© Getty
(FOLHAPRESS) - Em reunião com líderes do Senado, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), criticou o ministro Alexandre de Moraes pela decisão que afastou Ibaneis Rocha (MDB) do Governo do Distrito Federal e tentou livrar o pai de qualquer responsabilidade pelos atos de domingo (8).
PUB
A reunião de segunda-feira (9) foi fechada, mas três participantes relataram à reportagem que Flávio condenou a decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) contra Ibaneis. Ele criticou ainda o decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de intervenção federal na segurança do DF.
O senador, segundo os relatos, ressaltou que o governador do DF foi reeleito em primeiro turno e afirmou que é um absurdo que ele tenha sido retirado do cargo por 90 dias em uma "canetada" de Moraes, de forma monocrática. Flávio Bolsonaro é líder do PL no Senado.
O senador, de acordo com pessoas que participaram da reunião, também afirmou aos colegas que Jair Bolsonaro (PL) não incentivou seus apoiadores a invadirem e vandalizarem as sedes dos Três Poderes. Flávio argumentou que seu pai está nos Estados Unidos e não teve nenhum envolvimento nos atos deste domingo.
Senadores da base de Lula rebateram o filho mais velho do ex-presidente durante o encontro. De acordo com relatos, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) afirmou que tanto o decreto de Lula como a decisão de Moraes eram indispensáveis para barrar o movimento golpista.
Eliziane Gama, que é líder da bancada feminina no Senado, disse que o país já tinha tido uma mostra da radicalização dos manifestantes no dia em que o presidente Lula foi diplomado e que situação pode se tornar ainda mais grave se não houver nenhuma medida enérgica neste momento.
No dia em que Lula foi diplomado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), apoiadores de Bolsonaro que estavam acampados em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, tentaram invadir a sede da PF (Polícia Federal). Eles colocaram fogo em ônibus e carros.
Durante a reunião de segunda, as críticas de Flávio Bolsonaro à decisão de Moraes e ao decreto de Lula também foram rechaçadas pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e pelo líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Após reunião com Lula, ministros do STF e governadores, na noite desta segunda, Jaques Wagner afirmou que a participação de governadores bolsonaristas no encontro no Palácio do Planalto demonstra que ninguém quer a volta do autoritarismo. O senador completou que essa também foi a linha adotada por Flávio na agenda que ocorreu pela manhã.
"Todos queremos a manutenção da democracia. Aliás, foram essas as palavras na reunião de líderes do Senado do senador Flávio, filho do ex-presidente da República, dizendo que o pai não tem nada a ver com isso, que não foi quem pediu essas coisas", disse Wagner a jornalistas.
"Evidente que muito do que está acontecendo é consequência de quatro anos dele [Bolsonaro] colocando, muitas vezes, a cultura do ódio e da intolerância. Mas o fato de o senador Flávio se expressar dessa forma mostra que não há quem consiga abraçar neste momento o autoritarismo e a quebra da institucionalidade, da democracia."
Flávio Bolsonaro foi procurado pela Folha, mas não se manifestou. O presidente em exercício do Congresso, senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), disse após a reunião de líderes que, "muitas vezes, o silêncio é mais ruidoso do que quaisquer palavras proferidas", e que Bolsonaro silenciou sobre a vitória de Lula.
"Às vezes, pesa muito mais o silêncio do que qualquer fala. O silêncio do [então] presidente Jair Bolsonaro nas primeiras horas após o processo eleitoral, já conhecido pela população o resultado, deu demonstrações àqueles que o tomam como líder de muitas coisas", afirmou.
O Senado deve aprovar nesta terça (10) o decreto de Lula que determinou intervenção federal na segurança do Distrito Federal até o final do mês. A votação será semipresencial, mas líderes fizeram um apelo para que os senadores voltem a Brasília e participem da sessão presencialmente.
De recesso desde 23 de dezembro, muitos parlamentares estão fora do país. A avaliação de lideranças, no entanto, é de que os senadores devem ocupar o Plenário nesta terça, para passar a mensagem de que não foram intimidados pela invasão de domingo.
Lideranças também têm discutido com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os golpistas -à exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos após a invasão do Capitólio, em janeiro de 2021.
Um dos requerimentos, apresentado pela senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS), já recebeu o número necessário de apoios, mas parte dos senadores que endossam o pedido encerram seus mandatos agora e terão suas assinaturas descartadas caso a CPI seja instalada no mês que vem.
Integrantes da Casa afirmam que são grandes as chances de funcionamento da comissão a partir de fevereiro, após a posse dos 27 senadores eleitos em outubro. Se a CPI fosse instalada antes disso, ela teria que ser encerrada ao fim da legislatura atual, em 1° de fevereiro.
Senadores desconfiam que os golpistas que depredaram o Congresso tiveram treinamento policial ou de outras forças de segurança. O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou aos colegas que os vândalos sabiam onde estavam hidrantes e extintores de incêndio.
"Falava-se muito em não deixar o presidente subir a rampa. Como no dia 1º era impossível porque a segurança foi muito reforçada, fizeram isso na semana seguinte. Eles usaram técnica. Só quem é do meio sabe que a única coisa que pode cortar o efeito do gás [lacrimogêneo] é a água", disse do Val.
No Senado, o prejuízo é estimado entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões -sendo que só a troca e a reposição de vidros deve custar mais de R$ 1 milhão. A diretora-geral da Casa, Ilana Trombka, afirmou que será preciso trocar todo o carpete do Salão Azul, que foi encharcado pelos radicais.
Os vândalos urinaram em uma tapeçaria de Burle Marx que estava exposta, danificaram um tinteiro de bronze da época do Império, um quadro de 1890 que retrata a assinatura da Constituição, e uma mesa do Palácio Monroe, onde funcionou a segunda sede do Senado, no Rio de Janeiro.