Violência na Maré prejudica acesso de crianças a educação e lazer

A pesquisa Primeira Infância na Maré aponta que a violência prejudica a participação escolar e o acesso ao lazer, cultura e esporte. Quase 60% dos moradores, entrevistados em domicílio, afirmam que as crianças da casa não acessam essas atividades.

© Fernando Frazão / Agência Brasil

Brasil VIOLÊNCIA-RIO 27/09/23 POR Folhapress

(FOLHAPRESS) - Um estudo divulgado nesta quarta-feira (27) pela ONG Redes da Maré mostra que a exposição precoce à violência compromete o processo de aprendizagem e o desenvolvimento de crianças do maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro.

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A pesquisa Primeira Infância na Maré aponta que a violência prejudica a participação escolar e o acesso ao lazer, cultura e esporte. Quase 60% dos moradores, entrevistados em domicílio, afirmam que as crianças da casa não acessam essas atividades.

O levantamento observou ainda que algumas escolas não usam suas áreas externas, por exemplo, devido à proximidade com grupos armados.

No último domingo (24), o "Fantástico", da TV Globo, divulgou imagens de criminosos em treinamento de guerrilha num local na Maré. O flagrante foi captado por drones da Polícia Civil do Rio, como parte de uma investigação que durou dois anos.

Na gravação, dezenas de homens armados aparecem ocupando uma área que poderia ser um centro de lazer. Mas, a quadra de futebol e a piscina servem como campo de prática de bandidos. O espaço fica ao lado de uma creche e cinco escolas.

O estudo, feito entre julho de 2021 e junho de 2022, buscou traçar diagnósticos sobre como vivem crianças de 0 a 6 anos nas 16 favelas da região. Para isso, levou em conta a divisão dos domínios territoriais comandados por diferentes grupos criminosos. De acordo com a Redes da Maré, a região é ocupada atualmente pelo Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro e milicianos.

"A Maré não é uma unidade homogênea, mas um conjunto de favelas, cada uma com suas características territoriais próprias que influenciam a maneira como as privações de direitos e múltiplas violências são vivenciadas no cotidiano", afirmou a diretora da ONG e uma das coordenadoras da pesquisa, Eliana Silva.

Os dados mostram que 39,6% das crianças de 0 a 6 anos já presenciaram algum tipo de violência. Entre os efeitos dessa realidade, o estudo aponta para o atraso no desenvolvimento e na infrequência dos alunos da região. Foram identificados ainda prejuízos na saúde mental, como abalo emocional, sentimentos de medo, assombro e aflição, e mudanças de comportamento.

Segundo o levantamento, o complexo da Maré conta com seis creches e 15 Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs).

A pesquisa traz relatos de profissionais de educação que afirmam que, ao brincar, as crianças "expressam uma carga de tensão" e reproduzem atitudes.

"Nas brincadeiras eles brincam com armas simulando uso de armas, relatam as situações, algumas choram, pedem para ir para casa", disse um profissional. Outro contou: "Ficam abalados emocionalmente, alguns fazem xixi nas calças, também ocorre choro compulsivo."

Ainda de acordo com os depoimentos, as crianças ficam "mais agitadas" e "menos produtivas" quando há grandes eventos de violência, como operação das forças de segurança ou confronto entre grupos rivais.

Em 2022, 62% das ações policiais ocorreram próximas a escolas e creches, de acordo com o estudo. Segundo o monitoramento da violência armada publicado anualmente no Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, foram realizadas 22 operações policiais em favelas da Maré, além de 8 confrontos entre grupos armados, naquele ano. Como efeito disso, foram registradas 39 mortes por arma de fogo e 283 violações de direitos.

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