Astros e estrelas que foram considerados comunistas em Hollywood
A Segunda Ameaça Vermelha e seus efeitos na indústria criativa
Astros e estrelas que foram considerados comunistas em Hollywood - e perderam trabalho por isso
Quando governos querem apagar uma ideologia de sua população, a arte é quase sempre o primeiro braço da cultura a ser atacado. Figuras proeminentes no cinema e na música, que detém o apreço e confiança do público por suas opiniões, podem se tornar inimigos perigosos do Estado se seus pontos de vista não estiverem alinhados com os do governo sob o qual operam. A perseguição a pessoas ligadas à cultura tem sido bastante comum ao longo da história. Nos Estados Unidos, porém, isso nunca foi tão difundido ou tão histérico quanto sob o macarthismo. Comumente comparado a uma caça às bruxas, as primeiras décadas da Guerra Fria foram repletas de comitês e tribunais governamentais dedicados a erradicar todos os últimos indícios de sentimento comunista, socialista ou anarquista na indústria do entretenimento americana. E muitas figuras proeminentes, várias das quais são celebradas hoje, pagaram, com suas próprias carreiras, por sua suposta insurgência.
Nesta galeria, descubra quais astros e estrelas foram colocadas na lista de comunistas de Hollywood.
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Uma mudança nas lealdades
As duas maiores superpotências Aliadas da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética, tornaram-se inimigos ideológicos praticamente da noite para o dia. Com as ameaças fascistas na Europa e no Pacífico derrotadas, a Guerra Fria começou seriamente.
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A Segunda Ameaça Vermelha
Com o comunismo em ascensão na Europa e as crescentes simpatias comunistas nos Estados Unidos, o governo americano fez do comunismo e de todos os seus apoiadores o inimigo público número um. Redemoinhos de propaganda anticomunista e rumores incessantes de insurgentes soviéticos e agentes adormecidos infiltrados entre o público americano levaram grande parte do governo - e do público - a um frenesi paranoico conhecido como Segunda Ameaça Vermelha.
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Macarthismo e Hooverismo
Macarthismo, e mais tarde o hooverismo, era o nome comum da caça às bruxas feita pelo governo federal para eliminar os simpatizantes comunistas em todas as esferas da vida americana. Joseph McCarthy, homônimo do conceito, era um senador republicano de Wisconsin, cujos sentimentos veementemente anticomunistas incentivaram a caça a supostos insurgentes, traidores e informantes em todo o país.
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O HUAC e o testemunho Disney-Reagan
O Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara (House Un-American Activities Committee - HUAC) foi formado em 1938 como um grupo especial de representantes cuja tarefa era examinar e analisar membros influentes do público para garantir que eles não tivessem laços com o comunismo. A atenção do HUAC voltou-se para Hollywood em 1947, quando Walt Disney e Ronald Reagan (foto), então presidente do Screen Actors Guild (sindicato que representa os atores dos Estados Unidos) e mais tarde presidente dos Estados Unidos, testemunharam diante do comitê e expressaram preocupações de sentimentos comunistas sérios e poderosos dentro da indústria cinematográfica.
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Os Dez de Hollywood
Em massa, atores, diretores, roteiristas e outros criativos foram rapidamente chamados a comparecer na capital Washington. Um grupo que veio a ser conhecido como os Dez de Hollywood foi o primeiro a ser colocado na lista restrita e os dez homens foram efetivamente proibidos de trabalhar na indústria. Para alguns, nenhuma ligação concreta com o comunismo pôde ser encontrada. Porém, atos simples como se recusar a testemunhar, não denunciar nomes de "insurgentes" ou defender a Quinta Emenda (as pessoas "não podem ser testemunhas contra si próprias") já eram suficientes para o comitê confirmar suas suspeitas. Todos os 10 foram condenados por desacato ao Congresso.
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'Red Channels: A Reportagem da Influência Comunista no Rádio e Televisão'
Em 1950, após o início das reuniões do HUAC com membros de Hollywood, o boletim de direita Counterattack publicou uma edição especial intitulada 'Red Channels: A Reportagem da Influência Comunista no Rádio e Televisão'. Nada menos que 151 indivíduos da indústria do entretenimento foram listados como células comunistas em Hollywood. Este catálogo tornou-se a lista restrita definitiva de Hollywood, com muitos outros nomes sendo adicionados com o passar dos anos.
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Dalton Trumbo
Dalton Trumbo estava no centro dos Dez de Hollywood. Ele era um roteirista aclamado, responsável por alguns dos maiores sucessos de Hollywood, mas sua carreira parou depois que foi colocado na lista dos comunistas de Hollywood. Trumbo continuou a escrever, mas não pôde colocar seu nome em seus trabalhos por mais de uma década, até 1960, quando Hollywood coletivamente o absolveu de suspeita.
