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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As paredes amarelas com autógrafos de mais de 500 personalidades que passaram pela sede do Podpah, no bairro nobre de Pinheiros (zona oeste de São Paulo), são uma das evidências do sucesso do podcast comandado pelo paulista Igor Cavalari, o Igão, 27, e o paraense Thiago Marques, o Mítico, 32.
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Em seus três anos de programa, os dois já levaram para os seus domínios e entrevistaram personalidades tão distintas como Mano Brown, Luciano Huck, Cauã Reymond, Maísa, Gabigol, Drauzio Varella e o presidente Lula, seis meses antes de o petista oficializar sua candidatura ao cargo que ocupa hoje -o programa chegou a quase 300 mil espectadores simultâneos, um dos recordes até então.
Igão considera que o segredo para levarem quem eles querem ao programa é a certeza que os entrevistados têm de que estarão em boas mãos. "Somos dois moleques que não gostam de confrontar ninguém. Por isso muitos acabam se abrindo", diz.
Com entrevistas longas (a maioria delas dura mais de duas horas) e clima de absoluta informalidade, mais ou menos como num papo em mesa de bar, o Podpah alcançou números impressionantes: são mais de 2 bilhões de visualizações em seu canal no YouTube, onde há quase 1.000 conteúdos disponíveis. O faturamento é coerente com tamanha visibilidade. Só nos primeiros seis meses de 2023, o programa gerou receitas superiores a R$ 18,5 milhões.
E eles querem mais. Sob os olhares e direcionamentos do CEO Victor Assis, acabam de estrear o quinto programa em sua grade, o Podpah Visita com Pedro Scooby, planejam uma festa temática com lineup de trap e rap para 3.000 pessoas em outubro (a PodParty), primeira investida na área de eventos, que eles também já perceberam ser um nicho interessante. Leia a seguir a entrevista de Igão e Mítico à Folha de S.Paulo:PERGUNTA - Qual o segredo para os artistas se abrirem tanto com vocês?
IGÃO- Os artistas ficam felizes, pois sabem que a gente é de boa. São conversas reais. Às vezes, falamos sobre um monte de coisas, abrimos vários parênteses, sugerimos teorias e não concluímos nada. Apenas flui. Somos dois moleques comuns que não gostam de confrontar ninguém. A maioria das intimidades que os convidados falam partiu deles, tomam uma cerveja e ficam à vontade.
MÍTICO - Quando o convidado chega e vemos que ele está tenso, nós vamos cumprimentá-lo e falamos, olho no olho, que não queremos saber da polêmica dele e que cagamos para quem ele namora. Eu sinto que a pessoa vai se desarmando. Muitos esquecem até que está filmando.
P. - Antes vocês bebiam mais durante os papos. Por que pararam? Medo de cancelamento?
IGÃO - Temos a preocupação de ser responsáveis, mas não estamos aqui para educar ninguém. Antes nós bebíamos mais na vida em geral, mas agora estamos diminuindo em 90%. Foi natural.
MÍTICO - Vinha muito MC aqui com garrafa de uísque. Eles achavam que se não bebêssemos era ofensa. Fomos amadurecendo, nos preocupando mais com a imagem, com as marcas que nos patrocinam. Não acho mais da hora ficar bebendo. Morria de vergonha alheia.
P. - Vocês são melhores amigos? Como essa amizade evoluiu?
IGÃO - Uma vez chamei o Mítico para fazer um vídeo no meu outro canal e ele deu a ideia do podcast. Nunca rola treta entre a gente, pelo contrário, nos respeitamos muito. Quando vejo que ele está meio pah (cabisbaixo) eu fico na minha, já nos olhamos.
MÍTICO - Em 2015, eu vim morar num barraco em SP e fomos virando parceiros. Quando chamei ele para o Podpah ainda não tínhamos essa amizade forte. Eu precisava de alguém do meu lado que entendesse das ruas, um cara vindo da periferia. E o Igão é esse cara. Hoje em dia parecemos até marido e mulher, só não fazemos a parte boa de marido e mulher (risos).
P. - Mítico saiu da periferia de Belém (PA), e Igão da de Osasco. Hoje vocês têm dinheiro e prestígio. Como não se deslumbrar?
IGÃO - Quem é da periferia e me vê com carrão fica feliz por mim. O que fazemos é sempre lembrar quem somos e de onde viemos, manter por perto os amigos e a família. O Podpah nunca visou dinheiro, se ganhamos bastante é justamente porque nunca visamos grana. Vender o Podpah hoje é mais fácil, mas no começo as marcas não sabiam se aqueles dois moleques eram confiáveis.
MÍTICO - Sempre falei para o Igão: se essa parada crescer e der dinheiro, não sejamos idiotas, pois todo sócio briga. A gente divide tudo. Vim da quebrada de Belém e penso em dar um retorno e ajudar meu estado. Se eu conseguir chegar aos 50 anos com nível de grana alto, eu poderia chegar no governador e falar: 'Dá licença que eu tenho grana o suficiente para ajudar meu estado'. Já debatemos isso: se nós chegarmos num ponto de ter dinheiro para caramba, não vamos ser uns merdas. Quero devolver para minha família e para o meu pessoal.
P. - Vocês quase foram um braço do (podcast) Flow. Por que decidiram ser independentes?
IGÃO - Essa decisão foi tomada de forma minuciosa por nós. Era nosso futuro em jogo e o projeto das nossas vidas. Queríamos tomar as decisões. Eu e o Mítico nem éramos tão amigos, mas fomos virando. Não foi por grana, era questão de ser dono do próprio nariz, cuidar do nosso filho.
MÍTICO - Não era nada contra os caras, mas já percebemos que existia potencial no primeiro mês do Podpah. Também sabíamos que não seria só um podcast, o Podpah poderia ir além. Eu já fui DJ, já fiz vlog, série, teatro, então tenho facilidade em me reciclar.
P. - Em dezembro de 2021, Lula foi entrevistado por vocês. Acham que influenciaram na vitória dele nas eleições do ano seguinte?
IGÃO - Vencer eu não sei, pois quando ele veio não era nem candidato. Mas ficamos felizes por receber um cara dessa magnitude.
MÍTICO - Teve uma galera jovem que não o conhecia e começou a conhecer. Quem já gostava teve identificação. Foi em um momento que era necessário um discurso mais leve.
P. - Até onde querem chegar? O que ainda falta conquistar?
IGÃO - O futuro é dar atenção para nosso público, para os periféricos, fazemos de tudo para entrar em todas as frentes. Eu, de verdade, almejo ter um Domingão do Igão, seja na TV, no YouTube. Quero me tornar uma grande potência de comunicação do país.
MÍTICO - Me vejo trabalhando em entretenimento para sempre. O Luciano Huck disse que tem tempo para fazer tudo, então dá para chegar nesse nível. Me vejo num palco, a galera gritando... Será que um dia vamos chegar nisso?