Brasil precisa de educação digital nas escolas, diz Malala em visita ao Rio

Para a ativista, educação digital é a principal ferramenta para o combate à desinformação na internet

© Rovena Rosa/Agência Brasil

Brasil Educação 22/05/23 POR Folhapress

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Em sua segunda visita ao Brasil, Malala Yousafzai mostra interesse nas discussões políticas do país, inclusive à de como os brasileiros têm usado as redes sociais. Para a ativista e escritora paquistanesa de 25 anos que venceu o Nobel da paz, educação digital é a principal ferramenta para o combate à desinformação na internet.

PUB

Em sua visão, tanto as big techs quanto os internautas precisam ser responsabilizados em relação ao uso das redes sociais. Ela própria, agora influenciadora digital, afirma se sentir desconfortável nas plataformas às vezes. "Não leio comentários", diz, entre risos.

Malala esteve no país pela primeira vez em julho de 2018, quando acompanhou a expansão das atividades do instituto Malala Fund na América Latina. Agora, ela retorna para participar nesta segunda-feira (22) do Festival do Leitor, o LER, no Rio de Janeiro, onde vai conversar com o público.

Em entrevista à Folha neste domingo (21), Malala compartilhou suas visões sobre o Brasil, seu trabalho e seu próximo livro, que ainda está escrevendo.

Como você gerencia sua carreira de influenciadora digital e quais estratégias usa para alcançar meninas?

Malala Yousafzai - As redes sociais são plataformas poderosas para atingir jovens, e eu uso meu próprio perfil para falar sobre a educação de meninas. Há ainda as contas do Malala Fund, que luta em defesa dos direitos delas à educação e as engaja. Acima de tudo, no entanto, são elas quem têm que liderar. Afinal, se falamos de seus problemas, temos que ouvi-las.

O instituto tem um programa para garotas e uma newsletter chamada "Assembly", na qual jovens de mais de cem países têm compartilhado suas histórias. Elas falam sobre mudanças climáticas, saúde reprodutiva e segurança nas escolas. Compartilham não só seus problemas, mas como elas mesmo se tornam agentes da mudança.

Autoridades brasileiras estão discutindo uma nova lei sobre fake news, [o PL das Fake News]. Você acredita que as big techs devem ser responsabilizadas pela divulgação de desinformação e discurso de ódio?

Malala Yousafzai - Todos estão expostos à desinformação na internet e isso é um grande problema, porque pode enganar as pessoas e levá-las a coisas terríveis. É importante que todos tenhamos responsabilidade nessas ferramentas, do diretor das plataformas aos seus usuários.

É preciso inserir educação digital nos currículos escolares para ensinar as pessoas sobre o funcionamento da tecnologia, das plataformas e dos algoritmos. Assim, os jovens serão mais conscientes sobre as ferramentas digitais e não vão acreditar em informações falsas.

É preciso pensamento crítico e se perguntar de onde está vindo, se é uma fonte confiável, se tal argumento é plausível. Todos estão vulneráveis, mas, quanto mais nos tornamos conscientes, mais preparados estaremos para encarar a desinformação.

Esta é sua segunda vez no Brasil. Por que decidiu voltar?

Malala Yousafzai - Eu estava procurando uma desculpa para voltar e achei a oportunidade certa quando fui convidada para participar do festival LER. Agora, estou apoiando o ativismo na educação por meio do Malala Fund.

O instituto se engajou nas campanhas eleitorais, convencendo as autoridades a ter um comprometimento sólido com a educação, que assinassem compromissos para a educação igualitária e que criassem um manifesto para as meninas.

Oferecer uma plataforma para as vozes femininas tem sido maravilhoso. Retornei ao Brasil e mal posso esperar para encontrar ativistas, ouvir o que as meninas têm a dizer e apoiá-las em seu trabalho. Espero que eu possa levá-las às salas nas quais as decisões que afetam suas vidas são tomadas. Quero fazer a conexão entre suas vozes e as vozes dos líderes.

Também estou animada para ver todos os lugares bonitos do Brasil, curtir a música, a beleza e a comida maravilhosa. Vou explorar um pouco o Rio e andar na praia. Adoraria assistir a alguma partida de futebol e também quero conhecer a capitã da seleção brasileira de críquete, [Roberta Moretti]. Amo apoiar mulheres no esporte.

O Malala Fund tem planos futuros para o Brasil?

Malala Yousafzai - Continuamos a trabalhar com ativistas e eles estão fazendo um trabalho incrível a nível internacional. Há projetos específicos para as meninas negras, indígenas e quilombolas. O instituto se certifica de que as vozes dessas meninas sejam o centro de seu trabalho, por seus direitos e pela educação igualitária e segura.

O que o Brasil tem a ensinar ao mundo? E o que o país poderia aprender com o restante?

Malala Yousafzai - O Brasil tem uma oportunidade incrível de liderar o acesso à educação. Muitas meninas e mulheres são ativistas e têm tudo pronto no papel. Sabem como implementar a mudança, então é importante que elas estejam engajadas e que a voz delas seja ouvida.

O Brasil pode liderar o acesso de crianças à educação, o que inspiraria outros países a dar o mesmo passo. Muitas nações se preocupam com problemas globais, mas se esquecem de falar sobre as pessoas. Se empoderarmos as pessoas e oferecermos a elas educação de qualidade, oportunidades iguais, alguns desses problemas serão resolvidos.

Com a pandemia, muitas meninas deixaram a escola. Como resolver este problema?

Malala Yousafzai - A pandemia trouxe uma perda gigante em termos de educação e deixou algumas comunidades para trás também. É importante que líderes tenham ciência disso.

Algumas comunidades foram afetadas mais do que outras. É preciso dar atenção à comunidade negra, indígena e quilombola e investir mais nelas, que têm uma taxa alta de meninas que desistiram da escola. Elas já tinham menos probabilidade de concluir seus estudos, e a pandemia tornou isso ainda mais desafiador.

Em outubro, "Eu Sou Malala" completará uma década de publicação. Quais histórias você vai contar no próximo livro?

Malala Yousafzai - Estou muito feliz por estar escrevendo um novo livro de memórias. O primeiro era sobre minha vida antes de ser atacada e sobre como tornei-me uma ativista tão jovem. Muita coisa aconteceu depois disso, e eu vou compartilhar tudo. Estou gostando de refletir sobre a minha vida. Espero que as pessoas aprendam algo comigo.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Harry e Meghan Markle Há 10 Horas

Harry e Meghan Markle deram início ao divórcio? O que se sabe até agora

politica Investigação Há 10 Horas

PF põe Bolsonaro como líder de organização e vê viagem aos EUA como parte de plano, diz TV

brasil Goiás Há 12 Horas

Piloto de avião que caiu em Goiás mandou vídeo dentro de aeronave

fama Beto Barbosa Há 6 Horas

Beto Barbosa é criticado por ter se casado com adolescente de 15 anos

fama Viralizou Há 11 Horas

Rafa Vitti cita segredo sexual de Tatá na frente do pai da apresentadora

fama Vídeo Há 10 Horas

DiCaprio é acusado de 'comportamento desrespeitoso' em hotel

fama Ron Ely Há 13 Horas

Revelada causa da morte de Ron Ely, ator de 'Tarzan'

economia Banco do Brasil Há 12 Horas

Banco do Brasil: Clientes aplicaram R$ 4,7 mi no Tesouro via WhatsApp desde lançamento

fama Presos Há 9 Horas

Famosos que foram presos várias vezes: Quem tem o recorde?

fama Redes Sociais Há 6 Horas

Jojo Todynho vira garota-propaganda da Havan, que ironiza 'cancelamento'