Depressão pós-parto é mais comum em mulheres com doença psiquiátrica na família

A descoberta pode facilitar o diagnóstico e auxiliar o entendimento das desordens psiquiátricas

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Lifestyle Estudo 26/08/22 POR Folhapress

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Um estudo publicado neste mês mostrou que mulheres com histórico de doenças psiquiátricas na família têm quase o dobro de chances de desenvolverem depressão pós-parto do que outras mães. A descoberta pode facilitar o diagnóstico e auxiliar o entendimento das desordens psiquiátricas.

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O trabalho é resultado de uma meta-análise, um tipo de estudo que reúne dados de diferentes estudos científicos para fazer uma investigação mais robusta, e foi publicado na revista JAMA Psychiatry. Foram revisadas 26 publicações com informações de 100.877 mulheres de 18 países.

Para Leandro Valiengo, médico do instituto de psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), a análise ajuda a confirmar que quadros de transtorno mental na família podem ser um fator de risco para o desenvolvimento de outras desordens psiquiátricas.

Essas doenças são causadas por fatores genéticos e ambientais, mas, segundo o especialista, já se sabe que pessoas com quadros como esquizofrenia e transtorno de bipolaridade têm uma maior chance de terem filhos com as mesmas condições.

Ainda de acordo com o médico, o estudo também pode ajudar no diagnóstico precoce e na prevenção. Segundo os autores, essa descoberta pode facilitar a triagem, já que tanto os sintomas da doença como o histórico familiar podem ser avaliados através de um questionário respondido pela própria mulher.

A depressão pós-parto tem os mesmos sintomas da depressão comum. Mulheres com esse quadro sentem desesperança, tristeza profunda, dificuldade para cuidar do bebê, culpa em relação à maternidade, irritabilidade e perda de energia.

Segundo Manuela Moura, Psicóloga na UFBA (Universidade Federal da Bahia) e especialista em terapia de casal e de família, "mães com depressão pós-parto podem ser muito eficazes na execução do cuidado com a saúde do bebê, porém fazem isso de maneira dissociada do afeto". De acordo com ela, isso pode dificultar o diagnóstico.

Moura alerta que a depressão não deve ser confundida com o quadro conhecido como "baby blues". Essa condição pode atingir até 80% das mulheres e é caracterizada por mudanças de humor e crises de choro. Os sintomas duram até duas semanas após o parto.

Já a depressão, que atinge cerca de 15 a cada 100 gestantes ou puérperas, pode começar até 4 semanas após a gestação e costuma durar mais tempo. Além disso, nesse caso, a tristeza é contínua e a mãe pode ter dificuldade de se conectar com o filho.

As mulheres devem procurar ajuda caso percebam qualquer sintoma, mas devem ficar mais atentas quando eles durarem mais de duas semanas, tiverem muita dificuldade para realizar atividades relacionadas à rotina de cuidados da criança ou sentirem qualquer vontade de machucar a si mesma ou ao bebê.

As causas do transtorno não são bem conhecidas. Após o parto há uma diminuição dos hormônios sexuais, o que pode ser um gatilho. A queda dos hormônios da tireoide também pode influenciar.

O artigo científico não investiga as causas da depressão pós-parto, mas os autores sugerem que as desordens psiquiátricas podem estar relacionadas a uma diminuição da rede de suporte, o que é um fator de risco. Segundo eles, "crescer num ambiente em que os pais estejam sofrendo por transtornos mentais, potencialmente influencia no suporte social dado por eles durante a maternidade".

A psicóloga afirma que a falta de cuidadores próximos durante a infância e ao longo da vida, além de não ter recebido afeto de maneira adequada podem ser fatores determinantes. Gravidezes indesejadas em ocorrência de violência sexual e relacionamentos conjugais conturbados também podem influenciar o desenvolvimento da depressão pós-parto.

O tratamento é feito com psicoterapia e antidepressivos. Mulheres com quadros graves também podem se beneficiar de terapias adicionais, como a ECT (eletroconvulsoterapia).

Em 2019 o FDA (agência americana reguladora de medicamentos e alimentos) aprovou o uso da brexanolona, um medicamento específico para a depressão pós-parto que simula os efeitos dos hormônios femininos e ajuda a diminuir os sintomas. Ele ainda não está disponível no Brasil.

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