Xi pede medidas eficazes contra Covid, e China derruba quarentena para viajantes

Três anos depois do surgimento dos primeiros casos de Covid na cidade de Wuhan, na região central do país, o gigante asiático tenta conter uma alta explosiva do número de contaminados pelo vírus.

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Mundo CHINA-CORONAVÍRUS 27/12/22 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Nos primeiros comentários públicos desde que a China relaxou as restrições de combate à Covid, no começo do mês, o líder Xi Jinping pediu nesta segunda-feira (26) às autoridades do país que tomem medidas para "proteger com eficiência" as vidas de seus compatriotas diante do avanço da doença.

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A declaração foi feita no mesmo dia em que o regime anunciou a revogação, a partir de 8 de janeiro, da quarentena obrigatória para todos que viajarem ao gigante asiático, retirando regra que estava em vigor desde o início da pandemia. Segundo a Comissão de Saúde, que tem funções equivalentes à de um ministério, será exigido apenas um teste negativo para quem quiser ingressar no território chinês.

"Deveríamos lançar uma campanha sanitária patriótica de maneira mais afinada, para fortalecer a prevenção e o controle [da pandemia] e proteger de forma eficaz a vida, a segurança e a saúde da população", afirmou Xi, em declaração citada pela emissora estatal CCTV. O premiê Li Keqiang, segundo a agência Xinhua, destacou ainda que todos os níveis do regime devem intensificar esforços para garantir que as demandas de tratamento e suprimentos médicos sejam atendidas.

Três anos depois do surgimento dos primeiros casos de Covid na cidade de Wuhan, na região central do país, o gigante asiático tenta conter uma alta explosiva do número de contaminados pelo vírus.

Muitos hospitais estão lotados, e as farmácias sofrem com a falta de remédios. Diversos crematórios indicaram à agência de notícias AFP o recebimento de uma cifra elevada de cadáveres. A metrópole de Guangzhou, com 19 milhões de habitantes, chegou a anunciar que adiaria cerimônias fúnebres para depois de 10 de janeiro em razão de um "aumento significativo de demanda" -a justificativa depois foi retirada da nota oficial.

Ainda assim, muitos lotaram os metrôs de Pequim e Xangai, numa atmosfera que, nesta cidade, contrasta com o cenário em abril e maio, quando restrições pesadas foram impostas. "Estou preparado para viver com a pandemia", disse o morador Lin Zixin, 25. "Lockdowns não são uma solução de longo prazo."

Um mercado de Natal montado anualmente em Bund, distrito comercial de Xangai, recebeu muitos visitantes durante o fim de semana, e multidões encheram o parque da Disney na cidade e o da Universal Studios na capital. O número de viagens a turismo partindo de Guangzhou cresceu 132% em duas semanas, segundo o jornal local The 21st Century Business Herald. "Agora todos voltaram à rotina normal", disse um residente de Pequim de 29 anos e sobrenome Han.

Ainda assim, o setor do turismo permanece prejudicado pelas medidas que têm como objetivo conter a disseminação do vírus. A China é a única grande potência que continua a exigir quarentena de viajantes -atualmente o confinamento dura pelo menos cinco dias. Recentemente, porém, a Comissão de Saúde já havia indicado a possibilidade de mudanças ao comunicar que já não considera a Covid uma pneumonia, mas uma doença contagiosa menos perigosa.

Nesta segunda, o regime chinês também anunciou que a gestão do coronavírus será rebaixada para a categoria B, menos rigorosa que a A hoje em vigência -a mudança permite flexibilizações no turismo. Além de não exigir mais quarentena obrigatória para viajantes, a China deve reabrir as fronteiras com Hong Kong, fechadas desde o início da crise sanitária, no começo de 2020.

Até agora, o país só reconheceu oficialmente seis mortos por Covid desde a retirada das restrições, mas, de acordo com analistas, o balanço é muito inferior ao número real de óbitos -parte considerável dos idosos não está vacinada contra o coronavírus.

No domingo, a Comissão Nacional de Saúde anunciou que deixará de divulgar os dados diários de casos e mortes por Covid. O órgão não deu justificativas para a decisão. Dez dias antes, porém, declarou que o rastreamento de diagnósticos se tornara praticamente impossível desde as flexibilizações, porque, com o fim da obrigatoriedade dos testes PCR e a permissão para quarentena domiciliar, os chineses passaram a realizar exames em casa, e a maior parte deles não comunica os resultados às autoridades.

A comissão acrescentou que o Centro para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDC) chinês publicará informações sobre o surto, mas não especificou que dados serão divulgados e com que frequência. Também o CDC tinha anunciado que não publicaria relatórios diários sobre o coronavírus.

Outra controvérsia que pôs os dados oficiais em xeque foi uma nova metodologia imposta pelo regime. Só as mortes decorridas de pneumonia ou insuficiência respiratória ocasionadas pelo vírus são contabilizadas como óbitos relacionados à doença. A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma não ter recebido nenhum dado sobre novas hospitalizações a partir da flexibilização da Covid zero.

Diante do apagão de dados, algumas províncias passaram a divulgar as próprias estatísticas. É o caso da província de Zhejiang, a cerca de 200 km de Xangai, que conta com cerca de 65 milhões de habitantes.

Segundo as autoridades, os contágios diários superam 1 milhão e a quantidade de pacientes que visitaram clínicas aumentou 14 vezes desde a semana passada. Pedidos de internação no centro de emergência da capital local, Hangzhou, mais do que triplicaram em relação à média do ano passado.

A mudança no curso da controversa política de Covid zero, que incluía práticas como confinamentos em larga escala e internação sistemática de pessoas contaminadas, vem na esteira de uma série de mobilizações populares realizadas nas principais cidades e universidades do país no final de novembro.

Os protestos foram o desafio público mais forte à liderança de Xi e vieram cerca de um mês após ele ser coroado com um inédito terceiro mandato à frente do regime. Também se inseriram na desaceleração da economia chinesa, com o país registrando a maior queda no fluxo do comércio em dois anos e meio.

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