Trump elogia Bolsonaro e zomba de mulher que o processou por abuso em sabatina

Trump fez pouco caso de sua condenação no caso movido pela jornalista Elizabeth Jean Carroll, a quem chamou de "doida"

© Getty Images

Mundo Condenado 11/05/23 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Donald Trump não pretende moderar suas posições para concorrer por uma indicação à Presidência nas primárias do Partido Republicano -estratégia que analistas políticos consideram fundamental para aumentar sua popularidade na sigla.

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Pelo contrário, em uma sabatina realizada nesta quarta-feira (10) e transmitida pela CNN, o ex-presidente dos Estados Unidos repetiu, sem evidências, que as eleições que perdeu para Joe Biden foram roubadas, descreveu a invasão do Capitólio por seus apoiadores como "um belo dia", e zombou de uma jornalista que o processou por abuso sexual e difamação e venceu o caso.

Até o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) foi citado, ainda que não nominalmente. Questionado por um eleitor sobre como pretendia defender o porte de armas em um momento em que os EUA buscam limitá-lo em resposta à multiplicação dos tiroteios em massa, Trump disse que o Brasil sob Bolsonaro era exemplo de um país em que a flexibilização do acesso às armas fez as taxas de criminalidade caírem.

"A matança era absurda. As pessoas entravam nas casas umas das outras e se matavam, não havia proteção. Daí ele [Bolsonaro] disse para as pessoas comprarem armas. Elas fizeram isso, e o crime caiu muito, os números diminuíram, porque as pessoas passaram a ter segurança", disse Trump.

Bolsonaro instituiu uma série de medidas para facilitar o armamento da população durante a sua gestão -a emissão de licenças para armas de fogo no país disparou 473% entre 2019 e 2022. Embora as taxas de homicídio tenham de fato caído no período, especialistas consideram que o fenômeno não teve a ver com ações do governo federal, e sim com o arrefecimento do conflito entre duas das principais facções brasileiras, o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho).

A sabatina, realizada em New Hampshire, foi dominada pela insistência de Trump em repetir as alegações infundadas de fraude das eleições presidenciais de 2020. Questionado pela moderadora da CNN, Kaitlan Collins, se tinha algum arrependimento em relação à sua atuação na invasão ao Capitólio, ele saudou a turba que tomou o Congresso americano em uma tentativa de impedir a ratificação da vitória de Joe Biden, dizendo que eles foram ao local "com orgulho", e "amor no coração".

"Foi inacreditável, foi um belo dia", prosseguiu, acrescentando que, se fosse eleito à Presidência novamente, pretendia perdoar os condenados pelo ataque.A insistência na narrativa foi um de muitos pontos de tensão entre o ex-presidente e Collins, que buscou corrigi-lo cada vez que ele fazia uma afirmação incorreta ou sem apresentar evidências. À medida que o debate avançou, os dois passaram a se interromper com frequência e, em determinado momento, Trump chamou a moderadora de "nasty", "nojenta" -adjetivo com que se referiu várias vezes a Hillary Clinton, sua rival nas eleições de 2016, e também usou para descrever a atual vice-presidente, Kamala Harris.

Trump ainda fez pouco caso de sua condenação no caso movido pela jornalista Elizabeth Jean Carroll, a quem chamou de "doida" no evento. Na terça-feira (9), ele foi sido considerado culpado de abuso sexual e difamação por um júri em Nova York, sentenciado a pagar US$ 5 milhões a ela por danos (cerca de R$ 25 milhões na cotação atual).

O republicano não será, porém, obrigado a arcar com a multa enquanto o processo estiver em apelação. Além disso, não corre o risco de ser preso, por este se tratar de um caso civil. Por fim, assim como em decisões anteriores, sua condenação não o torna inelegível.

Carroll o acusava de tê-la empurrado contra a parede e a estuprado em um vestiário da loja Bergdorf Goodman na década de 1990. "Que tipo de mulher conhece alguém e, em uma questão de minutos, está fazendo coisas impróprias em um provador?", questionou Trump durante a sabatina, provocando aplausos e risadas da plateia.

O ex-presidente ainda evitou demonstrar apoio à Ucrânia, dizendo em vez disso que, se fosse presidente, resolveria o conflito em 24 horas. Os Estados Unidos são a nação que mais apoia o país invadido, e já enviaram mais de EUR 70 bilhões (aproximadamente R$ 380 bilhões hoje) para o esforço de guerra segundo estimativas do Instituto para a Economia Mundial de Kiel, na Alemanha.

A dimensão desse apoio é bastante questionado dentro do Partido Republicano -o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, por exemplo, já disse que não quer dar "cheques sem fundo" para Kiev. "Não estou pensando em termos de ganhar ou perder, mas de resolver a guerra. Quero que todos, russos e ucranianos parem de morrer", afirmou Trump.

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