Ultraliberal Javier Milei rompe polarização na Argentina e é eleito presidente

Em votação histórica, o outsider de direita superou o ministro da Economia Sergio Massa, impondo ao peronismo sua quarta derrota em 40 anos de democracia

© Getty

Mundo ARGENTINA-ELEIÇÕES 20/11/23 POR Folhapress

(FOLHAPRESS) - O ultraliberal Javier Milei, 53, rompeu a polarização argentina, consolidou sua nova força política e foi eleito presidente do país neste domingo (19). Em votação histórica, o outsider de direita superou o ministro da Economia Sergio Massa, impondo ao peronismo sua quarta derrota em 40 anos de democracia.

PUB

Após uma ascensão meteórica na política, o economista e deputado conseguiu mais de 11 pontos de diferença em relação ao rival. Registrou 55,7% dos votos válidos contra 44,3% de Massa, com quase todas as urnas apuradas. A participação foi de 76%, a segunda mais baixa nas últimas quatro décadas.

Em seu primeiro discurso após a vitória, Milei exaltou a propriedade privada e fez um aceno à união. "Quero dizer a todos os argentinos e a todos os dirigentes políticos que todos aqueles que quiserem se somar à nova Argentina serão bem-vindos. Não importa de onde venham", afirmou, em meio a apoiadores atônitos.

Milei vai ocupar a Casa Rosada pelos próximos quatro anos a partir de 10 de dezembro. Ele assume o lugar do peronista Alberto Fernández, atual chefe de Massa, que se despede do cargo reprovado por oito em cada dez argentinos e levando a fama de presidente ausente.

O resultado mostra que o descontentamento da população com a situação atual do país superou a capilarizada máquina peronista e o medo do extremismo do rival, explorado pela campanha governista com a ajuda de um equipe de publicitários brasileiros ligados ao PT. As outras três vezes em que a força política perdeu foram em 1983, 1999 e 2015.

"Obviamente os resultados não são os que esperávamos", disse Massa ao reconhecer a derrota antes da divulgação oficial dos resultados: "Entrei em contato com Javier Milei para parabenizá-lo. A partir de amanhã a responsabilidade de prover certeza pertence a ele". O bunker em que estavam o peronista e seus apoiadores foi esvaziado em menos de 40 minutos após o anúncio da derrota.

Também esvaziado pode ficar o cargo pelos próximos 20 dias. Segundo a imprensa local, Massa deve se licenciar da posição à frente da Economia, com a justificativa de facilitar a transição à gestão do adversário. A troca de poder ficaria a cargo de Raúl Rigo, secretário da pasta, e de Miguel Pesce, presidente do Banco Central, de acordo com a agência Noticias Argentinas.

O clima dentro e fora do hotel onde o presidente eleito recebeu a notícia da vitória era de final de campeonato. Emocionados, seus apoiadores se abraçaram, pularam e cantaram, jogando as cédulas de papel com o rosto do candidato para cima. Entre eles estava o deputado estadual brasileiro Bruno Engler (PL-MG): "Viemos acompanhar", disse.

Milei, que fez da frase "viva la libertad, carajo" (viva a liberdade, caramba) um de seus slogans de campanha, terá como principal desafio resolver a terceira grande crise econômica vivida pela nação no período democrático, com uma inflação de mais de 140% anuais, pesos que derretem nas mãos e a pobreza em alta. Para isso, propõe medidas radicais como a dolarização e o fechamento do Banco Central, alvo de críticas de diferentes lados.

Ele também pretende enxugar ao máximo a máquina pública, extinguindo ministérios como Cultura, Mulheres e Ciência e Tecnologia e privatizando grandes empresas estatais. Ainda não está claro o que ele fará com a ampla gama de subsídios e programas sociais que hoje aliviam o bolso do argentino, cada vez mais empobrecido.

O ultraliberal terá que colocar em prática suas promessas disruptivas tendo apenas 38 dos 257 deputados e 7 dos 72 senadores de sua aliança A Liberdade Avança no Congresso. Resta saber se o apoio da centro-direita do ex-presidente Mauricio Macri e da ex-rival Patricia Bullrich na reta final das eleições se traduzirá em governabilidade.

