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Os ministros do governo Luiz Inácio Lula da Silva descumpriram a ordem do presidente e não intensificaram a frequência de viagens pelo Brasil. A "bronca" do petista na reunião ministerial de 15 de junho não surtiu efeito nos 30 dias após o encontro. A presença dos chefes das pastas nos Estados foi menor em comparação com as quatro semanas anteriores à agenda.
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Na reunião, Lula cobrou dos ministros mais viagens ao redor do País, argumentando que os chefes das pastas precisavam ter um contato direto com as necessidades dos brasileiros. "Eu quero mais ministros viajando. Quanto mais ministro viajar, mais o governo estará presente vivendo a realidade que o povo brasileiro está vivendo e tentando fazer de tudo para atender às suas necessidades. É este o governo a partir de agora", disse o presidente em live promovida pela gestão dele.
Levantamento do Estadão, a partir das agendas dos ministros disponíveis no site da Controladoria-Geral da União (CGU), atestou que a cobrança do petista não foi suficiente para impactar o fluxo de viagens dos ministros. A reportagem analisou os compromissos de 35 dos 37 ministros do governo, desconsiderando os chefes da CGU e da Advocacia-Geral da União (AGU) por causa das características das pastas.
Nos 30 dias que se passaram desde a reunião, a tendência se manteve abaixo da frequência de deslocamentos nas quatro semanas anteriores ao encontro dos membros do governo.
No período a analisado, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira não viajou pelo País. Segundo a assessoria, ele cumpriu outros compromissos em Brasília e na Itália, onde participou, na semana passada, de um evento mundial do agronegócio. Na semana que vem, de acordo com a equipe, Teixeira vai percorrer a Região Nordeste para apresentar o novo Plano Safra.
O ministro-chefe do Gabinete do Segurança Institucional (GSI), general Marcos Antônio Amaro dos Santos, também não viajou nos últimos 30 dias. O ministério comandado por ele é voltado para, entre outras atribuições, a segurança do presidente e do vice-presidente, além dos familiares deles e dos palácios de governo.
Já a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, foi a que mais viajou depois da reclamação de Lula. Tebet fez 13 viagens a 12 Estados. A maioria dos compromissos teve como objetivo a apresentação do Planejamento Plurianual (PPA) Participativo, instrumento para programação do destino de recursos públicos do governo.
Ministros aumentam presença no Sul
Apesar de não aumentarem o número de viagens, os ministros se espalharam mais pelo País em comparação com as semanas anteriores à reunião. Antes, a metade dos compromissos nos Estados se concentrava na Região Sudeste, com pouca frequência em outras regiões como Centro-Oeste, Norte e Sul. Nos últimos 30 dias, os chefes das pastas diminuíram a presença no Sudeste, enquanto aumentaram o número de viagens para outras partes do Brasil.
Da posse de Lula até a véspera da reunião ministerial, há registro de 494 agendas nos Estados, sendo 246 no Sudeste (49,8% do total). O Nordeste, reduto eleitoral do petista, recebeu 162 compromissos (32,8%). Outras 36 visitas ministeriais foram no Norte (7,28%); 28, no Sul (5,67%); e 22, no Centro-Oeste (4,45%).
Do dia 16 de junho até a última sexta-feira, 14, foram realizadas 133 agendas. O Sudeste e o Nordeste continuaram sendo as regiões mais visitadas, com 50 (37,6%) e 28 (21,1%) do total de viagens, porém, com um porcentual menor do que o apresentado antes do encontro ministerial. A frequência de viagens no Sul representou 20,3% do total de visitas (27 viagens). O Norte e o Centro-Oeste também passaram a ser mais percorridos, com proporção de 12,8% (17 viagens) e 8,3% (11) do total compromissos, respectivamente.
De acordo com o cientista político do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), André Rosa, a dispersão das agendas dos ministros pelo País pode representar uma estratégia de Lula para as eleições municipais do ano que vem, nas quais o PT busca ter um crescimento do número de prefeituras. "O partido perdeu muitas cidades nas eleições de 2020 e agora precisa correr atrás do prejuízo", afirmou.
O foco na Região Sul, segundo Rosa, representa a ambição eleitoral de Lula para aumentar a presença em redutos menos ligados ao petismo. No segundo turno das eleições do ano passado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu o atual chefe do Executivo por 58,9% a 41,1% dos votos válidos. "É uma estratégia já visando ali um fortalecimento da popularidade em regiões que são mais hostis."
Aumento de gastos é ponto de atenção
Para o cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Tiago Valenciano, as viagens ministeriais auxiliam o Planalto a reduzir a impressão de que os debates governamentais estão centrados em Brasília. "Lula quer manter espalhado o poder, não deixando outras pessoas ocupando esses espaços", disse.
"Ao fazer esses esforços de descentralização, o governo consegue mostrar presença em outros espaços do País. Portanto, no efeito regional, a viagem é muito positiva e importante para a imagem pública do governo", analisou Valenciano.
André Rosa acredita que o período atual, contudo, não é o mais recomendado para a maratona de viagens exigida por Lula. "Não é momento de mostrar resultado ainda porque esse resultado ainda não ocorreu. O mandato ainda está começando, com sete meses. Os ministros devem estar locados na Esplanada dos Ministérios", afirmou.
Outro ponto de alerta com o aumento de viagens é o igual crescimento dos gastos públicos. Para o cientista político, os deslocamentos devem ser feitos de forma racionalizada, com poucos integrantes em comitivas e priorizando encontros estratégicos. Segundo ele, um grande número de compromissos de Estado para a inauguração de obras e outros eventos simbólicos não representam uma boa forma de administração do dinheiro público.
"A quantidade exacerbada de viagens dos ministros usando recursos financeiros públicos é algo que vai totalmente contra a ética na política. Obviamente que há viagens estratégicas, que são realmente necessárias e importantes. Agora, viagem para inaugurar obra, para questões mais simbólicas, é um desperdício de recurso público", explicou.
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