compartilhados com Moscou e Kiev, segundo a ONU.
Guterres defendeu que a investigação seja "livre para encontrar os fatos" e que a missão tenha "poder para recolher e analisar a informação necessária, com acesso irrestrito a pessoas e evidências, sem interferência de nenhum lugar".
O secretário-geral da ONU afirmou que o que aconteceu no centro de detenção foi inaceitável, citando que todos os prisioneiros de guerra têm de ser protegidos sob a Lei Humanitária Internacional.