Invasão do garimpo ilegal acirra conflitos entre comunidades yanomami

Questões como a cooptação de jovens indígenas pela atividade de extração do ouro, a disseminação de bebidas alcoólicas e a proliferação de armas de fogo foram responsáveis pelo aumento da violência intertribal.

© Getty Images

Brasil YANOMAMIS-INDÍGENAS 14/02/23 POR Agência Brasil

A invasão do garimpo ilegal às terras no oeste de Roraima gerou não apenas problemas ambientais, sanitários e confrontos diretos entre garimpeiros e indígenas, mas também amplificou conflitos entre as próprias comunidades yanomami. Questões como a cooptação de jovens indígenas pela atividade de extração do ouro, a disseminação de bebidas alcoólicas e a proliferação de armas de fogo foram responsáveis pelo aumento da violência intertribal.

Segundo Júnior Hekurari Yanomami, liderança que preside o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami, entre as regiões onde a violência intertribal aumentou depois da chegada dos garimpeiros estão Tirei, Xitei e Homoxi. Ele explica que alguns dos invadores dão armas para os yanomami - inclusive para que os indígenas façam a proteção do garimpo contra comunidades que são contra a atividade de mineração do ouro.

“Os invasores contribuíram muito para crescerem mais os conflitos yanomami. Os garimpeiros levaram muitas armas de fogo para as comunidades. Ano passado, tivemos um problema muito grande em Xitei, onde adolescentes de 12, 13 e 14 anos beberam e mataram uns aos outros, com [revólver calibre] 38".

Outro artigo levado pelos garimpeiros - a bebida alcóolica - também acirra conflitos e tensões entre as comunidades, já que pode ser o estopim para novas brigas, com agressões e assassinatos. 

Tony Gino Rodrigues, pertencente à etnia macuxi, também nativa da região de Roraima, trabalhou 12 anos como agente de saúde nas terras yanomami. Ele explica que as riquezas do garimpo atraem a atenção dos mais jovens, que querem, por exemplo, ter acesso a novas tecnologias, como os aparelhos celulares - que eles vêem nas mãos de garimpeiros, mas também nas mãos daqueles que estão ali para ajudar, como profissionais de saúde.

“Quando chega o garimpo, você deixa de cultivar, deixa de caçar, ou seja, você deixa o modo de vida tradicional para partir para uma vida que foi levada lá para dentro e que ninguém explicou como se comportar dentro desse meio”.

Júnior Yanomami vê um futuro difícil pela frente, mas tem esperança de remediar os estragos provocados pelo garimpo nas terras de seu povo. “A gente vai ter muito trabalho para consertar esses conflitos que aconteceram [principalmente] nos últimos quatro anos, mas a gente vai consertar”.

Cerca de 30 mil yanomamis, divididos em vários subgrupos, com línguas diferentes, se espalham pelos territórios de Roraima, Amazonas e Venezuela.

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