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BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Quase seis toneladas de lixo se acumulam em Paris, o cartão-postal da França. A cidade sofre os efeitos da greve dos lixeiros, categoria que paralisou suas atividades há dez dias a fim de pressionar o governo de Emmanuel Macron a recuar de seus planos de reforma da Previdência.
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A legislação atual dita que garis e motoristas de caminhões de lixo podem se aposentar aos 57 anos sem bonificações. A mudança proposta, que volta ao Parlamento nesta quinta-feira (16) após ser aprovada no Senado, aumentaria essa idade mínima para 59 anos.
O sindicato da categoria considera a reforma inaceitável, e usa como argumento o fato de que profissionais da área tem uma expectativa de vida de 12 a 17 anos menor que a média francesa. Outras cidades do país, como Nantes, Antibes e Montpellier, também aderiram ao movimento.
O jornal Libération foi até uma estação de incineração de lixo na comuna de Ivry-sur-Seine, no subúrbio de Paris, bloqueada por funcionários há mais de uma semana. Um gari identificado pela reportagem apenas como Pascal, 64, afirmou que desenvolveu hipertensão e problemas na tireoide depois de recolher lixo nas ruas por 36 anos. "As pessoas não fazem ideia do que é ser lixeiro", disse ele.
"Faz tempo que Macron não escuta as ruas, mas se aceitarmos a derrota, não vamos conseguir nada", afirmou Karim, 39, ao mesmo jornal. "É fácil ir fazer festa na África, como o presidente fez na semana passada, mas é muito mais difícil vir conversar com os sindicalistas", acrescentou -Macron se recusou a se reunir com líderes sindicais nos últimos dias.
No geral, a reforma proposta no início de janeiro pelo governo prevê aumentar a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030. Com a aprovação do texto, o tempo de contribuição exigido para receber uma pensão integral também cresceria, de 42 para 43 anos.
O governo francês argumenta que a medida é necessária para evitar o colapso do sistema previdenciário do país. No fim de janeiro, o ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, afirmou que a mudança geraria uma economia de € 18 bilhões (cerca de R$ 101 bilhões) aos cofres do Estado até 2030.
A reforma é, porém, extremamente impopular entre a população, que realizou greves e manifestações massivas desde o anúncio da proposta. Muitos dos atos terminaram em confrontos com a polícia.
Na terça, outra paralisação, esta dos funcionários de usinas nucleares, térmicas e hidrelétricas, resultou em uma redução de 18 gigawatts no fornecimento de energia em todo o país de acordo com o sindicato CGT (Confederação Geral do Trabalho). Ainda que o corte não afete a demanda de energia nacional, ele evidencia as consequências de greves que se arrastam há semanas.
A situação dos agentes de limpeza em Paris ainda revela um imbróglio político entre o governo, de orientação de centro-direita, e a prefeitura da capital francesa, comandada pela socialista Anne Hidalgo.
O jornal Les Echos destacou as críticas feitas à Hidalgo pela condução da crise na cidade. Olivia Grégoire, ministra das Pequenas e Médias Empresas, afirmou que sua "oposição ideológica castiga os parisienses". Já Gabriel Attal, à frente da pasta de Contas Públicas, disse ao Figaro acreditar que a prefeita encoraja os garis a continuarem paralisados.
Diversos membros do governo pedem que Hidalgo recorra a uma medida que impõe um serviço mínimo de coleta de lixo e obriga alguns funcionários a voltarem a trabalhar. Mas a iniciativa, vista como autoritária, ainda precisaria ser aprovada pela Secretaria de Segurança Pública, que pode se recusar a furar o direito de greve garantido pela Constituição.