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Jean Muir
A primeira atriz a ser colocada na lista de comunistas como resultado do 'Red Channels' foi Jean Muir. Aparecendo pela primeira vez no teatro aos 19 anos em 'O Jogo da Verdade', de 1930, Muir rapidamente se tornou uma estrela no palco e nas telas. Ela já tinha se queimado com a elite de Hollywood por ajudar a formar o Screen Actors Guild (o sindicato dos atores) e sua carreira efetivamente terminou quando seu nome se tornou associado ao comunismo.
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Edward G. Robinson
Edward G. Robinson foi um ator imensamente popular durante a Era de Ouro de Hollywood e apareceu em mais de 100 filmes. Mais conhecido por seu papel de protagonista em 'Alma no Lodo', de 1931, Robinson tinha sido um antifascista declarado durante a Segunda Guerra Mundial. Durante a Guerra Fria, no entanto, ele foi rotulado de comunista e colocado na lista restrita até que não aguentou a pressão do HUAC e jogou alguns de seus contemporâneos no fogo.
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Orson Welles
Amplamente aclamado como um dos maiores cineastas de todos os tempos, Orson Welles era um crítico franco do capitalismo e, portanto, visto como um defensor do comunismo. Welles já havia fugido para a Europa em busca de abrigo fiscal quando três páginas de 'Red Channels' foram dedicadas a ele. Mesmo estando a um continente de distância, isso não o protegeu do ostracismo.
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Dorothy Parker
Não foram apenas os profissionais da indústria cinematográfica que entraram na lista 'Red Channels'. Criativos de todos os tipos foram condenados, incluindo a proeminente poetisa e satirista, Dorothy Parker.
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Pete Seeger
Pete Seeger, um cantor folk politicamente ativo que tinha sido um comunista de carteirinha desde a guerra, foi proibido de se apresentar na televisão e perdeu seu contrato de gravação depois que seu nome apareceu na 'Red Channels'. Quando chamado à Washington, Seeger foi acusado de desacato ao tribunal e cumpriu um ano de prisão.
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Paul Robeson
O multifacetado Paul Robeson, jogador de futebol americano, cantor baixo barítono e ator, foi uma vítima frequente do macarthismo. Um defensor vocal dos direitos civis e da igualdade econômica, Robeson foi rotulado de comunista e banido da televisão em 1950.
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Charlie Chaplin
Rei indiscutível da era do cinema mudo, o inglês Charlie Chaplin sempre demonstrou suas opiniões e ideias políticas em seus filmes. Ele foi então rotulado de comunista e expulso dos Estados Unidos depois que o governo revogou sua permissão de reentrada.
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Burgess Meredith
A carreira de Burgess Meredith (à esquerda) durou várias décadas e ultrapassou por diversas mídias. Ele estrelou 'Ratos e Homens' de 1939 e apareceu na franquia Rocky das décadas de 1970 e 1980, mas isso não significa que sua carreira não passou por dificuldades. O HUAC decidiu que Meredith era comunista e ele praticamente desapareceu do mundo do cinema por mais de uma década como resultado disso.
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Lena Horne
Uma pioneira da representação afro-americana nas telonas, Lena Horne era adorada por fãs e críticos por sua bela voz e atuação. Enquadrada como comunista devido ao seu ativismo pelos direitos civis, a reputação de Horne foi manchada após a publicação de 'Red Channels', e ela foi forçada a trabalhar em boates já que não conseguia encontrar emprego como atriz.
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Langston Hughes
Um dos poetas mais importantes do século XX, Langston Hughes defendia a expressão poética da experiência afro-americana. Seu ativismo e opiniões políticas firmes sobre os direitos civis, no entanto, despertaram suspeitas e levaram seu nome a ser incluído no 'Red Channel'.
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Arthur Miller
O aclamado dramaturgo Arthur Miller (conhecido por escrever 'A Morte do Caixeiro-Viajante', de 1949, uma das peças mais populares da história americana) era um crítico aberto do macarthismo. Isso foi notoriamente expresso em sua peça de 1953, 'As Bruxas de Salem', na qual comparou a caça às bruxas comunista do século XX com a literal caça às bruxas americana do século XVII. Miller foi intimado pelo HUAC em 1956 e, depois de se recusar a revelar os nomes de quaisquer conspiradores comunistas, foi acusado de desacato ao tribunal e colocado na lista restrita do teatro.
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Gypsy Rose Lee
A icônica dançarina burlesca, Gypsy Rose Lee, foi uma defensora vocal da política liberal ao longo de sua carreira, levando-a a eventualmente ser colocada na lista restrita para apresentações de rádio e televisão no auge do macarthismo.
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John Garfield
John Garfield, um ator de Hollywood duas vezes indicado ao Oscar, fez parte da infinidade de criativos chamados perante o HUAC que não tinham afiliações comunistas, mas, recusando-se a nomear quaisquer nomes, foi preso por desacato ao Congresso e colocado na lista de qualquer forma.