Há dúvidas ainda sobre como será daqui para frente a relação com o Brasil, maior parceiro comercial da Argentina. Enquanto candidato, Milei chegou a dizer que sairia do Mercosul e não se reuniria com Lula (PT), a quem chamou de comunista e corrupto, defendendo que as relações privadas entre empresas não seriam afetadas.

Pouco após o anúncio do resultado, Lula fez uma publicação nas redes sociais sem mencionar o nome de Milei: "Desejo boa sorte e êxito ao novo governo. A Argentina é um grande país e merece todo o nosso respeito. O Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos", escreveu.

A democracia é a voz do povo, e ela deve ser sempre respeitada. Meus parabéns às instituições argentinas pela condução do processo eleitoral e ao povo argentino que participou da jornada eleitoral de forma ordeira e pacífica", completou.

Já o ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem Milei é frequentemente comparado apesar das diferenças, disse que "a esperança volta a brilhar na América do Sul". "Que esses bons ventos alcancem os Estados Unidos e o Brasil para que a honestidade, o progresso e a liberdade voltem para todos nós", afirmou.

A curto prazo, a vitória do libertário traz apreensão no país sobre o que acontecerá a partir desta terça (21) com o dólar paralelo, que rege os preços e a vida na Argentina -os mercados estarão fechados nesta segunda (20) pelo feriado do Dia da Soberania Nacional.

Com a promessa da dolarização, é possível que haja uma nova corrida à moeda americana, o que costuma fazer seu valor subir, os preços perderem a referência, e a venda de muitos produtos duráveis ser paralisada. Diante desse temor, os argentinos que podiam já encheram o colchão ou os cofres dos bancos com a divisa nas últimas semanas.

Milei foi eleito neste domingo após uma campanha agressiva, com insultos ao papa Francisco, xingamentos aos adversários e negação da cifra de 30 mil mortos e desaparecidos na ditadura militar, num país que tem a memória como forte pilar. Após a vitória de Massa no primeiro turno, porém, ele foi se moderando.

Passou a negar, por exemplo, que acabará com os subsídios, a educação e a saúde públicas, como já defendeu não muito tempo atrás. Por outro lado, preservou os fortes discursos contra o que chama de "casta política" há muitos anos no poder, conseguindo atrair o eleitor irritado com o peronismo e o kirchnerismo.

Milei passou grande parte da sua vida atuando como economista de empresas privadas e professor universitário, mas irrompeu na cena pública ao xingar políticos e defender suas ideias ultraliberais como comentarista na TV. Viralizou nas redes sociais, foi eleito deputado nacional em 2021 e desde então se catapultou à Presidência, que finalmente conquistou neste domingo.

 

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

brasil Tragédia Há 21 Horas

Sobe para 14 o número desaparecidos após queda de ponte

fama Realeza britânica Há 3 Horas

Rei Chales III quebra tradição real com mensagem de Natal

fama Hollywood Há 23 Horas

Autora presta apoio a Blake Lively após atriz acusar Justin Baldoni de assédio

mundo Estados Unidos Há 23 Horas

Policial multa sem-abrigo que estava em trabalho de parto na rua nos EUA

esporte Futebol Há 23 Horas

Ex-companheiros ajudam filho de Robinho, que começa a brilhar no Santos

fama Televisão agora mesmo

Fernanda Lima diz que Globo acabou com Amor e Sexo por ser progressista

brasil Tragédia Há 22 Horas

Duas mulheres seguem em estado grave após explosão de avião que caiu em Gramado

fama Família Há 22 Horas

Está 24 horas presente, diz Iza sobre Yuri Lima, pai de Nala

fama Confusões Há 21 Horas

Famosos Problemáticos: O que os vizinhos têm a dizer

mundo Estados Unidos Há 5 Horas

Mangione se declara inocente das acusações de homicídio e terrorismo