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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As ações ordinárias da Americanas despencaram quase 80% nesta quinta-feira (12) após a divulgação de um escândalo contábil da empresa, uma das principais do segmento varejista listadas na Bolsa de Valores brasileira. Uma descoberta preliminar de cerca de R$ 20 bilhões em "inconsistências" no balanço da companhia levou às renúncias do presidente e do diretor financeiro.
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As negociações dos papéis da Americanas na Bolsa ficaram suspensas durante boa parte do dia, e foram retomadas nesta tarde, com algumas interrupções pontuais. Essa suspensão, chamada de leilão, é um mecanismo de proteção, acionado quando há oscilações fora do comum. O papel terminou em queda de 77%, valendo R$ 2,72. Na véspera, fechou cotado a R$ 12.
A gigante no varejo nacional perdeu em um dia cerca de R$ 8,4 bilhões em valor de mercado, segundo cálculo do TradeMap. É uma quantia equivalente a mais do que o dobro do valor da sua concorrente, a Via Varejo, dona da Casas Bahia, que vale 3,9 bilhões.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu nesta quinta dois processos administrativos para investigar o caso.
O tombo da varejista influenciou negativamente parte das empresas do setores varejista e financeiro e, consequentemente, manteve o índice parâmetro da Bolsa em baixa durante quase todo o dia. O Ibovespa fechou a sessão em queda de 0,59%, aos 111.850 pontos.
Além de ser afetado pela crise da Americanas, o Ibovespa piorou partir da fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que anunciou um pacote de medidas com a promessa de entregar uma melhora fiscal nas contas públicas deste ano. No início da apresentação de Haddad, às 16h10, o indicador recuava 0,12%.
A crise envolvendo a Americanas teve início da véspera, após o fechamento do mercado, com o comunicado de que Sergio Rial deixava o comando da empresa dez dias após assumir o cargo. Rial, que ficou seis anos à frente do Santander, substituiu Miguel Gutierrez, presidente da Americanas por cerca de duas décadas. O diretor financeiro Andre Covre também deixou a função na qual havia acabado de ingressar.
Em 22 de agosto de 2022, no primeiro dia de negociações após o anúncio Rial como presidente da Americana, a ação ordinária da companhia valia R$ 15,96.
Depois de um começo de pregão com quedas intensas em todo o setor varejista, algumas empresas do ramo apresentavam recuperação na parte final da sessão. A Magazine Luiza subiu 5,28% e liderou as altas do Ibovespa. Os papéis ordinários da Via, porém, recuaram 5,38%.
Bancos também apareciam entre as principais quedas do mercado acionário. Bradesco e Itaú caíam 2,34% e 1,40%, respectivamente.
"Se o rombo for esse mesmo, de R$ 20 bilhões, o mercado começa a se preocupar sobre com quem está essa dívida", comentou Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos. "No caso específico do setor de varejo, o investidor começa a temer que outras empresas tenham problemas parecidos", disse.
"Hoje é um dia em que o mercado vai olhar muito para essa crise envolvendo a Americanas, pois é uma empresa importante e há muitos investidores e fundos com posições relevantes nela", afirmou Heitor Martins, especialista em renda variável da Nexgen Capital.
Justificativas prestadas pela Americanas, que apontam o furo no balanço como sendo fruto de erro, afastaram em parte o temor de que há práticas irregulares disseminadas entre grandes empresas do ramo, explicou Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. "Ainda assim, poderemos ver o investidor reticente quanto ao varejo [nos próximos dias]", comentou.
Empresas de segmentos ligados a exportação de matérias-primas para a produção de aço (mineração) e energia (petróleo), que possuem grande peso no mercado doméstico, tiveram um dia positivo e ajudavam a evitar uma queda mais profunda do Ibovespa. Vale e Petrobras subiram 0,53% e 1,44%.
No mercado de câmbio, o dólar teve um dia de forte queda frente ao real. A moeda americana fechou em baixa de 1,58%, cotada a R$ 5,0990 na venda.
Houve desvalorização generalizada do dólar frente a outras divisas nesta quinta, sendo a brasileira ocupando as primeiras posições entre aquelas que atraíram mais investidores.
Dados do governo dos Estados Unidos mostraram que a inflação no país está perdendo fôlego, com o índice de preços ao consumidor marcando uma alta de 6,5% até dezembro, o menor patamar em quase um ano.
A desaceleração da inflação cria expectativas de que os juros de referência no país podem parar de subir de forma muito acelerada.
Com investidores avaliando que títulos da dívida americana entregarão um retorno mais baixo, há tendência de crescimento da procura por aplicações mais arriscadas, porém promissoras, como commodities, além de ações de empresas e títulos de dívida de países emergentes. É um típico movimento que costuma favorecer ativos de países como o Brasil.
Em dezembro de 2022, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) elevou sua taxa de juros pela sétima vez no ano. A alta, na ocasião, foi de 0,50 ponto percentual. Apesar de significativa para os padrões históricos, o ajuste foi menor do que os aplicados nas quatro reuniões anteriores do comitê de política monetária do banco, que foram de 0,75 ponto.
Após a desaceleração da inflação nesta quarta, analistas do mercado americano consultados em reportagem da agência Bloomberg afirmaram que a taxa de juros poderá avançar mais 0,25 ponto percentual em fevereiro, quando ocorrerá a próxima reunião do Fed. Antes do novo dado de inflação, a expectativa era de uma alta de 0,50 ponto.
Investidores americanos se ajustaram às novas expectativas para os juros e, após uma sessão volátil, o índice de referência da Bolsa de Nova York, o S&P 500, fechou em alta de 0,34%.