Empresas enxugam trabalho remoto e voltam a ampliar escritórios

A redução do trabalho remoto, com o acréscimo de dias no modo presencial, é uma das razões apontadas por consultorias do setor para o saldo positivo de locações, especialmente em São Paulo, onde esse mercado está concentrado.

© Jacky Chiu / Unsplash

Economia EMPRESAS-TRABALHO 26/08/23 POR Folhapress

NATALIE VANZ BETTONI E FERNANDA BRIGATTICURITIBA, PR, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O mercado de escritórios registrou resultados positivos no segundo trimestre deste ano, puxado principalmente pelas negociações de lajes corporativas de alto padrão.

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A redução do trabalho remoto, com o acréscimo de dias no modo presencial, é uma das razões apontadas por consultorias do setor para o saldo positivo de locações, especialmente em São Paulo, onde esse mercado está concentrado.

A absorção líquida –ou seja, o saldo entre as devoluções e contratações– ficou em 43,7 mil metros quadrados em São Paulo, segundo a consultoria Newmark. Nas regiões que concentram os escritórios de padrão A e AA, o saldo positivo foi de 14 mil m² no último trimestre, de acordo com a JLL.As empresas também começaram a registrar um aumento nas metragens das locações. Esse dado indica o tamanho de quem está procurando.

Yara Matsuyama, diretora de locações de escritórios da JLL, diz que cresceram os negócios fechados com metragem acima de 1.000 m², indício da recuperação do mercado de alto padrão.Entre o início de 2022 e o primeiro trimestre de 2023, cerca de 85% dos negócios fechados pela JLL eram de lajes abaixo de 1.000 m². Esse índice caiu para 70% no segundo trimestre.

Nessim Daniel Sarfati, fundador da Barzel Properties, diz que as grandes empresas ainda mantêm seus modelos mais flexíveis de trabalho. Por isso, as locações recentes são de lajes de até 2.000 m², que atendem a companhias de médio porte.Ele relata ter percebido, no entanto, um movimento de sondagem daqueles que, um dia, foram ocupantes de metragens maiores.

Bernard Kawakama, diretor de empreendimentos corporativos da Fibra Experts, que administra o Passeio Paulista (complexo multiúso recém-inaugurado na rua da Consolação), tem recebido visitas de interessados em metragens acima de 5.000 m².

As motivações para o interesse em locação são diversas. Há novas empresas, expansão ou mesmo a busca por localizações melhores. O grupo imobiliário CBRE diz ter identificado no trimestre grandes ocupações na região da avenida Paulista, especialmente de lajes acima de 1.000 m².

Yara, da JLL, diz que, com o retorno mais intenso das atividades presenciais a partir de 2022, cresceu também o interesse pela locação de espaços já mobiliados.

Na Barzel, a oferta de lajes sob medida, prontas para serem ocupadas, foi criada em 2022 como um investimento, diz o diretor de portfólio da empresa, Bruno Turaça. Agora, virou um produto oferecido pela companhia.

Custa mais para quem loca, mas a Barzel assume a responsabilidade pelas obras, adaptações e mobiliário. "O cara chega somente com o paletó", diz Nessim.

Relatório da CBRE mostra um aumento, já no primeiro trimestre de 2023, da taxa de retorno aos escritórios em São Paulo, movimento concentrado nas regiões da Paulista, Jardins e Marginal Pinheiros.

Levantamento feito em 500 prédios aponta que 80% dos escritórios estão com taxa de retorno acima de 70%. Em 45%, passa de 90%. No último trimestre de 2022, eram 59% os que tinham taxa de retorno acima de 70%.

Nessim, da Barzel, diz que cerca de 18 mil pessoas têm passado diariamente pelos prédios administrados pela empresa. Em março de 2020, a média diária ficava em 20 mil.

"Sem dúvida, nos últimos meses, o modelo híbrido foi consolidado, mas agora temos visto muitas empresas pedindo o retorno dos funcionários. Com isso, o setor de escritórios tem performado melhor", afirma Fernando Didziakas, sócio-diretor da Buildings, empresa especializada em pesquisa imobiliária corporativa.

Segundo dados da Buildings, a absorção líquida total em São Paulo, considerando todos os padrões de escritórios (e não somente os chamados triple A), saltou de 15 mil m² nos primeiros três meses deste ano para 100 mil m² no segundo trimestre.

No segundo trimestre deste ano, o preço do metro quadrado subiu, depois de oito trimestres de estabilidade. Segundo a consultoria Newmark, isso aconteceu porque houve vacância em edifícios valorizados. De uma faixa de R$ 87 a R$ 89 mensais, o preço médio por metro quadrado ficou em R$ 91,77.

OCUPAÇÃO DA FARIA LIMA É ALTA E SE ESPALHA POR OUTRAS REGIÕESEnquanto a taxa de vacância -indicador de metros quadrados livres para locação- geral fica entre 24,7% (segundo a Newmark) e 25,6% (segundo a JLL), o indicador na região da Faria Lima está entre 6,5% e 7%. A disputa por espaço na região acaba se espalhando pelos bairros vizinhos.

Dados da Newmark apontam que as regiões de Itaim, Faria Lima e Vila Olímpia tiveram os maiores valores médios por metro quadrado: R$ 227, R$ 203 e R$ 166, respectivamente, no segundo trimestre de 2023.

"Com a alta nos preços da região da Faria Lima, começa a surgir um movimento de reposicionamento de alguns inquilinos, que buscam edifícios modernos e valores de locação mais atrativos", diz Matsuyama, da JLL.

A diretora de locações de escritórios da consultoria cita também a região da Rebouças, que nos últimos anos recebeu o desenvolvimento de empreendimentos corporativos e de uso misto.

Na Vila Leopoldina, antigas fábricas têm sido convertidas em galpões mistos para uso comercial, como o que foi locado pelo Nubank no fim de 2022 para realização de eventos e treinamentos. A região também foi a escolhida pela paiN Gaming, de esportes eletrônicos.

Inaugurada em 2022, a arena custou R$ 10 milhões e levou três anos para ficar pronta. O complexo recebe torcedores em fins de semana para festas e campeonatos. "São 150 lugares, e os fãs ainda contam com tour por toda a estrutura. Isso só é possível desenvolvendo um local físico da organização, a casa dela", diz Sharis Endres, diretora de marketing.

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