Príncipe Harry depõe à Justiça e diz que imprensa britânica está 'manchada de sangue'

O depoimento na Alta Corte de Londres faz parte de uma ação que Harry e mais de cem pessoas apresentaram contra o Mirror Group Newspapers (MGN)

© Getty Images

Fama Família Real 06/06/23 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Crítico ferrenho da imprensa britânica, o príncipe Harry compareceu a um tribunal de Londres nesta terça-feira (6) para prestar depoimento contra uma editora de jornais acusada de coletar informações de forma ilegal. No interrogatório, o filho mais novo do rei Charles 3º voltou a criticar os profissionais de mídia, a quem os acusou de sensacionalismo e de terem as mãos "manchadas de sangue".

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O depoimento na Alta Corte de Londres faz parte de uma ação que Harry e mais de cem pessoas apresentaram contra o Mirror Group Newspapers (MGN), empresa que edita o Daily Mirror, o Sunday Mirror e o Sunday People. Eles alegam que os jornalistas do grupo coletaram, de 1991 a 2011, informações privadas por meios ilícitos, como invasões de telefone e uso de investigadores particulares.

Trata-se da primeira vez que um membro sênior da realeza britânica presta depoimento desde que o então príncipe Albert Edward (1841-1910) foi testemunha de um caso de divórcio em 1870 e, 20 anos depois, em um julgamento por difamação sobre um jogo de cartas, ambos antes de se tornar rei.

Também na condição de testemunha, Harry disse que as informações que teriam sido obtidas de forma ilegal foram usadas para destruir seus relacionamentos com namoradas e fazer com que seu círculo de amigos diminuísse, o que teria provocado danos psicológicos e levado a crises de depressão e paranoia.

"Hoje vejo que esse tipo de comportamento é totalmente vil", escreveu Harry no depoimento por escrito. "Quanto sangue ainda manchará os dedos antes que alguém possa acabar com essa loucura?"

Há muito que o príncipe tem uma relação complicada com a mídia. Harry acusa há décadas os tabloides britânicos de usarem métodos ilegais para atacar sua família e culpa profissionais da imprensa pela morte da mãe, a princesa Diana, depois de sofrer um acidente de carro em Paris, em 1997.

Diana tinha 36 anos quando o veículo que transportava ela e seu parceiro, Dodi al-Fayed, acidentou-se em um túnel, num momento em que buscava se afastar dos paparazzi que a perseguiam em motocicletas.

Harry reforçou no tribunal as críticas contra o sensacionalismo e destacou que, ao longo de décadas, recebeu rótulos ofensivos e foi chamado de "playboy", "grosso", "fracassado" e "desistente". Segundo ele, os tabloides adicionaram "ódio e assédio" à vida privada dele e de sua mulher, Meghan.

"Cada um desses artigos desempenhou um papel importante e destrutivo no meu crescimento", disse o príncipe. Harry e Meghan renunciaram às suas funções na realeza britânica em 2020 e hoje vivem nos EUA. Eles afirmam que parte do motivo que os levou a tomar a decisão se deveu à atuação da mídia.

Andrew Green, advogado da MGN, enfatizou que não há evidências de que o telefone de Harry foi invadido, mas admitiu que algumas das reportagens cometeram excessos. "Nunca deveria ter acontecido e não vai acontecer de novo", disse ele. A ação movida pelo grupo contra a editora lista 33 textos que teriam sido baseados em informações coletadas de forma ilegal. No caso de Harry, de acordo com a acusação, as informações foram obtidas "desde quando ele era um menino na escola" até a idade adulta. Os advogados dizem ainda que os editores e os executivos da empresa sabiam e aprovavam o comportamento.

O grupo que processa a editora inclui atores, estrelas do esporte, celebridades e pessoas que tiveram conexões com figuras importantes. O julgamento começou em 10 de maio e deve terminar em julho.

Os jornais britânicos esperavam que Harry comparecesse na segunda (5) à audiência, mas ele não foi devido à festa de aniversário de sua filha Lilibet, e a sessão foi adiada. Nesta terça, o príncipe chegou ao tribunal e entrou direto no local, sem falar com a imprensa que o esperava do lado de fora.

Harry esteve nos holofotes nos últimos meses em razão das disputas legais com a imprensa, além do lançamento de suas memórias e de uma série da Netflix em que acusou outros membros da realeza de conluio com tabloides. Nos três últimos capítulos da produção, Harry e Meghan afirmam que assessores da família real orquestravam com a imprensa britânica ataques contra eles, plantando histórias em jornais e vazando notícias, algo que classificaram de "jogo sujo". O quarto episódio da série destaca os problemas de saúde mental e os pensamentos suicidas de Meghan, em parte devido aos textos de viés negativo na imprensa logo após seu casamento com Harry e durante grande parte da gravidez de seu primeiro filho.

"Percebi que não estava apenas sendo jogada aos lobos", afirmou a ex-atriz, sobre a incessante cobertura que recebia da imprensa. "Eu estava sendo alimentada para os lobos."

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