Estudante de medicina diz ter sido estuprada e dopada por Thiago Brennand

Até esta segunda, o Ministério Público de São Paulo realizou cinco oitivas dos casos.

© Reprodução

Justiça THIAGO-BRENNAND 18/10/22 POR Folhapress

(FOLHAPRESS) - A estudante de medicina Stefanie Cohen, 30, afirma ter sido estuprada e dopada por Thiago Brennand, 42, em outubro de 2021. Com o caso dela, ao menos 15 mulheres já denunciaram o empresário por crimes sexuais.

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O relato de Cohen foi divulgado primeiramente pelo Fantástico neste domingo (16) e confirmado pela própria estudante à Folha de S.Paulo nesta segunda (17).Procurada, a atual defesa de Brennand não quis comentar o assunto.

Brennand ficou conhecido após agredir, em agosto deste ano, a modelo Alliny Helena Gomes, 37, durante discussão em uma academia de ginástica na zona oeste de São Paulo.

Anteriormente, a defesa que o representou no caso da agressão afirmou que ele compareceu espontaneamente para prestar esclarecimentos às autoridades e disse que os vídeos mostram que as agressões verbais foram iniciadas por Helena Gomes.

Ele teve a prisão decretada por lesão corporal e corrupção de menores -segundo a Promotoria, teria incentivado o filho adolescente a ofender a modelo. Horas antes de o Ministério Público apresentar a denúncia, porém, ele viajou para os Emirados Árabes Unidos.

Por isso, foi considerado foragido e teve seu nome incluído na lista da Interpol. Assim, acabou detido em Abu Dhabi na última quinta (13) -ele pagou a fiança e responde o processo de extradição em liberdade.

Na sexta (14), ele teve o segundo pedido de prisão preventiva decretado, a pedido da Promotoria de Porto Feliz, cidade a 90 km de São Paulo. O órgão afirma que ele cometeu ao menos cinco crimes: estupro, cárcere privado, tortura, lesão corporal de natureza gravíssima e coação no curso do processo.

Até esta segunda, o Ministério Público de São Paulo realizou cinco oitivas dos casos. Cohen ainda não foi ouvida.

À reportagem, ela diz que conheceu Brennand em outubro de 2021 enquanto comemorava o título de miss São Paulo de Las Americas com amigas em um restaurante na capital paulista. O empresário estava no estabelecimento, com o filho, e os dois começaram a conversar. "Ele foi educado, parecia um cavalheiro", afirma ela.

Alguns dias depois, eles começaram a conversar por Instagram.

A estudante diz que Brennand então a levou para jantar e que, no fim, pediu duas caipirinhas de caju. Após beber, Cohen afirma ter começado a passar mal e ficado desorientada.

"Ele veio até mim no banheiro e me levou. Eu disse que estava passando mal e ele disse que estava tudo bem", relata ela.

A estudante diz que não se lembra claramente de tudo o que aconteceu no resto da noite, mas que foi dopada e estuprada por Brennand. Afirma, entre outras coisas, que ele forçou para fazer sexo anal com ela.

"Foi algo que eu nunca tinha feito, eu pedia 'não, por favor não'. Eu falei que eu nunca tinha feito isso e ele me dizia que eu era a namorada dele", afirma a estudante. "Foi tudo com extrema violência", diz. Ainda segundo ela, ele não usou preservativo.

No dia seguinte, ela afirma ter acordado com dores e sem saber onde estava. Ao abrir a porta, diz ter visto o segurança do empresário do lado de fora e, então, entender o que tinha acontecido. Nesse momento, ela afirma ter entrado no que chama de "modo sobrevivência".

"Eu tive que comer do lado desse monstro, fingi que estava tudo bem. Pensava que precisava sair daquilo ali", diz.

A miss relata ainda que, quando disse que iria tomar um banho, Brennand a ofendeu, afirmou que seu corpo era flácido e ainda sugeriu que ela deveria fazer uma intervenção cirúrgica.

A jovem diz que perdeu o pai há alguns anos e que, durante o luto, engordou e depois emagreceu 45 quilos.

"Eu estava num momento que tinha ganho o concurso de miss, me sentindo empoderada, num momento tão feliz. Quando ele começou a falar absurdos de mim, eu falei 'Thiago, eu já fui gorda'", afirma.

O empresário teria dito a Cohen que eles iriam para sua casa no condomínio Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz. Por isso, mandou o segurança levá-la de volta para casa fazer uma mala. Quando chegou ao local, ela disse ao segurança que tinha um compromisso e que voltaria para a casa de Brennand só mais tarde.

Depois disso, entrou em casa e contou à mãe o que tinha acontecido. Ela afirma que estava disposta a denunciá-lo, mas mudou de ideia depois que Brennand mandou um vídeo dos dois na noite anterior -ela afirma que não autorizou que ele gravasse as imagens. "Na hora, aquilo me calou. Foi um misto de ódio com vergonha."

"Eu vi que eu estava nua, ele mexia no meu corpo e aparecia o meu rosto, mas não assisti ao vídeo inteiro. Me dá vontade vomitar", diz.

Cohen diz acreditar que o vídeo foi uma forma de intimidá-la e, depois disso, eles não se falaram mais. "Ele percebeu que eu não ia voltar, de burro ele não tem nada. Me mandou o vídeo e eu nem sequer respondi. Para mim, a ameaça estava feita e eu me calei."

Na segunda-feira seguinte -o jantar entre eles foi em uma quinta-, ela procurou a ginecologista Roberta Grabert.

Em um laudo escrito em 2022, a médica afirma que Cohen relatou ter sofrido abuso psicológico, físico e sexual, mas que não quis procurar a polícia, pois estava sendo ameaçada por Brennand.

A própria estudante mostrou o documento à reportagem. A ginecologista também confirmou sua veracidade.

Na consulta, a médica encontrou hematomas no braço e no abdômen da estudante, além de sinais de machucados na vagina e no ânus. "O evento trouxe muitos prejuízos à vida dela. Não denunciei o evento a pedido da paciente e agora sinto-me no dever de me colocar à disposição para qualquer esclarecimento", escreveu a médica no laudo.

Cohen afirma que, após o caso, não conseguiu assistir às aulas de seu curso e que perdeu provas na faculdade. "Fiz terapia e não adianta. É um gatilho."

Quando o caso de Helena Gomes foi revelado, a estudante diz ter recebido mensagens de Brennand na qual ele pediu para ela depor a seu favor. "Passei mal quando vi que era ele. Tive que tomar calmante. A ferida foi novamente aberta."

Ela diz que decidiu falar a respeito como forma de encorajar outras mulheres a denunciarem o empresário. "Decidi mostrar o rosto para mostrar que ele não é tão poderoso quanto dizem que ele é".

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