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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Onde está Keanu Reeves?" foi a pergunta que abriu o painel com o artista no começo da noite de sábado (3) na CCXP. Foi uma forma esperta da organização brincar com a alta expectativa, mas que traduzia também a inquietude do público, o qual aguardava pacientemente a celebridade desde as primeiras horas do dia.
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A tensão era notável e só aumentou com a demora da chegada do astro, com a apresentação tomando seu tempo para criar uma introdução à altura da estrela. Tudo começou com uma contagem regressiva com personagens de "John Wick", tema da noite; depois, uma orquestra na lateral do palco tocou temas da franquia; em seguida, foi a vez de uma conversa rápida com Reynaldo Buzzoni, dublador do ator no país; por fim, um longo balé, que simulava cenas de lutas entre os dançarinos, chegou a descer do palco para tentar distrair a plateia.
As preliminares longas e exaustivas não atendiam ao desejo do público, porém, que continuava a se perguntar: afinal, onde estava Keanu Reeves?
Uma hora antes, o artista conversava com a Folha de S.Paulo sobre a vinda ao evento. "Eu já estive na Comic-Con de San Diego e a reputação da CCXP é que ela é ainda maior", brincou com certa timidez, logo antes de confirmar que estava "realmente curioso" sobre a sua participação na feira.
Se a fala explica como o ator acabou aparecendo duas vezes no evento -ele voltou ao auditório principal no domingo (4) para falar de "BRZRKR", HQ cuja criação ele assina-, também ilustra a gratidão que ele tem em ver o status de "John Wick" como franquia consolidada em Hollywood.
Segundo Reeves, não havia um plano para sequências quando o primeiro capítulo foi lançado, em 2014, e o projeto engrenou com o sucesso inesperado nas bilheterias e na popularidade de "De Volta ao Jogo" na televisão.
As sucessivas boas recepções dos filmes deram à produção e seu diretor, Chad Stahelski, uma maior liberdade financeira desde então. Se o primeiro capítulo foi lançado com um orçamento mínimo de US$ 20 milhões, o quarto filme, "John Wick 4: Baba Yaga" chega aos cinemas em março de 2023 com um valor de produção de US$ 100 milhões, equivalente ao que hoje é considerado um blockbuster de médio porte.
Para Reeves, esse processo abriu possibilidades maiores a Stahelski e Dan Laustsen, diretor de fotografia de todas as sequências, mas a franquia nunca esqueceu suas origens -e inclusive ganhou mais tempo para conceber as sequências de combate.
"Isso nos permitiu mostrar mais do mundo", comenta; "Nesse quarto filme, estamos filmando no Louvre e no Arco do Triunfo em Paris, e agora podemos fazer essas cenas de ação grandiosas."
Comentando as lutas que tornaram célebre a franquia no mundo, o ator não deixa de destacar a alegria de trabalhar com nomes conhecidos do cinema contemporâneo de artes marciais, que no quarto filme incluem artistas do porte de Donnie Yen, de Hong Kong, o britânico Scott Adkins e o japonês Hiroyuki Sanada. Ao contrário de outras produções, Reeves toma para si boa parte da coreografia das lutas, demorando até quatro meses no preparo para a porção mais física das filmagens.
"Eles estavam empolgados em fazer tomadas mais extensas, de contar a história de seus personagens nas lutas que os revelam. Donnie, Scott e Hiroyuki sempre gostam de trabalhar seus papéis dessa forma, e como a gente gosta desse estilo específico de filmagem, eles se animavam muito com os detalhes."
O ator deixa claro nesses momentos o maior envolvimento com a franquia, que vai na contramão da dependência progressiva de Hollywood para ancorar a ação no departamento de efeitos visuais. Mas ele rejeita a ideia de que "John Wick" tenha mudado a indústria, creditando a "Matrix" a introdução do estilo de produção do cinema de Hong Kong em Hollywood que hoje ele e -em parte- Tom Cruise levam como bíblia em seus projetos. Também prefere pensar que a série desenvolveu uma marca própria.
"As pessoas já me contaram que leram roteiros com a frase 'e aqui vai a ação no estilo de John Wick', mas elas não sabem o quanto se exige para chegar a isso", comenta. "O estilo de luta de 'John Wick', que é interativo, é na verdade baseado em como a gente põe o ator na ação de uma forma diferente. Então a gente sempre pensa se vamos usar judô ou jiu-jitsu e, depois, como tem que ter a marca 'John Wick', a gente também pensa em como vamos fazer tudo aquilo com uma arma na mão."
Para além do legado e da carreira, Reeves também demonstra gratidão na forma como "Matrix" moldou essa nova franquia. A origem da amizade do ator com o diretor vem de lá, afinal: Stahelski foi seu dublê na produção e, nas palavras do artista, sempre credita "à escola de cinema das Wachowski" o aprendizado inicial na direção.
A proximidade de "John Wick 4" com "Matrix Resurrections", lançado no fim do ano passado, só reforçou essa visão para o ator. Protagonista em ambos os projetos, ele vê grande afinidade até mesmo na recente produção comandada por Lana Wachowski.
"Eu acho que a gente influenciou algumas das lentes usadas na sequência, e eles também aderiram mais ao formato de tomadas mais longas e menos cortes. E se olhar o design de produção, com certeza há um pouco de influência [de 'John Wick'] lá."
Perguntado de sua opinião sobre Tom Cruise, a outra grande estrela de Hollywood que ficou famosa nos últimos anos por assumir as cenas de ação com as próprias mãos, Reeves diz que tira o chapéu para o colega.
"De um ponto de vista de ação, o que ele pôde fazer e vem desenvolvendo de visão e ambição o permitiu fazer coisas maiores e mais loucas, enquanto se permitindo a estar realmente ali. É muito louvável e, como parte do público, eu acho que ele está colhendo os frutos. Você pode vê-lo ali, ele está voando o jato, está tornando uma realidade fantástica em fantasia de um jeito que nenhum outro ator faz."
Sobre o futuro, Reeves reitera que tudo depende do retorno do público, mesmo neste momento em que um derivado -"Bailarina", estrelado por Ana de Armas- e uma série estão em desenvolvimento. "Vem sendo assim toda vez. Se o público gosta do filme que fazemos, então talvez nós temos chance de contar mais dessa história.", diz.
Se depender do público da CCXP, está bem claro que "John Wick" ainda tem muitos capítulos a serem contados.
Quando o astro enfim entrou no palco principal do evento no sábado, depois de todo o cerimonial, o auditório pôde entrar em gozo coletivo com o ator. Só de estar ali, sendo Keanu Reeves, o ator cumpriu com a promessa feita pela organização, dando ao público o orgasmo que só uma estrela de Hollywood pode fazer.