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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A libertação de reféns mantidos na Faixa de Gaza pelo Hamas acordada entre o grupo terrorista e Israel nesta terça-feira (21) ainda deve demorar pelo menos um dia para ser efetivada. A expectativa, assim, é que o primeiro grande tratado entre as partes rivais firmado desde o início no conflito, que por extensão ainda prevê uma trégua de quatro dias, entre em vigor apenas na manhã desta quinta-feira (23).
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O acordo entre Israel e o Hamas deve permitir a liberação de cerca de 50 dos 240 sequestrados pelo grupo terrorista durante a sua incursão sangrenta de 7 de outubro em troca da soltura de 150 prisioneiros mulheres e menores de idade palestinos, além do cessar-fogo, o primeiro desde o início do conflito.
O governo de Israel divulgou nesta quarta-feira (22) uma lista com 300 nomes de prisioneiros considerados aptos a serem trocados pelos reféns mantidos pelo Hamas em Gaza. O número é o dobro do que havia acordado com o grupo terrorista em um primeiro momento, numa indicação de que mais libertações poderão ocorrer nos próximos dias, segundo a imprensa israelense.
A lista é formada principalmente por palestinos menores de 18 anos que foram presos sob a acusação de provocarem tumultos ou por lançarem pedras contra policiais na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, segundo o jornal The Times of Israel. O governo havia se negado a incluir no acordo a devolução de pessoas condenadas por homicídio, mas, segundo a publicação, também aparecem na relação alguns criminosos que tentaram esfaquear agentes das forças de segurança.
A população israelense terá um prazo de 24 horas para contestar os nomes na lista, de modo a permitir que os apelos contra a soltura de prisioneiros palestinos sejam submetidos à Suprema Corte. Por isso, espera-se que só na manhã da quinta haja a libertação do primeiro grupo de prisioneiros. De acordo com a liderança dos Hamas, os primeiros reféns devem ser soltos às 10h no horário local (5h em Brasília).
Do lado israelense, o ministro das Relações Exteriores, Eli Cohen, confirmou a expectativa de que o acordo entre em vigor nesta quinta, mas preferiu não estimar um horário para as primeiras libertações de reféns.
O tratado foi recebido com entusiasmo por parentes e amigos das vítimas sequestradas e por diversos líderes mundiais.
A principal associação de Israel que reúne familiares dos reféns mantidos em Gaza divulgou nota na qual informa que todos ficaram "muito felizes" com o avanço das negociações. "Mas ainda não sabemos exatamente quem será liberado nem quando", diz no comunicado.
As negociações pela libertação de reféns têm sido foco de tensão para o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, em meio aos bombardeios intensos na Faixa de Gaza. Manifestantes pressionam o primeiro-ministro em atos quase diários que exigem mais esforços pela soltura das vítimas.
Sob pressão interna e externa, Netanyahu deu prosseguimento às negociações a despeito das críticas feitas pela ala mais radical do governo, o mais à direita da história de Israel, às conversas com o Hamas.
As negociações ocorreram durante semanas em Doha, no Qatar -país que faz a mediação ao lado dos Estados Unidos e do Egito entre o grupo terrorista e Israel. Em nota após a formalização do tratado, o Ministério das Relações Exteriores qatari disse que o acordo pode ser prorrogado. "E o número de libertados aumentará nas fases posteriores", disse a pasta, sem entrar em detalhes.
Em tom mais otimista, a Jordânia, aliado crucial para Israel no Oriente Médio, disse esperar que os diálogos sejam um passo para o fim da guerra. A iniciativa ainda foi saudada por outros líderes árabes e de potências globais, incluindo o presidente dos EUA, Joe Biden, segundo o qual "mais reféns americanos devem voltar para casa". "E não vou parar até que todos sejam libertados", disse ele.
Quatro reféns haviam sido libertadas pelo Hamas antes do acordo mais recente, também após mediação do Qatar. Em 20 de outubro, duas mulheres americanas foram soltas. Depois, no dia 23, mais duas mulheres, as primeiras israelenses, foram liberadas.
Além de permitir a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza, o acordo pode servir para desescalar a tensão no Oriente Médio. Reportagens na imprensa libanesa e na rede qatari Al Jazeera informam que o Hezbollah deverá se unir ao Hamas na trégua de quatro dias com Israel.
O grupo fundamentalista que domina o sul do Líbano entrou de forma comedida no conflito iniciado pelos aliados palestinos com o ataque terrorista de outubro, iniciando uma campanha de atrito com forças israelenses na faixa fronteiriça entre os dois países. Bombardeios de lado a lado são diários, e já morreram 70 combatentes do Hezbollah, 13 civis libaneses, 7 soldados e 3 civis israelenses.
Nesta quarta, houve novos ataques aéreos de Israel contra posições do grupo, cuja entrada com toda força no conflito era um dos maiores temores estratégicos de Tel Aviv, já que o Hezbollah é muito mais capaz do que o Hamas.
Isso não ocorreu por uma série de fatores, a começar pela ameaça dos EUA de intervir contra os libaneses a partir de seu grupo de porta-aviões no Mediterrâneo. O Líbano está em dificuldades econômicas, e o Hezbollah é ator político importante no país.
Na Faixa de Gaza, mais de 14 mil pessoas já morreram nas ofensivas israelenses, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas. As ações foram uma resposta aos ataques que provocaram a morte de ao menos 1.200 pessoas, a maioria civis, em solo israelense, segundo contagem de Tel Aviv.
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