© iStock
Nesta segunda-feira, completaram-se dez anos da Lei de Cotas no País, aprovada em 2012, que uniformizou políticas de ações afirmativas que já existiam em universidades federais e ainda abriu caminho para ações afirmativas em instituições públicas. O debate sobre inclusão no ensino superior foi intenso no Brasil desde o início dos anos 2000. Hoje, as avaliações mostram que os cotistas têm desempenho tão bom quanto os que ingressam pelo sistema universal. O maior gargalo é a permanência, já que - mesmo em cursos gratuitos - muitos não têm recursos para materiais didáticos, moradia, alimentação e transporte.
De acordo com a reitoria, já há a confirmação de 277 bolsas para o USP Diversa, como será chamado o programa. Serão 200 financiadas pelo Santander, 52 pelo Itaú Unibanco, 25 pelo Deutsche Bank, 10 pela Dow e outras 10 pelo fundo patrimonial da USP. "Maior diversidade não é uma decisão exclusiva da universidade, mas sim de toda a sociedade", afirmou ao Estadão o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior.
PERTENCIMENTO
Para ele, além da ajuda para os cotistas se manterem no curso, as bolsas representam uma percepção de acolhimento pelo aluno e aumentam a sensação de pertencimento à USP. "A relação com atores sociais externos, participantes do programa, poderá colaborar com a formação de uma rede de relacionamentos pessoais pelos alunos e facilitar sua vida profissional futura", completa. Segundo a reitoria, o investimento inicial das empresas é de R$ 10 milhões, que serão gerenciados pela USP. Algumas bolsas vão durar os quatro anos (ou mais) de curso.
O programa atual teve como base um piloto realizado com o Itaú desde 2018 com 90 cotistas da USP, que recebem bolsa do banco. Os resultados preliminares mostraram menor evasão (2%) se comparada ao grupo cotista que não recebe o benefício (20%) e aos que não entraram por meio de cotas (13%). O desempenho dos bolsistas no curso também foi melhor do que o daqueles universitários que não tiveram bolsa e similar aos estudantes que entraram pelo vestibular convencional, da Fuvest. "A Lei de Cotas é fundamental, mas não é suficiente", afirma a diretora Jurídica e de Assuntos Corporativos do Itaú Unibanco, Leila Melo. Ela diz que os bons resultados do programa-piloto foram cruciais para extensão da parceria com a USP e a criação, agora, de um novo fundo de bolsas.
A Pró-reitoria de Inclusão e Pertencimento vai lançar um edital para selecionar os estudantes. A previsão é de que isso ocorra no segundo semestre, com bolsas para o início em 2023. O Itaú Unibanco terá este ano R$ 25 milhões para estudantes de universidades públicas de todo o País. A data do edital ainda será anunciada. "Não é mais questão de ser a favor ou contra às cotas, isso está posto. Precisamos pensar em como diminuir as desigualdades no Brasil e uma delas é racial", completa a superintendente do Itaú Educação e Trabalho, Ana Inoue.
HISTÓRICO
A USP passou a ter cotas em 2018, quando começou a, progressivamente, reservar vagas para estudantes pobres, negros e indígenas. Neste ano, a instituição chegou ao índice de 50,2% de alunos matriculados vindos de escolas públicas em seus cursos de graduação e, dentre eles, um total de 36% de pretos, pardos e indígenas.
"Temos a expectativa de sair do evento no dia 31 com muitas mais adesões", afirmou a pró-reitora de Inclusão e Pertencimento da USP, Ana Lúcia Duarte Lanna. As empresas vão poder definir seus critérios para concessão de bolsas a partir dos grupos que a USP definiu como prioritários: pretos, pardos e indígenas; pertencentes à comunidade LGBT+; pessoas com deficiência física; exilados; com a guarda de filho em idade de creche escolar (entre zero e três anos).
Serão abertos editais para a seleção dos contemplados. Esses alunos beneficiados terão de cumprir metas de desempenho, como matrícula e aprovação em número mínimo de disciplinas, e frequência.
"A ideia é reduzir a evasão de alunos em vulnerabilidade por meio de apoio financeiro. É algo complementar ao estudo, à vaga na faculdade", acrescentou o superintendente executivo do Santander Universidades no Brasil, Nicolas Vergara. A empresa já mantém outros convênios com a USP, como programas de incentivo à pesquisa. As bolsas da Dow, uma indústria química, serão direcionadas para iniciação científica de alunos cotistas. A exigência é de que eles se envolvam em projeto voltado às áreas de STEM (Ciência, Tecnologia e Matemática) para receber o benefício.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
PUB