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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Travessia", que chega ao fim nesta sexta-feira (5), vai deixar um sabor amargo na boca dos noveleiros. O folhetim de Gloria Perez atravessou uma série de obstáculos desde antes da sua estreia, em outubro passado, e foi alvo de críticas do início ao fim.
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A primeira pedra no sapato de Perez foi Jade Picon. A autora foi rechaçada nas redes sociais por causa da escalação da influenciadora e ex-BBB, que nunca tinha trabalhado como atriz. Foram tantas críticas que o sindicato da área precisou se movimentar para impedir Picon de continuar no elenco. Levou um mês até que a entidade autorizasse a sua participação.
Perez defendia a influenciadora. "Acontece da gente ver uma pessoa e sentir que ali pode ter alguém a olhar com atenção. Ela foi testada com bastante rigor e só entrou na novela porque se saiu muito bem", disse à Folha quando a novela estreou.
O público não teve a mesma percepção. Picon virou meme na internet por causa do sotaque carioca forçado e das caras e bocas exageradas que fazia para compor Chiara, uma riquinha mimada.
Foi só depois de oito meses no ar que ela começou a ser elogiada pelo público. Há quem diga que ela demonstrou ter potencial para a carreira de atriz em cenas dramáticas da reta final.
Não foi só a novata que esteve no centro das polêmicas. A veterana Cássia Kis, que vive na novela a executiva Cidália, foi criticada nas redes sociais por incentivar atos golpistas contra a eleição do presidente Lula, do PT.
Apoiadora declarada de Jair Bolsonaro e católica conservadora, Kis foi vista várias vezes carregando terços em passeatas em prol do ex-presidente.
Além disso, a atriz disse numa live no Instagram que "não existe mais o homem e a mulher, mas a mulher com mulher e homem com homem. Essa ideologia de gênero que já está nas escolas [...] quer destruir a família".
Surgiram rumores de que sua participação na novela seria reduzida por causa do comentário considerado homofóbico. Ela negou e fez deboche na época. Sua personagem de fato não perdeu relevância até o final.
Gloria Perez também foi acusada de apoiar Bolsonaro depois de curtir um tuíte que defendia a reeleição dele. A autora negou que estivesse declarando voto e disse estar sendo patrulhada a este jornal.
Perez também caiu no desgosto do público porque respondia com acidez às críticas que "Travessia" recebeu nas redes. Não era raro vê-la criticando publicações que falavam do fracasso de audiência.
"Travessia" também sofreu com um roteiro sem pé nem cabeça. Conhecida por suas tramas rocambolescas, Perez nesta novela quis criticar fake news e jogar luz sobre os perigos da tecnologia.
A protagonista Brisa, de Lucy Alves, começa sendo vítima de "deepfake", técnica de inteligência artificial usada para criar vídeos falsos em que rostos e vozes originais são substituídos pelos de outra pessoa. Foragida, ela passou dias sem sequer cogitar se comunicar com sua família pelas redes sociais. É no mínimo contraditório para uma novela cheia de assuntos modernos.
Além disso, na reta final, Brisa perde a guarda do filho porque eles não compartilham o mesmo DNA -a personagem supostamente sofre de uma condição raríssima de variação de genes. Houve quem dissesse que o desenrolar da trama foi exagerado e inverossímil.
"Travessia" foi ofuscada pela popularidade de "Todas as Flores", novela que sucederia "Pantanal", mas acabou sendo levada ao Globoplay. Sem precisar se prender às amarras da TV aberta, o folhetim cativou o público com seu elenco afinado, história dinâmica e cenas de sexo ousadas.
Ana Lúcia Torre, que interpreta Tia Cotinha, disse que o elenco enfrentou dificuldades na gravação de "Travessia" por causa de problemas internos. Em entrevista ao portal da jornalista Heloisa Tolipan, a atriz afirmou que nunca leu o roteiro de uma semana inteira com antecedência, e que foi difícil gravar a novela.
"Travessia" encerra pondo Gloria Perez em xeque. "Não pude fazer a pesquisa da maneira que sempre faço. Também não consegui estar envolvida com os atores e a produção da maneira de sempre", ela disse à Folha no mês passado.Sua novela será substituída por "Terra e Paixão", escrita por Walcyr Carrasco. O novo folhetim vai apostar no cenário rural, ingrediente que deu certo em "Pantanal". É como se a Globo quisesse superar os delírios urbanos de "Travessia".