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O Ibovespa chegou ao fim de março com alta de 16,97% no mês, o que configura o maior ganho mensal do índice desde outubro de 2002. No primeiro trimestre, a valorização acumulada foi de 15,47%, acima do patamar de 50 mil pontos. O avanço mensal se manteve apesar da queda de 2,33% registrada nesta quinta-feira, 31. Com o desempenho das últimas quatro semanas, a bolsa liderou o ranking de investimentos de março. O dólar ficou no último lugar da lista ao perder 10,1% do valor em relação ao real no mês, encerrando a quinta-feira cotado a R$ 3,5913.
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Segundo analistas do mercado, os desdobramentos da Operação Lava Jato e o andamento do processo de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados impulsionaram a bolsa e a moeda brasileira, seguindo a interpretação de que um novo governo pode destravar o País e fazer a economia voltar a crescer. "A bolsa sempre antecipa o fato, não espera concretizar. O mercado percebeu uma chance grande de mudança de governo e vê que, com uma nova base, medidas vão ser tomadas para fazer o País andar", diz o administrador de investimentos Fabio Colombo.
No começo do mês, a Polícia Federal deflagrou uma operação tendo o ex-presidente Lula como o principal alvo, com base em investigações sobre a compra e reforma de um sítio em Atibaia frequentado pelo petista e a relação com empreiteiras investigadas na Lava Jato. O mercado financeiro reagiu ao episódio, e o movimento de alta da bolsa ganhou força com a divulgação do áudio de uma ligação entre Lula e Dilma, após o ex-presidente ter aceitado o cargo de ministro da Casa Civil sob acusações de interesse no foro privilegiado concedido pelo posto. Um impasse jurídico impede atualmente a nomeação de Lula como ministro.
Destaques
Na bolsa, os principais destaques positivos ficaram com empresas estatais. Os papéis do Banco do Brasil tiveram valorização de 46,72% no mês, enquanto Petrobras ON subiu 44,22% e PN, 61,87%, impulsionados também pela recuperação do preço do petróleo no exterior.
Segundo o analista da Gradual Corretora Gesley Florentino, o bom humor dos investidores beneficiou o setor financeiro como um todo, assim como o setor siderúrgico. "A expectativa de mudança de governo e a entrada de fluxo estrangeiro foram alguns dos fatores que impulsionaram esses ativos", disse o analista.
Para Colombo, a bolsa e o real têm espaço para continuar o processo de valorização caso o impeachment se concretize nos próximos meses, apesar dos contínuos sinais de fraqueza da economia. Na renda fixa, Colombo destaca que os fundos estão empatando ou até mesmo perdendo para a inflação, se considerados os descontos com as taxas de administração e imposto de renda.
Exterior
Para o economista-chefe da Gradual, André Perfeito, o movimento da bolsa e do dólar no Brasil também foi sustentado pelos mercados internacionais diante da melhora do preço de commodities e da sinalização de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) não vai subir os juros em abril. "Operar bolsa e dólar olhando apenas para Brasília pode não ser a coisa mais sensata a se fazer agora", alerta. Perfeito acredita que o Fed ainda deve subir os juros este ano e estima o dólar a R$ 4,04 no fim de 2016.
Dia
Hoje, depois de uma sequência de altas, o mercado brasileiro de ações sucumbiu à uma forte onda de correções, que levou a Bovespa a fechar em queda de 2,33%, aos 50.055,27 pontos. A queda das ações no pregão desta quinta-feira foi atribuída em parte a uma realização dos lucros recentes, mas também a dúvidas sobre o cenário político. No mercado de câmbio, o dólar à vista terminou o dia em baixa de 0,61%, cotado a R$ 3,5913.
Entre as 61 ações que fazem parte do Ibovespa, apenas três fecharam em alta: JBS ON (+3,11%), Qualicorp ON (+1,99%) e Rumo Logística ON (+1,21%). Já as maiores baixas do índice ficaram com Klabin Unit (-6,17%), Lojas Americanas PN (-5,22%) e Marfrig ON (-4,56%).
"A bolsa subiu na euforia com a política sem motivos concretos e, por isso, agora está sofrendo realizações", comentou Ariovaldo dos Santos, gerente da mesa de Bovespa da Hencorp Commcor. De acordo com ele, os comentários do presidente do Senado, Renan Calheiros, de que o rompimento do PMDB com o governo teria sido precipitado também alimentou incertezas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.