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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo da Suécia condicionou o envio de caças Gripen para o esforço de guerra da Ucrânia contra a Rússia à sua admissão na Otan, a aliança militar ocidental.
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Ao anunciar nesta sexta (6) o 14º pacote de ajuda a Kiev, o ministro da Pal Jonson (Defesa) afirmou que só poderia considerar o envio das aeronaves, degradando suas próprias defesas, caso seu país vire o 32º membro do clube liderado pelos EUA.
Neste caso, aviões de outras nações poderiam complementar o trabalho de patrulhar os disputados céus do norte europeu –nesta mesma sexta, um caça russo MiG-31 interceptou um avião espião americano P-8A que se aproximou do espaço aéreo de Moscou, perto da Noruega.
Os suecos abandonaram 200 anos de neutralidade em favor da adesão à Otan no ano passado, quando pediram para serem aceitos juntamente com a Finlândia. O processo dos vizinhos andou mais rápido, sendo aprovado pelos Parlamentos dos então 30 membros do clube e finalizado em abril deste ano.
Mas Estocolmo ficou na fila por resistências políticas da Turquia e da Hungria. No primeiro caso, o presidente Recep Tayyip Erdogan negocia caças F-16 dos EUA e a extradição de dissidentes rivais de seu governo que estão no país nórdico. Aparentemente, vai conseguir tudo, mas o Parlamento de seu país voltou do recesso neste mês e ainda não analisou o caso.
Já os húngaros estão cada vez mais críticos ao alinhamento ocidental com a Ucrânia, país com o qual Budapeste tem desavenças sobre a importação de grãos. O premiê Viktor Orbán já disse que a admissão sueca não é uma prioridade –e a unanimidade entre os membros da Otan é condição para a entrada no grupo.
No mês passado, a especulação sobre o envio de caças ganhou corpo, com pessoas próximas do assunto falando em 18 aviões para Kiev. Os suecos têm 96 Gripen da geração C/D, anterior à E/F que está foi comprada e está sendo incorporada à fota da Força Aérea Brasileira.
Se tiver uma taxa de disponibilidade altíssima, de 70%, isso significa que Estocolmo pode colocar no ar 67 aviões ao mesmo tempo. Retirar 18 desse contingente é um risco para a segurança do país, avaliam observadores militares.
Assim, é possível ler a fala de Jonson como apenas uma pressão política sobre turcos e húngaros, dado que não é certo que os Gripen serão enviados, e em quanto tempo. A Otan prometeu fornecer caças F-16, que são adotados por diversos de seus membros, mas não há expectativa de que isso possa ocorrer antes do ano que vem, não menos pelo temor ocidental de que isso provoque uma escalada perigosa da Rússia.
A questão é tão séria que os suecos já anunciaram uma união operacional com os outros três países nórdicos (Finlândia, Noruega e Dinamarca) de suas frotas aéreas. A ideia é que todos operem defendendo uns aos outros, mas tecnicamente isso leva tempo. Ao todo, os países tinham em 2022 247 caças, com muitas frotas em renovação: finlandeses vão trocar seus F-18 por F-35, por exemplo.
Se a Suécia entrasse na Otan, teoricamente haveria um grupo bem maior de aviões à disposição, a exemplo do que ocorre nos céus dos Estados Bálticos, que são patrulhados por caças de vários países da aliança já que os países não têm Aeronáuticas próprias.
Há também a questão industrial da Saab, a fabricante dos caças. Os suecos encomendaram 60 dos novos Gripen E para substituir os C/D, um número que deve aumentar dado o novo panorama de segurança após a invasão russa de 2022. Até aqui, só receberam 2 dos modelos mais modernos –e a empresa não pode afetar seu contrato com o Brasil, seu maior cliente externo com 36 pedidos.
Jonson anunciou o equivalente a R$ 1,1 bilhão em munição para artilharia a ser destinado aos ucranianos, que enfrentam dificuldades em sua contraofensiva contra os russos. Nesta sexta, um dia após o ataque atribuído a Moscou que deixou 52 pessoas mortas na região de Kharkiv, uma criança de 10 anos e sua avó morreram quando mísseis caíram na capital regional homônima.