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Walter Bernstein
O prolífico roteirista Walter Bernstein foi listado no 'Red Channels' devido às suas afiliações com inúmeras organizações de esquerda. Apesar de estar na lista de comunistas, Bernstein continuou a encontrar trabalho escrevendo sob uma série de pseudônimos.
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Judy Holliday
Uma estrela amplamente respeitada no palco e nas telas, Judy Holliday era mais conhecida por sua performance vencedora do Oscar em 'Nascida Ontem', de 1950. Quando levada perante o HUAC, Holliday cimentou sua oposição ao stalinismo, mas defendeu o direito dos americanos à liberdade de expressão, independentemente de suas inclinações políticas.
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Lee Grant
A nova-iorquina Lee Grant (à esquerda) mal tinha colocado o pé em Hollywood quando foi colocada na lista de comunistas. Seu primeiro papel em 'Chaga de Fogo', de 1951, rendeu a Grant uma indicação ao Oscar, mas não demorou muito para que ela fosse rotulada de comunista. Durante os anos do macarthismo, Grant trabalhou como atriz de teatro e professora, mas fez um retorno admirável na década de 1960.
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Dashiell Hammett
Campeão de histórias de detetive no século XX, o romancista Dashiell Hammett deu à luz tramas imensamente populares, como 'Relíquia Macabra' e 'A Ceia dos Acusados'. Quando não estava ocupado escrevendo, Hammett atuava como presidente do Congresso dos Direitos Civis (Civil Rights Congress - CRC), uma organização cujo propósito era pagar as fianças de presos políticos. A CRC acabou sendo oficialmente designada como uma organização comunista e Hammett foi parar na lista restrita e na prisão.
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Sidney Poitier
Uma das personalidades mais fortes do mundo do cinema, Sidney Poitier foi colocado na lista de comunistas no início de sua carreira devido às suas associações com outras figuras proeminentes na lista, como Paul Robeson. Felizmente, seu banimento não durou muito tempo e ele foi capaz de promover sua carreira como um dos maiores atores de sua época.
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Marsha Hunt
Um rosto onipresente na Era de Ouro de Hollywood, Marsha Hunt é conhecida por suas atuações em clássicos como 'Trunfos na Mesa', de 1937, e 'Orgulho e Preconceito', de 1940. Membro do conselho do Screen Actors Guild, Hunt participou de um protesto contra o HUAC, conseguindo um lugar no 'Red Channel' e sendo posteriormente colocada na lista restrita de Hollywood.
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Hazel Scott
A célebre pianista de jazz, Hazel Scott, cresceu tão rapidamente em popularidade que conseguiu seu próprio programa de televisão, 'The Hazel Scott Show', aos 30 anos. Sua atividade no início do movimento dos direitos civis, no entanto, levou ao cancelamento de seu programa depois que seu nome apareceu no 'Red Channels'. Scott se mudou para a Europa e continuou se apresentando na França, não retornando aos Estados Unidos por décadas.
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Harry Belafonte
O cantor e ator Harry Belafonte era amigo próximo de Sidney Poitier e Martin Luther King Jr., e um dos organizadores da Marcha sobre Washington de 1963. Seu ativismo pelos direitos civis o expôs bastante ao HUAC. Com seu álbum 'Calypso', de 1956, Belafonte se tornou o primeiro artista solo da história a vender um milhão de cópias, mesmo assim, ele foi colocado na lista restrita de Hollywood no auge do macarthismo.
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Dolores del Rio
Amplamente considerada a primeira atriz mexicana a entrar em Hollywood, Dolores del Rio se tornou uma das maiores estrelas do século XX. Com o advento do macarthismo, no entanto, ela foi colocada na lista de comunistas da indústria cinematográfica americana como resultado de suas supostas ações antifascistas na Guerra Civil Espanhola.
Fontes: (History) (Slate) (InsideHook)
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Fama
Guerra fria
25/06/23
POR Notícias ao Minuto Brasil
Quando governos querem apagar uma ideologia de sua população, a arte é quase sempre o primeiro braço da cultura a ser atacado. Figuras proeminentes no cinema e na música, que detém o apreço e confiança do público por suas opiniões, podem se tornar inimigos perigosos do Estado se seus pontos de vista não estiverem alinhados com os do governo sob o qual operam. A perseguição a pessoas ligadas à cultura tem sido bastante comum ao longo da história. Nos Estados Unidos, porém, isso nunca foi tão difundido ou tão histérico quanto sob o macarthismo. Comumente comparado a uma caça às bruxas, as primeiras décadas da Guerra Fria foram repletas de comitês e tribunais governamentais dedicados a erradicar todos os últimos indícios de sentimento comunista, socialista ou anarquista na indústria do entretenimento americana. E muitas figuras proeminentes, várias das quais são celebradas hoje, pagaram, com suas próprias carreiras, por sua suposta insurgência.
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