Peru impõe toque de recolher em região onde protestos provocaram 18 mortes

O país está em convulsão social desde a destituição de Pedro Castillo da Presidência

© Getty Images

Mundo Peru 11/01/23 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo do Peru decretou nesta terça-feira (10) um toque de recolher noturno na cidade de Puno, novo epicentro dos protestos contra a presidente Dina Boluarte. Grandes manifestações voltaram a ganhar corpo nos últimos dias, agravando a crise estrutural do país, em convulsão social desde a destituição de Pedro Castillo da Presidência, há pouco mais de um mês.

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A medida foi anunciada horas após o dia mais letal desde o início dos protestos. Na segunda-feira (9), 18 pessoas morreram em confrontos entre manifestantes e policiais na região de Juliaca, a 60 km de Puno. A conta não inclui um bebê recém-nascido que também morreu depois de não ter podido chegar a um hospital devido a bloqueios nas rodovias.A maior parte dos óbitos foi registrada em um embate na região do aeroporto de Juliaca, que os manifestantes tentavam tomar -14 pessoas teriam morrido no local, segundo a Defensoria do Peru. Numa tentativa de enfraquecer o governo Dina, apoiadores de Castillo têm bloqueado estradas e infraestruturas importantes para o país.Outras três pessoas morreram em um shopping center. Segundo as autoridades, elas teriam atacado o estabelecimento. O corpo de um policial foi encontrado carbonizado em um veículo. Jorge Angulo, porta-voz do Ministério do Interior, afirmou que o agente foi "vítima de criminosos" ainda não identificados. A autópsia deverá esclarecer as circunstâncias da morte.Em tentativa de frear os atos, o primeiro-ministro peruano, Alberto Otárola, anunciou o toque de recolher em Puno, que deveria entrar em vigor ainda nesta terça, às 20h pelo horário local (22h de Brasília), e perdurar até as 4h. A medida, a princípio válida por três dias, pode ser prorrogada.O premiê ainda apresentou ao Parlamento o pedido de voto de confiança de investidura, um requisito constitucional para que o gabinete se mantenha no cargo.Ao menos 40 pessoas morreram desde o início das manifestações em dezembro, mas os casos de violência não têm coibido a organização de novos atos. Ao menos 53 trechos de rodovias foram bloqueados nesta terça, segundo as autoridades peruanas. Piquetes que impedem a circulação de veículos foram registrados nas regiões de Puno, Cusco, Apurímac, Arequipa, Madre de Dios e Amazonas.Em Puno, onde os protestos se concentram, autoridades relataram novos ataques contra estabelecimentos comerciais e veículos da polícia.Os protestos voltaram a ganhar adesão depois de uma trégua de duas semanas durante as festas de fim de ano. Os manifestantes exigem a renúncia da atual chefe do Executivo, a dissolução do Congresso, mudanças na Constituição e a libertação de Castillo -preso em dezembro depois de ser destituído após uma tentativa fracassada de golpe de Estado.Antes vice de Castillo, Dina é chamada de traidora pelos manifestantes contrários ao seu governo. No mês passado ela declarou estado de emergência e assinou decreto para que as Forças Armadas se juntem à polícia na repressão dos atos.A forte repressão contra os manifestantes, contudo, tem aumentado a pressão sobre a presidente. Nesta terça, o governo regional de Puno decretou três dias de luto devido às mortes nas últimas horas e pediu a renúncia da presidente. O arcebispo de Huancayo, Pedro Barreto, afirmou que a crise no Peru se assemelha a uma zona de guerra. "A verdade é que estamos nas mãos da barbárie", disse à rádio RPP.Outras lideranças e organizações pedem a investigação das mortes. Nesta quarta, o Peru deve receber uma missão da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), que pretende monitorar o cenário dos direitos humanos no país.O premiê Otárola afirmou nesta terça que criminosos financiados por "dinheiro obscuro" foram responsáveis pelas mortes ocorridas nesta segunda. Ele acrescentou que ao menos 143 pessoas -68 manifestantes e 75 policiais ficaram feridos só na segunda-feira.Em meio à crise, o Peru proibiu, nesta segunda, a entrada do ex-presidente boliviano Evo Morales em seu território. Ele é acusado pela gestão de Dina de interferir nos assuntos da política interna.Presidente da Bolívia de 2006 a 2019, Evo tem expressado apoio aos manifestantes contrários ao governo Dina. O líder teve presença ativa na política peruana desde que Castillo assumiu a Presidência, em julho de 2021, até sua destituição, no início de dezembro.Na semana passada, Dina pediu ao líder da Bolívia que parasse de interferir em assuntos peruanos. Já o ministro da Defesa, Jorge Chávez, afirmou que cinco bolivianos que estariam incentivando os protestos no país foram identificados.O ex-presidente Castillo está cumprindo 18 meses de prisão preventiva enquanto é investigado pelos crimes de rebelião e conspiração depois de tentar fechar o Congresso ilegalmente -ele nega as acusações.

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