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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os líderes do golpe de Estado no Níger anunciaram na noite deste domingo (13) que irão processar o presidente eleito, Mohamed Bazoum, por "alta traição" e por "minar a segurança interna e externa" do país.
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As acusações foram feitas após os militares ameaçarem assassinar Bazoum caso países vizinhos façam qualquer intervenção armada para restabelecer o governo deposto, em anúncio com ampla repercussão negativa. Agora, os líderes do golpe dizem ter reunido as "provas necessárias" para processá-lo.
"O governo nigerino reuniu [...] evidências contra o presidente deposto e seus cúmplices locais e estrangeiros, junto às instâncias nacionais e internacionais competentes, por alta traição e por minar a segurança interna e externa do Níger", disse o coronel Amadou Abdramane, um dos líderes da junta militar.
Em discurso televisionado, Abdramane ainda acusou opositores de alimentar uma campanha de desinformação contra a junta militar para, segundo ele, tentar "inviabilizar qualquer solução negociada para a crise". As difamações, acrescentou, ainda seriam usadas para justificar uma intervenção externa no país africano. Na semana passada, a Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) determinou a mobilização de uma "força de prontidão" para possível ação armada no Níger.
A União Africana, a União Europeia, os Estados Unidos e a ONU vêm manifestando preocupação com a saúde Bazoum, que não é visto em público desde que foi deposto, no último dia 26. De acordo com o partido do ex-líder, ele e sua família estão detidos em sua residência e sendo mantidos em condições "desumanas", sem água corrente, eletricidade, acesso a alimentos frescos ou atendimento médico.
Líderes da junta rebatem as acusações de maus-tratos e dizem que Bazoum faz consultas médicas com frequência. A última delas, segundo Abdramane, teria acontecido no sábado (12). "O médico não levantou preocupações relacionadas ao estado de saúde do presidente deposto e de membros da sua família."
Mais de duas semanas após o golpe, representantes da Cedeao voltaram a pedir diálogos. Líderes do bloco anunciaram no sábado um acordo para enviar um comitê a Niamey com o objetivo de discutir a crise, mas o cronograma ainda não havia sido definido.
Integrantes do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, fórum que reúne 55 países do continente, também devem se reunir em caráter de emergência nesta segunda para discutir a crise no Níger, país considerado estratégico para potenciais globais. Nações como França e EUA usam o território nigerino como base para combater a insurgência de grupos terroristas jihadistas na região do Sahel.
Desde que o Níger se tornou independente da França, em 1960, diversas tentativas de golpes de Estado ocorreram no país. Quatro delas foram exitosas, a última em fevereiro de 2010, quando Mamadou Tandja foi deposto. Bazoum assumiu a Presidência em abril de 2021. À época, militares tentaram tomar o palácio presidencial, mas a ordem foi restaurada, na primeira transferência de poder democrática no país.
À medida que a insegurança aumenta, a influência russa vem crescendo. Em manifestações contra a interferência francesa no país, manifestantes exaltaram o presidente Vladimir Putin e exibiram bandeiras da Rússia.
Líderes de países ocidentais temem que o golpe no Níger possa aumentar a influência do grupo paramilitar Wagner na região. Ievguêni Prigojin, chefe da força mercenária que liderou um fracassado motim contra o governo Putin em junho, celebrou o golpe e ofereceu os serviços de seus combatentes.