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O aleitamento materno reduz em até 13% as mortes de crianças, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, apenas 45,7% dos bebês são amamentados exclusivamente com leite materno até os primeiros seis meses de vida, como preconiza o órgão global. Mas, se o leite materno é gratuito, tem absolutamente todos os nutrientes, vitaminas e minerais que os bebês necessitam e ainda contribui para a saúde da criança e da mãe, por qual razão é desprezado?
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Coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal e Maternidade do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), a médica pediatra Michelle Marchi de Medeiros explica que, apesar de alguns avanços, o tema ainda é envolto em muitas informações desencontradas. “Entre os mitos da amamentação, um dos principais está relacionado ao volume da mama. Há a crença de que quem tem a mama pequena produz pouco leite, e isso não é verdade. O que dá o tamanho e o formato da mama é a quantidade de tecido gorduroso, e o que produz o leite é o tecido glandular. Então, mulheres com mama pequena podem produzir a mesma quantidade de leite que mulheres com mamas grandes”, explica.
“Outro mito comum é o do leite fraco. As pessoas acreditam que, pelo leite materno ter uma cor e densidade diferentes, por exemplo, ao do leite de vaca, que ele seja mais fraco, o que também não é verdade. Acham, inclusive, que o fato de o bebê dormir pouco e logo acordar para mamar novamente tem relação com isso, mas não procede”, completa.
A especialista acrescenta que os mitos não param por aí. “Acredita-se que beber muita água aumenta a produção de leite. Algumas mães, por exemplo, ingerem de 5 a 6 litros de água por dia, mas não há comprovação científica que a hiper-hidratação aumente o volume do leite”, diz. “Claro que estar bem hidratada, com uma garrafinha de água por perto, é muito bom e saudável, especialmente neste momento da amamentação, mas nada de excessos”.
A alimentação é outro ponto importante para manter a mãe saudável e compartilhar isso com o bebê. “Existem teorias de que alguns alimentos aumentam o leite, tipo canjica e cerveja preta, mas também não há comprovação científica para isso. Bebidas alcoólicas, na verdade, são contraindicadas durante o período de amamentação. Outros alimentos, como chocolate e feijão, têm fama de causadores de cólicas, mas isso também não é provado. Ou seja, nenhum alimento está restrito na alimentação da mãe, apenas as bebidas alcoólicas”.
A médica explica que, embora sejamos mamíferos, a amamentação exige aprendizado. “Vale tanto para a mulher, que está aprendendo a amamentar, quanto para o bebê, que está aprendendo a mamar. Este processo tem interferência de inúmeros fatores, tais como a idade gestacional do bebê, existência de certas patologias que a mãe possa ter desenvolvido durante a gestação ou previamente, peso de nascimento do bebê... enfim, várias coisas que podem interferir na amamentação. Por isso, é essencial o acompanhamento pré-natal e, se possível, incluir a visita a um pediatra neste período, a fim de buscar orientações sobre a amamentação antes do parto”, sugere.
Segundo a especialista, logo após o parto, durante a permanência na maternidade, é essencial que a equipe assistencial forneça o suporte para a mãe, esclarecendo dúvidas, dando apoio psicológico, ensinando a forma de pega correta e desmistificando os pontos citados anteriormente. “Também é bom que a mãe aproveite para extrair o máximo de conhecimento com o auxílio das técnicas de enfermagem, das enfermeiras e dos médicos do hospital, pois eles têm uma capacitação técnica para auxiliar na amamentação”.
Claro que, neste momento, a mãe colocará em prática tudo o que viu na teoria por nove meses, por isso, é natural que, após a alta médica, novas dúvidas surjam. “Em qualquer situação de dúvida ou de problemas, busque ajuda. O pediatra, consultoras de amamentação e redes de apoio estão disponíveis para auxiliar e estimular que o aleitamento seja mantido”, alerta Michelle.
Benefícios
O aleitamento gera inúmeros benefícios para o bebê e para a mãe. “Inicialmente, podemos citar o crescimento do vínculo entre mãe e bebê, que permite uma sensação de bem-estar. Reduz a depressão pós-parto, reduz o risco de câncer de mama e ovário e diminui as chances de hemorragias, pois favorece a contração do útero e sua involução, permitindo que retorne mais rápido para o seu lugar. Já para o bebê, são infinitas vantagens. As principais são em relação ao sistema imunológico, que fica mais fortalecido, atua contra infecções respiratórias e gastrointestinais, favorece o crescimento, o desenvolvimento intelectual, protege contra a obesidade, o diabetes e contra diversos tipos de alergia”, elenca.
Novos protocolos já representam avanços para o apoio ao aleitamento materno. No Vera Cruz Hospital, a maternidade conta com uma equipe capacitada, que, já nos primeiros momentos após o parto, visa o bem-estar da mãe e do bebê e o estreitamento dos laços. “Chamamos de ‘golden hour’ (hora de ouro), que é a primeira hora de vida dos bebês que têm partos bem-sucedidos e as mães estão bem. Levamos a criança à sala de parto para ter contato pele a pele com a mãe e para que possa mamar. Isso fortalece o vínculo”, explica.
Durante o parto e a internação da mãe e do bebê, a equipe zela pelo incentivo ao aleitamento materno, pelo acolhimento e atenção dispensada às mães e pelos cuidados com os bebês que chegam ao mundo pelas mãos dos profissionais do hospital. “Reforçamos sempre que é possível vencer dificuldades eventuais e garantir aos recém-nascidos, inclusive na UTI Neonatal, esse alimento tão importante”, conclui.