© <p>TV Globo/João Cotta</p>
(FOLHAPRESS) - Houve um momento em que o inimaginável aconteceu: Galvão Bueno ficou sem palavras.
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Ele começava a carreira na Rádio Gazeta e era comentarista de Botafogo x Olaria, pelo Campeonato Carioca. No meio da análise no intervalo, perdeu-se e emudeceu. Foi socorrido pelo narrador Oswaldo Maciel.
"Deu branco", confessou.
Mais de quatro décadas depois, ele ressalta ter sido a única vez.
"O papagaio ficou mudo na primeira vez. Depois nunca mais aconteceu. Nunca mais parei de falar".
Falava tanto que, ao recomendá-lo para Boni, o todo-poderoso da Globo, em 1981, o diretor de jornalismo Armando Nogueira fez a ressalta: Galvão "se expressa bem, mas é um pouco prolixo".
Em cinco episódios, o documentário "Olha o que Ele Fez" é uma viagem pela carreira do mais famoso narrador da história da TV brasileira. A série, que estará disponível a partir desta quinta-feira (18) pelo serviço de assinatura Globoplay, usa a Copa do Mundo do Qatar, do ano passado, como pano de fundo para contar a vida do locutor.
Foi o último Mundial de Galvão pela Globo. O primeiro presencial foi em 1978, na Argentina, pela Bandeirantes.
A assessoria da emissora enviou à reportagem o primeiro episódio. O documentário é dirigido por Sidney Garambone e Gustavo Gomes.
Nenhum narrador de futebol roçou o nível de popularidade e antipatia atingido por Galvão Bueno. As duas facetas devem ser retratadas no documentário e aparecem de passagem no capítulo inicial. No caso das ofensas, estão o "ei, Galvão, vai tomar no c...", gritado em estádios durante os jogos da seleção brasileira, e as hashtags no Twitter que pediam para o locutor calar a boca.
Entre os depoimentos coletados, o repórter Marcos Uchôa lembra que "na memória sentimental do brasileiro Galvão está".
Ele se transformou em uma entidade. Poucos na história da televisão nacional foram tão imitados. Trata-se da voz dos títulos mundiais da seleção brasileira de 1994 e 2002, assim como a da humilhação do 7 a 1 no Mineirão, em 2014. Frases que usou na goleada imposta pela Alemanha, como "lá vêm eles de novo" ou "virou passeio", foram incorporadas ao imaginário do torcedor nacional.
É também o narrador identificado com as vitórias e os títulos de Ayrton Senna na F1. Era quem estava ao vivo no momento do acidente que matou o piloto, seu amigo.
"Chegar ao sucesso não é tão difícil. Difícil é conviver com o sucesso", constata Galvão.
A capacidade de criticar e o nível de exigência são deixados claros logo nos primeiros segundos. Para defini-lo, o lateral Cafu usa a palavra "corneteiro". O filho Popó constata que deve ser muito difícil trabalhar com o pai. O depoimento é sucedido por palavrões disparados pelo narrador fora do ar."Não entende porra nenhuma", diz Nelson Piquet, que virou desafeto de Galvão, que transmitiu pela Globo os títulos do piloto na F1 em 1981, 1983 e 1987.
Nos depoimentos dos colegas de profissão estão a admiração em relação a quem "mudou o patamar" do narrador esportivo no país e se tornou o "maior da história do país" no ofício.A produção o levou para locais que foram importantes em sua carreira, como o Estádio Nacional de Tóquio, palco do Mundial de Flamengo de 1981, e o Internacional de Yokohama, onde o Brasil conquistou o penta em 2002.
Galvão fala abertamente sobre sua torcida para o Flamengo e vai ao Maracanã com a família ver um Fla-Flu pela final da Taça Guanabara deste ano. Ele brinca com filhos e netos por entrar no local com ingresso, não com a credencial de jornalista, e o piloto Cacá Bueno, seu filho, ressalta ser a primeira vez que está no estádio, como torcedor, com o pai.
Ao chegar às cadeiras, Galvão procura, com o olhar, a cabine de transmissão, aquela que sempre foi sua casa no Maracanã.
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