Passo a passo de delação como a de Cid tem busca de provas e negociação de pena

Cid está preso de maneira preventiva desde maio por supostamente ter inserido dados falsos em cartões de vacinação, incluindo os de Bolsonaro e sua filha.

© Getty Images

Política MAURO-CID 09/09/23 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), manifestou na quarta-feira (6) ao Supremo Tribunal Federal a intenção de fazer um acordo de delação premiada, que pode afetar o ex-presidente e pessoas de seu entorno.

PUB

Cid está preso de maneira preventiva desde maio por supostamente ter inserido dados falsos em cartões de vacinação, incluindo os de Bolsonaro e sua filha. Ele também é investigado pelo vazamento de dados sigilosos sobre a urna eletrônica e por relação nos ataques golpistas do 8 de janeiro.

A situação do tenente-coronel se agravou em agosto, quando uma operação da Polícia Federal trouxe novos detalhes sobre a participação dele e do pai dele (o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid) na venda de joias presenteadas ao governo brasileiro e desviadas do acervo presidencial.

A proposta de delação de Cid foi feita no gabinete do ministro do STF Alexandre de Moraes, e, segundo o site G1, a polícia já aceitou firmar o acordo. A defesa de Cid pediu a liberdade provisória durante o encontro.

Caso sua delação seja homologada pelo STF, ele poderá ter pena reduzida ou negociar outras vantagens.O acordo precisa contemplar uma série de exigências até a homologação do Supremo, quando a delação passa a ter efeito. Veja o roteiro da delação premiada:*DECLARAÇÃO A INSTITUIÇÕES DE CONTROLEO colaborador, neste caso Mauro Cid, decide confirmar a culpa e apontar outras pessoas ligadas ao crime, a fim de obter benefícios, como redução da pena. O acordo, inicialmente, precisa passar pela Polícia Federal -caso de Cid- ou pelo Ministério Público Federal.Para efetuar o acordo de colaboração, é preciso assinar um termo de confidencialidade.A delação sempre pressupõe a indicação de outros possíveis criminosos. "A premissa de uma delação, que a difere de uma confissão, é que, além de declarar a culpa, o colaborador aponta para a cadeia criminosa do caso investigado ou de outros crimes, os participantes, coautores e mandantes", diz o advogado criminalista Alberto Zacharias Toron.

RODADAS DE DEPOIMENTOSA autoridade se reúne com o colaborador para coletar depoimentos, que servem para avaliar se os elementos trazidos serão suficientes para selar um acordo.A jurisprudência brasileira estabeleceu que a palavra oral não é uma prova suficiente, nem mesmo para oferecer uma denúncia a um juiz ou a um tribunal, no caso de quem possui foro.O colaborador precisa apresentar elementos de corroboração externos para comprovar seu testemunho, como extratos, fatura de cartão crédito, passagens, recibos, mensagens e demais dados que ajudem a comprovar seu testemunho. A falta desses elementos derrubou, nos últimos anos, denúncias que tinham sido apresentadas no âmbito da Operação Lava Jato, investigação que mais usou esse tipo de compromisso.

PF E MPF AVALIAM COLABORAÇÃOA terceira etapa é a decisão institucional sobre a utilidade das declarações do colaborador. De acordo com a Lei 12.850, que define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, cabe à PF ou ao MPF avaliar se há interesse no acordo a partir do testemunho e das provas apresentadas.Caso haja interesse, o caso é formalizado e avança. Caso não haja, as informações prestadas não poderão ser usadas em hipótese alguma na investigação. Em relação a Cid, a participação é da polícia.Segundo o advogado criminalista Bruno Salles, o MPF sempre contestou se a polícia teria essa capacidade, mas desde 2018 a PF tem autonomia para celebrar esses acordos, conforme decisão do STF. "No limite, quem irá propor a ação penal ao fim do processo é o MPF, que usa os elementos de prova", diz.

NEGOCIAÇÃO DE BENEFÍCIOSParalelo a isso, as autoridades negociam benefícios ao colaborador. A Lei 12.850 determina como possíveis vantagens a diminuição da pena em dois terços ou até pela imunidade.Durante a Lava Jato, a força-tarefa de Curitiba passou a fazer as chamadas sanções atípicas, que são negociações que extrapolam as duas definidas em lei. O Pacote Anticrime vetou essas sanções, tais como prisão domiciliar, mas no ano passado, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) determinou em ação que elas podem ser aplicadas, de acordo com Salles.As ações penais atípicas preveem mais flexibilidade no tempo de prisão e diferenciações para o regime de cumprimento da pena, que pode se tornar mais branda e vantajosa ao colaborador."Quanto maior, mais importante for a delação do ponto de vista do desvendamento do crime, maior é a redução da pena, até chegar no limite da imunidade penal", afirma Toron.Definida a vantagem e a multa indenizatória à União, o caso vai para a homologação.

HOMOLOGAÇÃOSem considerar o mérito da delação -seu conteúdo-, o juiz decide se o caso cumpre os requisitos legais."Na homologação, a autoridade judicial não faz juízo de valor, não define se a prova é boa ou não. O juiz simplesmente verifica se a colaboração cumpre os requisitos legais. Se tudo estiver de acordo com a lei, ele homologa a colaboração e, só a partir daí, ela tem efeito", diz Helena Regina Lobo da Costa, professora de direito penal da USP.Na Lava Jato, nas situações que envolviam autoridades com foro especial, a homologação ocorreu diretamente no Supremo. No caso de Cid, hoje preso por ordem da corte, a proposta foi apresentada ao gabinete de Alexandre de Moraes.Após a homologação, a autoridade fatia o caso em diferentes instâncias e localidades para investigação. A polícia investiga a cadeia criminosa e o MPF, ao fim, pode propor denúncias contra os investigados, arquivar o caso ou pedir novas investigações.

Leia Também: TCU diz que Bolsonaro tem que devolver 118 presentes que são patrimônio do governo

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

economia Trabalhadores Há 11 Horas

Veja lista de deputados que assinaram a favor da mudança na escala 6 x 1

fama Neymar Há 8 Horas

Neymar exibe tênis cravados de Swarovski (que valem quase R$ 40 mil)

politica Pesquisa Há 3 Horas

Lula lidera corrida eleitoral de 2026 contra bolsonaristas, mostra pesquisa CNT/MDA

mundo Eleições EUA Há 10 Horas

Trump exclui Melania de 'foto de família' com Musk; veja o momento!

brasil Clima Há 3 Horas

Há risco de ciclone bomba atingir o Brasil? Veja a previsão do tempo

esporte Óbito Há 8 Horas

Promessa da LDU e da seleção do Equador, volante Marco Angulo morre aos 22 anos

lifestyle Saúde Há 10 Horas

Demência: Estudo revela como identificar idosos em risco

lifestyle Obstipação Há 9 Horas

Adeus inchaço! Nutricionista sugere bebida contra prisão de ventre

fama Novela Há 11 Horas

Ana Maria Braga aponta erro em trama de 'Mania de Você'

justica Rio de Janeiro Há 8 Horas

Se lembra do caso do 'Tio Paulo'? Justiça realiza hoje primeira audiência