© Sana Sana / Reuters
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ditador da Síria, Bashar al-Assad, desembarcou na China nesta quinta-feira (21), em sua primeira visita ao país asiático desde 2014. A viagem tem como objetivo dar mais um passo em direção ao fim do isolamento diplomático imposto a Damasco desde o início da guerra civil em seu território, 12 anos atrás.
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Assad chegou ao país a bordo de um avião da Air China envolto em um denso nevoeiro, elemento que segundo a mídia estatal chinesa fez crescer "o clima de mistério" em torno da visita -o ditador raramente foi visto longe de seu país natal nos últimos anos. Ele então se encontra com Xi Jinping na capital, Pequim, na sexta-feira (22), antes de embarcar em uma turnê por várias cidades chinesas.
Ser visto ao lado do líder chinês promete aumentar a legitimidade da campanha de Assad para retornar ao cenário internacional. Entre o ano passado e este, sua ditadura conseguiu avançar bastante nesse sentindo, primeiro juntando-se à Iniciativa Cinturão e Rota da China e, depois, e de forma mais representativa, sendo readmitida na Liga Árabe.
O grupo de 22 países tinha expulsado o regime em novembro de 2011, após sua brutal repressão contra protestos antigovernamentais que eclodiram naquele ano. Também havia se unido a nações ocidentais como Estados Unidos, Canadá e Austrália, além da União Europeia, e aplicado uma série de sanções contra ele.
A China, assim como a Rússia e o Irã -os outros dois principais aliados sírios- não seguiu a toada, mantendo seus laços com Assad mesmo no auge de seu isolamento diplomático. O país asiático, que é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e, portanto, tem poder de vetar suas resoluções, também impediu o órgão de aplicar sanções multilaterais sobre a ditadura diversas vezes, interditando ao menos oito moções que visavam encerrar o conflito.
Ao contrário de Moscou e Teerã, porém, Pequim não apoiou diretamente os esforços de Assad para retomar o controle do país. Investigadores comissionados pela ONU afirmam que bombardeios russos e milícias apoiadas pelo regime iraniano são responsáveis pela maioria das mais de 200 mil mortes de civis ocorridas desde o início do conflito.
A Síria tem importância estratégica para os chineses em razão de sua localização: está situada entre o Iraque, fornecedor de cerca de um décimo do petróleo consumido pela China; a Turquia, ponto final de diversos corredores econômicos entre a Europa e a Ásia; e a Jordânia, tradicional mediadora de disputas no Oriente Médio.
Analistas sugerem, porém, que a decisão de Xi de receber Assad tem menos a ver com economia e mais com qual é a imagem que ele deseja passar ao mundo. Alfred Wu, professor associado da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew, em Singapura, afirmou à agência de notícias Reuters não ter se surpreendido com a disposição do líder chinês de ser visto junto a um ditador. "Isso vai marginalizar ainda mais a China no cenário internacional, mas ele não se importa com isso", disse.
Segundo o pesquisador, em seu terceiro mandato, Xi tem buscado "desafiar abertamente os Estados Unidos". Uma das formas que encontrou para fazer isso foi aproximando-se de países isolados pelo Ocidente. Só este ano, por exemplo, recebeu os ditadores Aleksandr Lukashenko, da Belarus; Ebrahim Raisi, do Irã; e Nicolás Maduro, da Venezuela.
Afora eles, membros do regime do Talibã no Afeganistão estão no país asiático nesta mesma semana. E Vladimir Putin, presidente da Rússia transformado em pária internacional após ordenar a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, prometeu viajar a Pequim no mês que vem.
Analistas duvidam, porém, que a aproximação Xi e Assad vá além dessa dimensão simbólica. É improvável que empresas do país estejam dispostas a voltar à nação devastada pela guerra, dados os seus evidentes problemas de segurança e sua situação financeira precária. Além disso, qualquer empresa estrangeira que invista em Damasco corre o risco de ter seus bens congelados pelos EUA sob o Caesar Act.
"A Síria tem há muito tentado assegurar investimentos da China, mas a grande questão é se as propostas discutidas durante a visita podem se transformar em planos concretos", afirmou Samuel Ramani, analista do think-tank RUSI, baseado em Londres, à Reuters.