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(FOLHAPRESS) - Cirurgia, quimioterapia e radioterapia são as terapias oncológicas mais conhecidas, mas novas modalidades surgiram e melhoraram o prognóstico.
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Nos tumores hematológicos (com origem em células sanguíneas), tratamentos com as chamadas células CAR-T podem ter resultados melhores do que os convencionais e aumentar as perspectivas de sobrevida dos pacientes.
O CAR-T é uma terapia imunocelular, ou seja, sua produção tem como base as células humanas e sua capacidade imune, explica Marta Maria Moreira Lemos, coordenadora médica do setor de hemoterapia e terapia celular do A.C.Camargo.
A implementação de estruturas para tratamento com essa tecnologia, o impacto da terapia na jornada do paciente oncológico e os desafios de acesso foram debatidos em painel organizado pelo A.C.Camargo Cancer Center no 9º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, realizado pela Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia). Promovida nesta quinta-feira (29), a mesa foi mediada por Wilson Leite Pedreira Jr., diretor de negócios e relacionamento do hospital.
Mieloma múltiplo, leucemia linfoblástica aguda B (LLA-B) e alguns linfomas não-Hodgkin, que se espalham de forma desordenada, podem responder bem ao tratamento.
O desenvolvimento começa com a coleta de linfócitos T (células de defesa) do paciente. O material é enviado a um laboratório, onde é modificado geneticamente por meio de vírus que invadem os linfócitos e alteram o DNA para fazer com que eles se conectem às células tumorais para atacá-las e eliminá-las.
Após esse processo, as células de defesa modificadas ficam em cultura, para que se multipliquem até atingirem quantidade suficiente para destruir as células cancerosas.
Em até 60 dias, o processo resulta no produto final, que é encaminhado ao hospital e aplicado no paciente com uma transfusão de sangue. No Brasil, diz Lemos, a primeira experiência com CAR-T ocorreu em 2019, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo).
No mesmo ano, o A.C.Camargo começou a planejar a infraestrutura de implementação do CAR-T, que envolveu investimentos em fatores como qualificação profissional, definição da jornada do paciente, criação e revisão de protocolos clínicos e adequação do espaço físico, afirma a enfermeira Vanessa Camandoni, especializada em oncologia e gerente de operações responsável pela área de terapias ambulatoriais do hospital.
Antes de receber o tratamento imunocelular, o paciente é avaliado em consulta e discute-se sua elegibilidade à terapia.Se o caso for compatível com o CAR-T, inicia-se o processo de coleta, produção e aplicação, seguido pela monitorização precoce e pelo acompanhamento a longo prazo, etapas em que o paciente fica internado para que a equipe multidisciplinar observe efeitos colaterais, explica Camandoni.
Se a equipe multidisciplinar é treinada e identifica sintomas de eventos adversos precocemente, como a febre, é possível lidar bem com os possíveis efeitos colaterais, diz Jayr Schmidt Filho, líder do Centro de Referência de Neoplasias Hematológicas do A.C.Camargo.
Segundo ele, o CAR-T é benéfico principalmente para pacientes de mieloma múltiplo, leucemia linfoblástica aguda B (LLA-B), linfoma difuso de grandes células B e linfoma folicular que já fizeram outros tipos de tratamento, mas não tiveram boa resposta ou apresentaram recidiva.
Os tratamentos com CAR-T já aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estão em fase de precificação pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), órgão interministerial que discute e estabelece os preços máximos de medicamentos no país, diz Pedreira Jr..
Ele estima que o custo deve ser de aproximadamente US$ 500 mil (cerca de R$ 2,7 milhões). Analisando o preço, o impacto positivo na sobrevida com qualidade do paciente e as outras alternativas de terapias, estudos internacionais mostram que o custo-efetividade se justifica, diz o diretor.
Apesar da eficácia, completa Pedreira Jr., o SUS (Sistema Único de Saúde) terá dificuldades para adotar terapias de CAR-T devido à defasagem da tabela de remuneração, à escassez de recursos para a saúde e ao atraso do país em atenção oncológica básica –ou seja, ainda não se garante que pacientes façam consultas e exames em tempo hábil para ter o diagnóstico precoce de câncer.