Lula autoriza negociar Caixa e Funasa e discute trocas em bloco com centrão

A ideia do presidente, segundo integrantes do Palácio do Planalto, é articular as funções com os parlamentares em bloco, isto é, de forma conjunta, para que uma indicação possa contemplar um grupo político, e não apenas um partido.

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Política GOVERNO-CONGRESSO 12/07/23 POR Folhapress

(FOLHAPRESS) - Após a pressão de integrantes do centrão por mais espaços no governo, o presidente Lula (PT) deu aval para que aliados negociem cargos ao PP e Republicanos no primeiro escalão e também órgãos como Caixa Econômica Federal e Funasa (Fundação Nacional de Saúde).

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A ideia do presidente, segundo integrantes do Palácio do Planalto, é articular as funções com os parlamentares em bloco, isto é, de forma conjunta, para que uma indicação possa contemplar um grupo político, e não apenas um partido.

A avaliação de membros do governo e do centrão é a de que uma negociação ampla de cargos terá mais efeito para a formação da base parlamentar de Lula do que trocas pontuais na Esplanada.

A única certeza que há por ora entre auxiliares próximos do petista é que deputados do PP e Republicanos pediram e o presidente está disposto a oferecer dois ministérios a eles, mas os cargos que serão ofertados não estão fechados.

Se Lula arrastar a negociação, isso deverá frustrar uma ala do centrão. Deputados aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), esperavam que as trocas ministeriais começassem a ser feitas entre esta e a próxima semana, quando os principais líderes do bloco parlamentar devem retornar a Brasília. Mas integrantes do governo sinalizam que Lula não pretende resolver a questão com essa celeridade.

Em live nesta terça-feira (11), Lula inclusive citou nominalmente os dois partidos ao tratar das negociações com partidos e ao mencionar legendas com quem mantém diálogo.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, a sinalização de que esses partidos poderão ocupar o primeiro escalão do governo foi dada no final da semana passada a líderes do centrão e foi crucial para destravar a votação do projeto do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fazendários), considerado matéria prioritária da pauta econômica do governo. Lira havia ameaçado deixar essa votação para agosto.

Os deputados André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) são os nomes apontados para ocuparem ministérios –dois parlamentares próximos a Lira. Como mostrou a Folha de S.Paulo, o centrão mira o Ministério do Desenvolvimento Social, atualmente chefiado por Wellington Dias (PT), e o Ministério do Esporte, chefiado por Ana Moser.

Além disso, também almeja o comando de estatais como Caixa, Funasa, Embratur e Correios. Ministros próximos de Lula, porém, afirmam que o martelo sobre os cargos a serem ofertados não está batido e que o presidente não tomará decisão açodada. A expectativa é que ele use o recesso parlamentar para negociar as trocas. No caso da Funasa, por exemplo, ainda é preciso definir como será a estrutura do órgão.

Em meio à pressão do centrão, aliados de Lula e a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, têm dado recados para que o Planalto blinde o Ministério do Desenvolvimento Social, que cuida do Bolsa Família. O presidente avalia que Wellington Dias tem um desempenho ruim como ministro, mas tem resistido a ceder a pasta responsável pela principal vitrine social do PT.

Dois ministros consideram difícil que o presidente ceda a pasta, ainda mais para o PP, comandado por Ciro Nogueira (PP-PI), adversário de Wellington no estado.

Há entre governistas a percepção de que será preciso cortar cargos do próprio PT e entre as possibilidades de arranjos, aliados de Lula não descartam nem que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) possa ser remanejado do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Questionado sobre a pressão por uma reforma ministerial ampla, Lula afirmou na quinta (6) que "não é a pessoa que quer vir para o governo que escolhe o cargo, quem escolhe o cargo é o governo".

O governo também resiste a ceder a Embratur, atrelada ao Ministério do Turismo, que passará a ser comandado pelo deputado Celso Sabino (União Brasil-PA), no lugar da deputada Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ), que pediu para se desfiliar do partido. A estatal é comandada por Marcelo Freixo (PT), aliado próximo de Lula.

No lugar da Embratur, Lula deu aval a negociar outras estatais. No caso da Caixa, a própria presidente da instituição, Rita Serrano, tem sido alvo de críticas no governo e do próprio PT, e por isso aliados do mandatário avaliam que deve ser mais fácil ceder o comando do banco.

O nome mais citado para substituí-la é o de Gilberto Occhi (PP), que foi ministro das Cidades no governo Dilma Rousseff (PT) e ex-presidente da Caixa. O banco é o responsável por realizar os pagamentos das parcelas do Bolsa Família e também por liberar financiamentos para o Minha Casa, Minha Vida.

Embora citado por aliados, o governo ainda não procurou o ex-ministro para conversar.

No caso da Funasa, ainda há discussão sobre o que será feito do órgão, mas no Palácio do Planalto já é dado como certo que o comando dela será fruto de indicação política.

A fundação, que atua em obras de saneamento básico em cidades pequenas, historicamente serviu para acomodações políticas. O governo planejava extingui-la, mas o Congresso Nacional decidiu recriá-la durante votação da MP (medida provisória) que organizou a Esplanada dos Ministérios.

Com isso, o governo precisa regulamentá-la e planeja enxugar o espaço que antes tinha a estatal.

A Funasa teve orçamento de R$ 3,4 bilhões em 2022, no governo Jair Bolsonaro (PL), com estruturas distribuídas pelas 27 unidades da Federação.

Parlamentares do centrão que estão familiarizados com as negociações admitem ser difícil conseguir o comando das três estatais, mas indicam que podem encontrar um meio-termo. A expectativa é que haja compensações. Por exemplo, a União Brasil almeja a Embratur, mas pode ficar com a Funasa no lugar, já que o governo não quer abrir mão de Freixo no órgão.

Segundo relatos, Lula espera gestos dos parlamentares para consolidar a articulação política. Por mais que o chefe do Executivo ceda os ministérios, nem PP nem Republicanos entrarão oficialmente no governo. Ciro Nogueira já disse que não deixará de ser oposição.

O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, também diz que não vai aderir à base e tem afirmado que, se Silvio Costa Filho se tornar ministro, será na cota pessoal de Lula. Ambos os partidos, porém, têm alas governistas e que têm dado votos ao governo em matérias importantes –por isso, Lula deu aval à entrada deles no governo.

A ministra do Esporte, Ana Moser, se reuniu com Lula por cerca de meia hora no Planalto, nesta terça. Questionada sobre a pressão por sua pasta, ela disse que "faz parte", mas que o presidente lhe deu bastante trabalho e algum tempo para cumpri-lo.

Moser também saiu do encontro com a missão de oficializar na Copa do Mundo feminina a candidatura do Brasil para sediar o próximo torneio. Ela embarca na próxima segunda-feira (17).

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