Seca histórica no Amazonas pode afetar compras de fim de ano

De acordo com os especialistas, o impacto da seca na logística de transporte é sentido muito mais por moradores da região do que nos produtos distribuídos para o restante do país

© Ueslei Marcelino

Economia Comércio 04/10/23 POR Folhapress

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A seca histórica que afeta o Amazonas pode ter impacto no comércio de Natal. O baixo nível das águas dos rios amazônicos dificulta o transporte de cargas, encarecendo o frete e aumentando o tempo de entrega de produtos e insumos -tanto para dentro do estado quanto para outras regiões do país.

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Caso as empresas não consigam escoar a produção de agora da Zona Franca de Manaus, a previsão é que haja um impacto nas compras de fim de ano.

Segundo o diretor-executivo da Abac (Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem), Luís Fernando Resano, a capacidade de transporte hidroviário no Amazonas foi mais afetada neste ano do que em 2022.

No ano passado, o período de estiagem reduziu em 40% a navegação no rio Amazonas. Apesar de ainda não ter essa conta para 2023, Resano diz acreditar que esse percentual seja ainda maior neste ano.

"Mesmo que as empresas tenham feito estoques para o fim do ano, dependendo do tamanho, eles podem acabar rápido", diz Resano. "O nível dos rios já está pior do que a seca de 2010, e isso pode se prolongar até janeiro ou fevereiro."

O diretor-executivo explica que, com níveis dos rios baixos, os navios não podem operar com a carga máxima. Hoje, diz ele, as embarcações de cabotagem que costumam levar de 3.000 a 4.000 contêineres estão fazendo o translado com 2.000. Isso encarece o preço do frete.

Segundo a Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), os fretes subiram cerca de 40% a 50% neste ano por causa da seca. A entidade afirma que por ora as operações estão funcionando normalmente, mas o cenário pode mudar caso a vazante piore.

"Caso os rios continuem baixando seus volumes de água na média diária atual de cerca de 30 centímetros, em algumas semanas teremos o risco maior de limitação de navegação e ajustes nos cronogramas de logística de transporte devem ser realizados", diz a Eletros, em nota.

É nesse sentido que os especialistas afirmam que para o Black Friday, na penúltima semana de novembro, o impacto da seca ainda não será visto. Isto porque, já prevendo o período de estiagem, as empresas se programaram, antecipando a produção, fazendo estoques e escoando de forma mitigada os produtos.

"Há várias alternativas que são empregas", afirma Augusto Cesar Rocha, coordenador da comissão de logística do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas). "Os estoques dos produtos não vão chegar aos centros de distribuição na véspera desses eventos comerciais."

"Para isso, eles contam com soluções de criar estoques e até usar outros meios de transporte, como o ro-ro caboclo", disse Rocha. "Claro que isso pode reduzir a competitividade das organizações de indústrias". Pelo sistema, são usadas barcaças que levam caminhões com mercadorias.

A Zona Franca de Manaus é responsável por 100% da produção nacional de ar-condicionado, televisores, lavadoras de louça e micro-ondas, segundo a Eletros.

A entidade diz ainda que a região também responde por uma produção significativa, entre 40% a 70%, de celulares, computadores, monitores de vídeo e outros eletroeletrônicos que em geral são visados pelos consumidores em épocas de promoção.

IMPACTO MAIOR PARA O ESTADO

De acordo com os especialistas, o impacto da seca na logística de transporte é sentido muito mais por moradores da região do que nos produtos distribuídos para o restante do país. Isso porque Manaus é um centro importante de distribuição de bens de consumo básico para o interior do Amazonas.

"É a lei da oferta e da procura. Se não diminuir a demanda, a oferta diminui e os preços aumentam. Quem sente primeiro isso são os produtos de primeira necessidade. Então é arroz, feijão, frango", diz Resano, da Abac. "Com as dificuldades de levar esses produtos à capital, começa a diminuir a oferta, e a tendência é aumentar o custo para a população."

Medidas emergenciais como dragagens podem ser tomadas para aprofundar o nível dos rios e permitir que navios mais pesados passem por eles. No entanto, esse tipo de providência não soluciona o problema da seca na Amazônia,disse Rocha.

"A seca é um problema secular, todo ano tem. Não são medidas emergenciais que vão saná-la. É preciso identificar a causa da seca e ver quais são as soluções para ela. E, dentro das soluções, tomar a de melhor custo-benefício, analisando critérios econômicos, sociais e ambientais", afirmou o coordenador do Cieam.

Nesta quarta-feira (4), o governo federal fará uma viagem oficial para visitar o rio Madeira, um dos mais afetados pela vazante. A visita é organizada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que deve ser acompanhado pelos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e José Múcio Monteiro (Defesa), e pelo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.

A estiagem rebaixou o nível de água do rio Madeira a 1,43 metro nas últimas semanas, segundo a Defesa Civil.

A seca na Amazônia, em especial no Amazonas, já levou 19 cidades do estado a declararem situação de emergência, entre elas a capital.

O governo do Amazonas decretou situação de emergência em 55 dos 62 municípios do estado, em razão da seca severa. O governo federal também anunciou medidas de socorro para a região, como apoio à distribuição de cestas básicas e estuda acionar termoelétricas.

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