Diálogos mostram parceria entre Deltan e Bruno Dantas no auge da Lava Jato

Os diálogos obtidos pela Folha de S.Paulo ocorreram de março a junho de 2017, por meio do aplicativo Telegram

© Getty

Política OPERAÇÃO-LAVA JATO 29/09/23 POR Folhapress

(FOLHAPRESS) - Troca de mensagens privadas hackeadas e depois colhidas pela Operação Spoofing, da Polícia Federal, mostra uma relação amistosa e colaborativa no auge da Operação Lava Jato entre o atual presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Bruno Dantas, hoje cotado para uma vaga de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), e o deputado federal cassado e ex-procurador da República Deltan Dallagnol, que chefiava a força-tarefa da operação em Curitiba.

PUB

Os diálogos obtidos pela Folha de S.Paulo ocorreram de março a junho de 2017, por meio do aplicativo Telegram. Hoje os dois trocam críticas públicas.

Em uma das conversas, datada de 31 de março daquele ano, Dantas felicita o então chefe da Lava Jato pela ação de improbidade movida na véspera contra o PP e dirigentes da legenda, entre eles o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (AL).

"Parabéns pela ação de ressarcimento contra os partidos e os agentes políticos!!! Como não temos jurisdição administrativa sobre eles, essa atuação de vocês complementa a nossa no ressarcimento dos danos!", escreveu Dantas.

"Obrigado Bruno! Parte de um grande trabalho conjunto!!", respondeu Deltan, segundo as mensagens.

Cerca de dois meses depois, em 9 de junho de 2017, Dantas mandou nova mensagem ao então procurador, afirmando ter atendido a um pedido seu, "com o máximo de discrição", e perguntando se ele havia visto a MP (medida provisória) 784, que permitia ao Banco Central estabelecer acordos de leniência com instituições financeiras.

"Opa ótima notícia! Vimos [a MP]. Carlos Fernando [outro integrante da força-tarefa] vai escrever algo sobre ela", respondeu Deltan.

Dez dias antes dessas mensagens, o TCU havia aprovado a concessão de prazo adicional de 60 dias para que a força-tarefa fechasse acordos de delação com construtoras alvo da operação. O pedido, feito por Deltan, foi relatado por Dantas. A MP acabou caducando sem ser votada pelo Congresso Nacional.

Dantas afirmou ainda em outras mensagens ao procurador que a Odebrecht estaria à época querendo firmar um acordo de delação direta com o TCU, o que ele disse considerar inadequado, além de suspeitar de que isso pudesse ser uma forma de indispor o tribunal com a força-tarefa.

Por meio da assessoria do TCU, Bruno Dantas encaminhou à Folha de S.Paulo nota que afirma que as mensagens de 2017 comprovam "que a Lava Jato enganou e abusou da boa-fé da imprensa, da sociedade brasileira e de muitos servidores de várias instâncias, inclusive de tribunais".

Conforme a manifestação, esses servidores desconheciam a forma da operação de atuar "fora da lei e contra a democracia" e que os contatos foram institucionais e em nome do dever funcional.

"É o caso concreto, em momento incipiente em que os primeiros acordos de leniência foram celebrados pelo MPF [Ministério Público Federal] e havia esforço das instituições públicas para dar a eles alguma funcionalidade, respeitadas as competências constitucionais e legais de cada órgão."

A nota prossegue afirmando que a evolução das reuniões revelou que a Lava Jato queria, na verdade, se sobrepor e usurpar as competências dos outros órgãos. "Isso foi repelido com veemência pelo TCU, como o noticiário revelou na época."

"O ministro Bruno Dantas informa que suas declarações públicas e votos proferidos em processos do TCU entre 2017 e 2022 falam por si" e são muito mais importantes que diálogos que "apenas mostram o momento em que se começou a entender o que a Lava Jato sempre foi, uma tentativa de destruir a democracia."

Também em nota, Deltan afirma não reconhecer a autenticidade das mensagens e que suas conversas com autoridades sempre foram republicanas e institucionais. Apesar disso, comentou o conteúdo delas.

"É lamentável que altas autoridades da República, que apoiavam a Lava Jato, tenham se tornado ferrenhas opositoras da operação da noite para o dia, a ponto de demonizar e perseguir ilegalmente juízes e procuradores quando isto se tornou conveniente para seus projetos pessoais e ambições de poder político", afirma o texto.

Sem citar diretamente o nome de Dantas, a nota do deputado cassado menciona o fato de o presidente do TCU ser hoje cotado para a próxima indicação de Lula (PT) para o STF -"o que deveria levantar sérios e críticos questionamentos da sociedade e da imprensa a respeito de suas motivações ao atacar a Lava Jato e seus agentes."

Em 2018, quando a Lava Jato ainda gozava de amplo respaldo político e jurídico, a relação entre Dantas e Deltan já não era boa.

Em junho daquele ano, por exemplo, o ministro do TCU deu entrevista ao jornal O Globo em que chamou de "carteirada" uma decisão de Sergio Moro, então juiz da operação, que proibia o uso de provas contra empresas e delatores que haviam firmado acordo de leniência com a força-tarefa.

Os arquivos de Deltan vazados posteriormente mostram que o procurador se prontificou à época a fazer uma manifestação pública dura contra Dantas, supostamente a pedido de Moro.

O tribunal de contas avaliava à época que os valores a serem ressarcidos pelos envolvidos eram bem superiores. Em artigo publicado na Folha de S.Paulo no final de 2017, Dantas já havia dito considerar que "o acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da obrigação de reparar integralmente o dano causado".

Devido a essas conversas de 2018, o hoje presidente do TCU requereu em julho de 2023 acesso completo aos dados da Spoofing, o que foi concedido pelo STF.

Já em 2021, Dantas acatou representação do Ministério Público junto à corte e determinou um pente-fino nos gastos da Lava Jato com viagens e diárias.

Em agosto de 2022, a Segunda Câmara do TCU determinou que Deltan e outros procuradores devolvessem mais de R$ 2,8 milhões ao erário. Deltan conseguiu a suspensão da condenação na Justiça do Paraná. Em junho de 2023, porém, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou recurso de Deltan e confirmou decisão anterior.

Leia Também: Ex-delator acusa Moro de pedir para 'grampear' ministros do STJ, juízes e desembargadores

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

economia pacote fiscal Há 16 Horas

Pacote Fiscal: Veja o que o Congresso manteve ou alterou nas medidas do governo

fama Rio de Janeiro Há 17 Horas

Mário Gomes volta à mansão após despejo

fama Viralizou Há 17 Horas

Influencer é acusada de trair o marido tetraplégico em cruzeiro

fama PRETA-GIL Há 11 Horas

Madrastra atualiza estado de saúde de Preta Gil e fala em recuperação lenta

lifestyle Previsão do futuro Há 18 Horas

O que Nostradamus acertou e o que ainda pode acontecer em 2024?

justica São Paulo Há 17 Horas

Vizinho que esquartejou menino de 10 anos disse que 'invejava crianças'

fama Patrick Swayze Há 18 Horas

Atriz relembra cena de sexo com Patrick Swayze: "Ele estava bêbado"

brasil BR-116 Há 11 Horas

Acidente com ônibus, carreta e carro deixa 38 mortos em Minas Gerais

fama Vanessa Carvalho Há 11 Horas

Influenciadora se pronuncia após ser acusada de trair marido tetraplégico

esporte DENÍLSON-JOGADOR Há 16 Horas

Denílson se despede da Band após 14 anos na emissora