Lula dobra aposta em visita à China para pressionar os Estados Unidos

Lula realiza no fim deste mês uma viagem de quatro dias ao país asiático, na qual deve se encontrar com o presidente Xi Jinping e buscar negócios e parcerias para o Brasil. A expectativa é que o petista seja acompanhado de uma grande comitiva de empresários, tanto do setor industrial como da agricultura.

© Getty Images

Mundo BRASIL-CHINA 12/03/23 POR Folhapress

RENATO MACHADO, MARIANNA HOLANDA E MATHEUS TEIXEIRABRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Renato Machado, Marianna Holanda e Matheus Teixeira Brasília O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende dobrar a aposta na viagem do presidente à China, contrapondo uma ampla agenda em Pequim à falta de resultados concretos da visita a Washington em fevereiro.

PUB

Lula realiza no fim deste mês uma viagem de quatro dias ao país asiático, na qual deve se encontrar com o presidente Xi Jinping e buscar negócios e parcerias para o Brasil. A expectativa é que o petista seja acompanhado de uma grande comitiva de empresários, tanto do setor industrial como da agricultura.

A dimensão da empreitada contrasta com a agenda de apenas um dia na capital dos EUA, no início de fevereiro. Na ocasião, Lula foi recebido com honras e deferência pelo presidente americano, Joe Biden, o que interlocutores no governo brasileiro apontam ter sido importante para a inserção geopolítica do petista em seu terceiro mandato.

O encontro com Biden ainda cumpriu o objetivo de selar uma agenda conjunta em defesa da democracia, assunto que une as duas administrações. Muitos analistas apontam o espelhamento entre a invasão dos palácios do governo em Brasília por golpistas em 8 de janeiro e o assalto ao Capitólio em Washington que, ocorrida dois anos antes, buscou impedir a certificação da vitória do democrata.

Por outro lado, a reunião trouxe poucas parcerias efetivas entre os dois países, como assinaturas de convênios e promessas de investimentos.

A esperada doação americana para o Fundo Amazônia não se concretizou, e o valor aventado, de US$ 50 milhões (cerca de R$ 260 milhões), frustrou o governo brasileiro. Em viagem ao Brasil semanas após o encontro entre Lula e Biden, o enviado especial dos Estados Unidos para o clima, John Kerry, afirmou que o governo americano continua comprometido com o fundo, mas não citou valores.

Questionado por jornalistas sobre eventual aporte, Kerry citou dois projetos de lei em tramitação na Câmara e no Senado do seu país que preveem um total de US$ 13,5 bilhões (cerca de R$ 70 bilhões) para mitigar e combater o aquecimento global e outros problemas climáticos.

Esse valor engloba, no entanto, iniciativas em todo o mundo, inclusive dentro dos EUA. E mesmo assim, Kerry afirmou que aprovar as medidas seria "uma luta", e que por isso outras soluções de financiamento eram buscadas.

Decepcionado com o resultado da ida a Washington, Lula pretende usar a viagem a Pequim para atender dois objetivos. O primeiro deles é voltar a estreitar as relações com o gigante asiático, abaladas durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). O país é o principal parceiro comercial do Brasil, com quem mantém um fluxo de R$ 125 bilhões.

Além disso, o governo tenta pressionar os americanos a oferecerem novas parcerias de investimento, comércio e cooperação. De acordo com assessores, a ideia é levar os americanos a "colocarem a mão no bolso".

EUA e China –as duas maiores potências econômicas do mundo– protagonizam hoje uma ampla disputa geopolítica. Uma das preocupações dos americanos é a crescente influência chinesa em regiões como a América Latina.

Lula pretende levar ao país asiático uma grande comitiva, com ministros, técnicos e empresários. Além das reuniões de alto nível, com autoridades brasileiras e chinesas, um seminário organizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China está marcado para ocorrer no período.

O próprio caráter empresarial da visita a Pequim contrasta com a agenda em Washington. Nos EUA, Lula não teve encontros com empresários e, além de Biden, reuniu-se com a ala mais à esquerda do Partido Democrata e com um sindicato americano.Como precisa substituir Lula no Brasil, atuando como presidente em exercício, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) não deve ir à China.

As articulações empresarias estão centradas, entretanto, na pasta sob seu comando, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que trabalha com o objetivo de atrair investimentos ao Brasil e também fechar parcerias que tragam a produção de bens para o país.

A intenção do governo é buscar cooperação com a China e tratar de assuntos em diversas áreas econômicas, com ênfase em transição energética e segurança alimentar. Há ainda a perspectiva de um anúncio de parceria por parte da Embraer, tema que vem sendo tratado de modo reservado pelos brasileiros.

A viagem promete ser ainda uma prova de fogo para a reconciliação do governo Lula com o agronegócio. Amplos segmentos do setor apoiaram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de outubro, inclusive financiando atos antidemocráticos.

Outro dos pontos importantes da viagem será a assinatura de novo contrato de cooperação para pôr em órbita o satélite Cbers-6. Trata-se da nova fase da cooperação aeroespacial sino-brasileira, que já lançou outros satélites em conjunto.

Um interlocutor no governo lembra que se equilibrar entre China e EUA para obter vantagens de ambos os lados não é uma novidade, e sim uma prática histórica da política externa brasileira. Ele cita como exemplo os benefícios obtidos pelo governo Getulio Vargas com a Alemanha e os Estados Unidos no período da Segunda Guerra Mundial.

Do ponto de vista político, a análise do Planalto é de que a consolidação das duas frentes daria a Lula sua primeira grande demonstração de força no cenário internacional, em um momento em que o petista busca retomar o protagonismo diplomático que o Brasil tinha antes de Bolsonaro.

Outra estratégia é a tentativa do petista de encabeçar um plano para mediar uma solução para a Guerra da Ucrânia. No início do mês, o presidente conversou com o líder ucraniano, Volodimir Zeleski, por videoconferência.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Liziane Gutierrez Há 18 Horas

Ex-Fazenda Liziane Gutierrez está presa no Marrocos há um mês

mundo Inglaterra Há 16 Horas

Mulher condenada por manter bebê em gaveta até os três anos na Inglaterra

fama Meghan Markle Há 18 Horas

Divórcio? Meghan Markle quebra o silêncio e surge sozinha em evento

fama Cristiano Ronaldo Há 11 Horas

Cristiano Ronaldo posa de sunga e detalhe chama atenção nas redes

mundo França Há 9 Horas

Deputados da França comparam carne do Brasil a lixo; assista

politica Bolsonaro Há 16 Horas

PF: Bolsonaro 'planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva'

esporte Brasil Há 16 Horas

Abel é chamado de burro pela torcida do Palmeiras

fama Harry e Meghan Markle Há 8 Horas

Harry e Meghan seguem 'caminhos separados' após Dia de Ação de Graças

tech Espaço Há 17 Horas

James Webb mostra detalhes inéditos da galáxia 'Sombrero'; veja as fotos

fama Ana Paula Minerato Há 17 Horas

Ana Paula Minerato se desculpa por falas racistas e culpa o ex-namorado