Paulo Gustavo faz rir e chorar em 'Filho da Mãe', filme que é homenagem

O filme acabou se tornando uma homenagem póstuma ao ator

© Divulgação

Cultura Filme 16/12/22 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - É com o queixo mirando o céu e a cabeça para trás, vibrando ao som de cada forte gargalhada, que Paulo Gustavo aparece na maior parte das imagens de "Filho da Mãe", documentário que estreia no Amazon Prime Video.

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Alegria, reforçam os depoimentos de amigos e familiares e as cenas de bastidores captadas desde 2019, era seu mantra de vida e se transformou em seu legado quando, em maio de 2021, o ator e humorista se tornou uma das mais notórias vítimas da Covid-19.

Originalmente, o filme deveria ser um retrato dos bastidores da turnê musical que Paulo Gustavo e sua mãe, Déa Lúcia, inspiração para a personagem Dona Hermínia, de "Minha Mãe É Uma Peça", faziam.

Acabou se tornando uma homenagem póstuma, um testamento de seu gênio artístico que, numa carreira breve de cerca de duas décadas, o alçou ao posto de campeão de bilheteria do cinema nacional.

"Eu relutei em ver o material gravado. Eu tinha medo, mas no fim foi uma alegria. Eu ia trabalhar feliz, porque sabia que ia passar o dia com o Paulo, e eu queria levar isso para as pessoas", diz Susana Garcia, diretora de "Filho da Mãe" e de "Minha Mãe é uma Peça 3" e uma das amigas e colaboradoras mais próximas dele.

Justamente por isso, não espere ver no longa o tipo de isenção ou distanciamento que, por vezes, é cobrado de documentaristas. Garcia dirigiu "Filho da Mãe" mais como quem dá continuidade aos desejos de Paulo Gustavo do que como quem quer analisá-lo.

Em determinado momento, ele é gravado dizendo que não se considera militante, mas um ser político. Depois, no show ao lado de Déa Lúcia, ambos fazem um discurso contra a homofobia, e mais tarde ainda, "Minha Mãe É Uma Peça 3" é louvado por mostrar um casamento gay.

Não entra em cena, no entanto, uma das polêmicas que recaíram sobre o filme, quando o ator, homossexual, decidiu não pôr um beijo entre dois homens no roteiro. Tampouco a problematização de sua constante retórica de não ser ativista num país ainda impregnado de preconceito.

A este jornal, Garcia diz que as pessoas "não entendiam sua sutileza", e, no documentário, Preta Gil, outra amiga próxima, diz que ele "hackeava o sistema por dentro".

Depoimentos são costurados com o espetáculo, imagens de arquivo e gravações feitas principalmente em camarins e carros, numa turnê que percorreu vários quilômetros. Garcia viu algumas dessas apresentações e, quando chegou ao filme, se deparou com 130 horas de filmagens.

Paulo Gustavo, explica Malu Miranda, à frente dos conteúdos nacionais do Prime Video, não tinha certeza do que faria com aquele volume gigantesco, mas queria ter a homenagem à mãe registrada.

"Filho da Mãe" era um dos vários projetos que Paulo Gustavo estava concebendo para a plataforma, com quem firmou contrato pouco depois de deixar a Globo, às vésperas da pandemia. Seu desejo era extrapolar as fronteiras do Brasil, conta a executiva.

O tom de biografia de visionário, carregado de falatórios bem-humorados, no entanto, logo dá espaço a momentos cabisbaixos, conforme o longa se aproxima do fim. A pandemia sequestra o filme, mas Paulo Gustavo não se ausenta.

Garcia conta que era imprescindível que ele continuasse em cena, e o fez com áudios e vídeos que o ator mandava aos amigos ou publicava nas redes, mesmo após contrair o coronavírus. Para os fãs e os envolvidos em "Filho da Mãe", que já sabem o desfecho, as risadas logo viram lágrimas.

"Ainda é difícil. É recente e, para uma mãe, vai ser recente sempre. Ninguém preenche o espaço deixado por um filho. São meus netos que me ajudam muito a falar dele sem me emocionar", diz Déa Lúcia, que, sem Paulo Gustavo, não pretende voltar aos palcos.

Romeu e Gael, filhos de três anos do ator com Thales Bretas, devem ser os dois espectadores mais importantes de "Filho da Mãe". O médico conta estar aliviado porque, apesar da ausência do marido, eles terão um acervo enorme de gravações para conhecê-lo.

"O Paulo, curiosamente, sempre falava de morte. E ele fazia tudo como se estivesse pensando num legado para deixar, então ele filmava muito bastidor, muita coisa íntima. Esse é um material preciosíssimo. Eu mesmo tive dificuldade no começo e não queria ter acesso a todas essas imagens", explica ele, que ainda diz enfrentar, no dia a dia, outro entrave para superar a perda.

"O luto coletivo, embora tenha uma parte boa, de nos dar carinho e força, é difícil, porque nos obriga a lidar com isso diariamente. Temos que lidar com a dor dos outros, além da nossa. Mas às vezes a gente só quer viver o nosso luto, processar a dor dentro da gente."

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