© Paulo Whitaker / Reuters
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Moradores de uma ocupação na rua Mauá bloquearam o acesso à via na tarde desta quinta-feira (9) para impedir a entrada e permanência no local do fluxo da cracolândia, como é chamada a concentração de usuários de crack na região central da cidade de São Paulo.
PUB
O cordão humano tinha aproximadamente cem pessoas e era majoritariamente formado por mulheres. Também havia crianças. Panos vermelhos no chão e uma fita zebrada presa entre postes foram usados para demarcar o bloqueio à rua, que fica em uma das laterais da estação da Luz do metrô.
Centenas de usuários chegaram bem perto do cordão às 17h, mas deixaram o local por volta das 17h30, conduzidos pela GCM (Guarda Civil Metropolitana). Retornaram para a rua dos Protestantes, a menos de 500 metros. Não houve confronto.
No momento do deslocamento, a Polícia Civil realizava operação de rotina na região, apoiada pela GCM. Uma pequena bolsa apreendida continha pedras de crack, um maço de dinheiro com notas de baixo valor, e uma balança de precisão. O equipamento é utilizado para pesar a droga.
Durante a operação, passaram pela triagem 705 homens e 161 mulheres, segundo a guarda. Alguns suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas foram encaminhados à delegacia.
Representante dos moradores da ocupação afirmam que esta quinta-feira seria o terceiro dia consecutivo em que a GCM estaria levando os usuários de drogas da rua dos Protestantes para eles passarem a noite na rua Mauá.
"Eles [GCM] vêm gritando, a pé, com armas muito grandes e dizendo as seguintes palavras: 'Vão tudo pra Mauá'. Eu tenho isso gravado", afirma a desempregada Ivaneti Araújo, 50, representante do MMLJ (Movimento de Moradia e Luta por Justiça).
"Há uns 12 dias trouxeram eles para cá, mas logo saíram. Anteontem, trouxeram e só tiraram no outro dia. Ontem, a mesma coisa. Nós moramos aqui há mais de 18 anos num prédio ocupado, que hoje pertence à Cohab. São 237 famílias e mais de 100 crianças", diz Araújo.
Araújo afirma que a GCM vem bloqueando os dois lados da rua Mauá, concentrando o fluxo no centro, justamente em frente ao prédio ocupado. Os moradores dizem que precisam passar por esses bloqueios, caso queiram sair, e acabam sendo parados pelos guardas, que perguntam para onde vão e o que vão fazer.
"As mulheres têm de jogar lixo e eles não deixam. Eles estão violando nosso direito de ir e vir. Essa não é a política de atendimento para os moradores em situação de rua. Eles estão colocando o povo contra o povo e também jogando os usuários de uma rua para outra", critica a representante. "Essa é a vida que estamos vivendo aqui, todos os dias. Nós somos vítimas, mas eles são vítimas como a gente."
No início da noite, um guarda se dirigiu até a manifestação e conversou separadamente com Araújo. Segundo ela, o guarda pediu calma para os presentes e disse que os usuários não iriam retornar ao local. "Não vamos arredar o pé para não ter surpresa desagradável", disse ela.
O inspetor de divisão Paulo Breves, chefe da comunicação da GCM, disse à reportagem que a guarda não determina o deslocamento do fluxo, mas, em vez disso, faz o acompanhamento para garantir a segurança dos munícipes, patrimônio público e privado e dos próprios usuários.
Ele afirma que, em muitos casos, os usuários migram para locais onde há menor chance de conflito com moradores ou comerciantes e, ainda, para locais onde há maior chance de conseguir objetos de valor, garimpados no lixo, para trocar pelo crack.