Parlamento de Israel aprova lei que impede afastamento de premiês pela Justiça

Um premiê só poderá ser afastado do posto caso ele mesmo ou três quartos de seus ministros abram uma petição nesse sentido

© Amir Cohen/Reuters

Mundo Inusitado 23/03/23 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Parlamento de Israel aprovou nesta quinta-feira (23) uma lei que protege seus primeiros-ministros de eventuais ordens judiciais que os obrigassem a deixar o cargo. Agora, um premiê só pode ser afastado do posto caso ele mesmo ou três quartos de seus ministros abram uma petição nesse sentido, e mesmo assim, só em razão de problemas de saúde.

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O projeto -que recebeu 61 votos a favor e 47 contra, em uma sessão que atravessou a madrugada- integra a controversa reforma judicial promovida pelo governo mais à direita da história do país. E é visto como tendo sido feito sob medida para livrar o atual premiê, Binyamin Netanyahu, de possíveis enroscos legais.

Rumores difundidos no mês passado e repetidamente negados desde então davam conta de que a procuradora-geral do país, Gali Baharav-Miara, avaliava abrir uma ação pedindo o afastamento do primeiro-ministro por conflito de interesses. Um dos projetos de lei da reforma promovida por sua gestão defende que o governo tenha poder quase absoluto sobre a indicação de juízes, inclusive para a Suprema Corte.

Bibi, como o premiê é conhecido, é réu por corrupção em três diferentes casos. Ele nega as acusações, e afirma que os processos são uma manobra política para obrigá-lo a renunciar. Seja como for, as mudanças na atual legislação sobre a composição do Comitê de Seleção Judicial poderiam afetar futuras apelações do primeiro-ministro nos julgamentos hoje em curso.

O Movimento por um Governo de Qualidade em Israel encaminhou à Suprema Corte um recurso contra a lei aprovada. Em comunicado, afirmou que o premiê e sua "coalizão de homens corruptos fazem uso de todas as manobras possíveis em suas tentativas de escapar da Justiça".

O líder da oposição, Yair Lapid, também condenou a nova legislação, e afirmou que os integrantes da coalizão no poder no país se comportaram como "ladrões na calada da noite" para aprovar "uma lei personalista, corrupta e obscena".

Como os demais projetos de lei propostos dentro da reforma judicial, também este era uma "lei básica", funcionando como uma espécie de emenda à Constituição, já que Israel não tenha um documento fundador do tipo.

Além de modificar a forma como a nomeação de juízes se dá no país, a reforma ainda propõe três grandes mudanças: que o Parlamento possa rejeitar decisões da Suprema Corte com maioria simples; que o tribunal não revise legislações aprovadas pelos congressistas; e que os assessores jurídicos dos diferentes ministérios sejam indicados pelos próprios ministros.

Para especialistas, a reforma ameaça a independência do Judiciário, pondo em risco o equilíbrio de Poderes no país, um dos pilares do Estado de Direito. Já a coalizão governista argumenta que ela é necessária para tirar a Justiça das mãos de "magistrados elitistas e tendenciosos".

O projeto motiva atos por parte da população há meses, e foi atacado não só por instituições financeiras e empresários da área de tecnologia de ponta, que alertaram o governo de que o plano pode provocar prejuízos à economia israelense, como também por aliados estrangeiros do país no Oriente Médio.

Um telefonema do presidente dos EUA, Joe Biden, para Bibi nesta semana inclusive levou sua gestão a apresentar uma versão mais branda da proposta de modificação do Comitê de Seleção Judicial -mantendo, no entanto, a prevalência do governo nas indicações dos juízes.

Mais protestos contra a reforma foram registrados nesta quinta-feira. Manifestantes bloquearam rodovias pelo país, incluindo a capital, Tel Aviv, e a polícia deteve dezenas de indivíduos por perturbações públicas.

A comoção ainda acontece em meio a uma escalada na violência entre israelenses e palestinos na Cisjordânia. Também nesta quinta -o primeiro dia do mês do Ramadã, sagrado para os muçulmanos-, o Exército de Israel matou um homem de 25 anos em uma incursão à cidade de Tulkarem, no norte do território ocupado.

Segundo um grupo que se autointitula Brigada de Tulkarem, o homem, Amir Abu Khadijeh, era um de seus fundadores. Em comunicado, Tel Aviv diz que tropas infiltradas cercaram a casa de Khadijeh, suspeito de se envolver em diversos ataques atiros, e atiraram nele depois que ele os ameaçou com uma arma.

A incursão se dá menos de uma semana depois de um encontro no Egito em que autoridades de ambas as partes se comprometeram a diminuir tensões. Balanço da agência de notícias AFP indica que só este ano o conflito provocou a morte de 87 palestinos e 14 israelenses, além de uma ucraniana.

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